Uma audiência pública deve ser realizada na semana que vem para que depois seja votado o projeto de lei que pretende proibir o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. Hoje, as uniões são garantidas por decisão do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça.
Em 2019, o podcast que deu origem a este blog retratou o pânico que se instaurou em parte da comunidade LGBTQIA+ com a eleição de Jair Bolsonaro. Casais homoafetivos correram aos cartórios com medo de que as uniões fossem proibidas. A proposta vem agora, no governo Lula, a partir de um congresso que se diz conservador, mas que está mais para delirante.
A classe política realmente comprometida com os desafios reais do país deveria se envergonhar pelas falas de parlamentares, como a do deputado federal Pastor Isidório (Avante-BA), na sessão da Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara, nesta terça-feira (19). Ao dizer que "homem mesmo cortando a binga não vai ser mulher", ele foi acusado, corretamente, de transfobia pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP). Os evangélicos, cientes de que este é um país laico, também deveriam se posicionar diante deste cenário.
O texto do PL é um tipo de esculhambação com o eleitor brasileiro. O relator, deputado Pastor Eurico (PL-PE), quer que nenhuma relação entre pessoas do mesmo sexo se equipare ao casamento ou à entidade familiar. É uma alucinação querer legislar sobre o que é ou não família no país em que mais de 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai em 2022, segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais. Esta pauta, por exemplo, poderia ser vista com agilidade pelo parlamento brasileiro.
Parlamentares brasileiros queimam o dinheiro público numa Comissão da Câmara enquanto 2 milhões de meninas e meninos estão fora da escola em todo o país, estima o Unicef. Outra discussão urgente.
No mesmo Brasil de Brasília existe um Rio de Janeiro em que Heloísa foi baleada e morta pela Polícia Rodoviária Federal e Eloá foi assassinada com um tiro no peito enquanto brincava. Outro tema para o qual poderia ser direcionada alguma atenção por parte da classe política.
Fome, evasão escolar, violência e os efeitos nocivos de uma suposta guerra às drogas é que destroem as famílias, mas deputados eleitos pelo povo tentam combater fantasmas que eles mesmos inventaram. As famílias LGBTs existem, ainda que se institua qualquer lei desvairada. E essas famílias definitivamente não são um mal a ser combatido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário