sexta-feira, 15 de setembro de 2023

CRISTIANO CIPRIANO POMBO Já dançou hoje na farra de dados? ,FSP

 Cristiano Cipriano Pombo

Se você tem celular, seja ele de que marca for, seja de que operadora for, seja de que prefixo do país for, certamente já recebeu a indigna chamada que do outro lado da linha diz apenas "Alô" e atira você para uma central qualquer de atendimento/vendas com "oportunidades incríveis".

Caso você ouse empreender formalmente, prepare-se, em menos de 24 h de seu CNPJ ativo, seu nome e número de telefone estarão na ponta da linha de um sem-fim de operadoras de créditos e bancos oferecendo "as melhores condições".

Pessoa utiliza telefone celular na avenida Paulista - Danilo Verpa - 14.out.2013/Folhapress

Agora, se a sua condição for dar entrada na Previdência Social para a obtenção de algum benefício que envolva aposentadoria, pensão por morte ou qualquer outro auxílio, certamente até os números de telefones fixos ligados a você serão alvos de incessantes ligações que se esmeram em passar "as aplicações mais rentáveis" e "consignados imperdíveis" de olho no dinheiro que a pessoa ainda nem viu chegar.

Até aqui não é preciso ser gênio para saber que alguém tem acessado dados que não deveriam ser públicos e que outrem de dentro de órgãos públicos —ou até comerciais, como farmácias— faz o repasse desses dados em pró de ganhos particulares.

Não bastasse isso há a desconfiança de que até seu telefone é "espião coletor de dados", pois, se falar qualquer coisa perto dele sobre comprar algo, a seguir redes sociais, buscadores e sites estarão entulhados com ofertas do seu objeto do desejo.

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Mas por que tudo isso?

Porque o Brasil, que foi um dos países pioneiros ao criar o Marco Civil da Internet, parece ter ficado para trás na vanguarda de proteção dos dados.

Senadores e membros da sociedade civil comemoram aprovação do Marco Civil da Internet após votação no Senado
Senadores e membros da sociedade civil comemoram aprovação do Marco Civil da Internet após votação no Senado - Joel Rodrigues - 22.abr.14/Folhapress

Ah, mas temos lei? Sim, a Lei Geral de Proteção de Dados, que fez cinco anos no mês passado e é importante para um ambiente cibernético seguro, mas, à primeira vista, não protege o cidadão desse assédio diário.

Menos mal que a Justiça, conforme informou Rômulo Saraiva nesta Folha, já decidiu que correspondentes bancários que depositarem dinheiro na conta de um idoso sem o pedido e a anuência dele, como empréstimo, perderão o dinheiro.

Mesmo assim imagino o quanto sofre quem perde documento ou é roubado, pois a vida certamente vira um inferno.

E não pense que assisti a essas ligações imóvel. Até para ajudar quem conheço, fui atrás de Reclame Aqui, Anatel, Não Me Perturbe. Mas lamento dizer que até agora foi em vão. Isso porque você pode até bloquear os números que infernizam sua vida, mas a operadora de telefonia não impede que sejam deixadas mensagens de voz com "Alô" em sua caixa postal.

Como cereja do bolo, após eu dizer a um amigo que eu precisava aprender a dançar, ao abrir um dos aplicativos no celular, eis que surge o anúncio-convite: "Já pensou em dançar hoje?". Respondi: "Sim, já estou dançando na farra dos dados". E, infelizmente, sei que não sou só eu.

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