A preguiça é um dos vícios mais virtuosos da humanidade. Ela não apenas nos levou a grandes invenções poupadoras de trabalho, como o arado e o computador, mas também é uma das forças propulsoras da matemática. Marcus du Sautoy (Oxford), em "Thinking Better" (pensando melhor), define a matemática como a arte de encontrar atalhos e confessa que a foi preguiça que o levou a se tornar um matemático.
"Thinking Better" é um daqueles livros de divulgação matemática que se leem como romances. O autor pesca a atenção do leitor desafiando-o a resolver um problema e, enquanto o contextualiza e apresenta a solução, que invariavelmente envolve um atalho, dá aulas de história e matemática. Também dá pistas de como a questão pode ser generalizada para iluminar outros problemas tão ou mais interessantes que o original.
Fã ardoroso de Gauss, Du Sautoy dá um jeito de contrabandeá-lo para todos os capítulos, sem fechar as portas para outros gênios como Newton, Euler, Hilbert.
Os temas tratados vão do trivial de salão ao ambicioso. Ele ensina, por exemplo, que você, leitor, pode obter um aumento salarial de 15% se mudando para uma cidade cuja população seja o dobro da sua. É que, sempre que a população dobra, itens como salários, restaurantes, escolas, padarias não apenas dobram, mas experimentam crescimento de 15%. É claro que a fórmula não vale só para coisas boas. Congestionamentos, crimes e doença também aumentam em 15%.
Du Sautoy não se limita a nos municiar com historietas que fazem sucesso em papos de festa. Ele também arrisca uma explicação de poucas páginas de como o cálculo funciona e por que ele é um dos melhores atalhos já inventados. E descreve de forma quase inteligível a computação quântica, além de mostrar que, sem atalhos, nunca encontraremos solução para problemas hoje intratáveis, que demandam bilhões de anos de contas utilizando os melhores computadores disponíveis.
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