quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Discussão delirante sobre casamento homoafetivo deveria envergonhar políticos, FSP

 


Uma audiência pública deve ser realizada na semana que vem para que depois seja votado o projeto de lei que pretende proibir o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. Hoje, as uniões são garantidas por decisão do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça.

Em 2019, o podcast que deu origem a este blog retratou o pânico que se instaurou em parte da comunidade LGBTQIA+ com a eleição de Jair Bolsonaro. Casais homoafetivos correram aos cartórios com medo de que as uniões fossem proibidas. A proposta vem agora, no governo Lula, a partir de um congresso que se diz conservador, mas que está mais para delirante.


A classe política realmente comprometida com os desafios reais do país deveria se envergonhar pelas falas de parlamentares, como a do deputado federal Pastor Isidório (Avante-BA), na sessão da Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara, nesta terça-feira (19). Ao dizer que "homem mesmo cortando a binga não vai ser mulher", ele foi acusado, corretamente, de transfobia pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP). Os evangélicos, cientes de que este é um país laico, também deveriam se posicionar diante deste cenário.

O texto do PL é um tipo de esculhambação com o eleitor brasileiro. O relator, deputado Pastor Eurico (PL-PE), quer que nenhuma relação entre pessoas do mesmo sexo se equipare ao casamento ou à entidade familiar. É uma alucinação querer legislar sobre o que é ou não família no país em que mais de 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai em 2022, segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais. Esta pauta, por exemplo, poderia ser vista com agilidade pelo parlamento brasileiro.

Deputados federais posicionados em bancada de salada de comissão da Câmara dos Deputados
Comissão da Câmara adia votação de relatório contra casamento de pessoas do mesmo sexo - Reprodução/TV Câmara

Parlamentares brasileiros queimam o dinheiro público numa Comissão da Câmara enquanto 2 milhões de meninas e meninos estão fora da escola em todo o país, estima o Unicef. Outra discussão urgente.

No mesmo Brasil de Brasília existe um Rio de Janeiro em que Heloísa foi baleada e morta pela Polícia Rodoviária Federal e Eloá foi assassinada com um tiro no peito enquanto brincava. Outro tema para o qual poderia ser direcionada alguma atenção por parte da classe política.

Fome, evasão escolar, violência e os efeitos nocivos de uma suposta guerra às drogas é que destroem as famílias, mas deputados eleitos pelo povo tentam combater fantasmas que eles mesmos inventaram. As famílias LGBTs existem, ainda que se institua qualquer lei desvairada. E essas famílias definitivamente não são um mal a ser combatido.

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