É como se ver na porta de um cemitério e saber que lá repousam entes queridos. No caso, o fato de não serem pessoas físicas não alivia a perda. Foi o que senti há dias, ao passar diante da extinta Modern Sound, em Copacabana —a melhor loja de discos do mundo em seu tamanho, nem micro nem mega, até para os estrangeiros. Frequentei-a desde que abriu, em 1967, até o fim, em 2010. Somando os LPs, fitas cassete, VHSs, laser discs, CDs e DVDs que comprei lá, devo ter deixado o equivalente a um apartamento, e nunca me arrependi.
Vários motivos levaram à morte da Modern Sound, e não apenas o streaming, que fechou também as Towers e Virgins de Nova York, Londres e Paris. O fato é que morreu e foi substituída, primeiro, por uma loja de departamentos. Hoje ali é um supermercado. Em homenagem a Sacher-Masoch, resolvi entrar.
O antigo saguão, onde clientes e artistas se cruzavam e se abraçavam, é agora a seção de biritas e hortifrútis. As gôndolas laterais, onde ficavam o jazz e a música internacional de todas as épocas, acolhem alho frito, salsa desidratada, macarrões vários, ketchups e yakissobas. As gôndolas centrais, que ofereciam todo tipo de música brasileira, abrigam linguiças, nhoques, miniquibes e goelas de pato. Nas paredes do fundo, reduto da nobre seção de clássicos, está o açougue, com suas ofertas de frangos congelados, maminhas, buchos e mocotós.
No antigo piso rebaixado, à direita, onde ficava o Allegro Bistrô —palco de muitas das maiores noites de samba-jazz e sambalanço ao vivo da história do Rio—, as mesas deram lugar a prateleiras de produtos fascinantes como sapólios, desinfetantes e bactericidas. No lugar do bar, a seção de baldes e vassouras.
É sempre assim. Onde havia um cinema, não surge outro cinema, mas uma igreja. Onde havia um teatro, um banco. Uma livraria, uma farmácia. Uma loja de discos, um secos-e-molhados.
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