SÃO PAULO
Lula sempre disse muita besteira, mas, nos últimos tempos, vem exagerando.
A proverbial torneirinha de asneiras foi aberta como reação de defesa. Para blindar-se de críticas por ter indicado para o STF um ministro que vem tomando decisões mais conservadoras do que a militância petista gostaria, Lula sugeriu que os votos dos juízes na corte máxima passassem a ser sigilosos. É verdade que transparência em relação às decisões tomadas, que é exigência moral e legal, não implica transparência no processo deliberativo. Outros tribunais constitucionais seguem outras fórmulas. Cass Sunstein tem ideias interessantes sobre isso. Mas os debates teóricos não legitimam Lula a sacar da algibeira uma proposta que afronta nossas tradições e com o indisfarçável propósito de poupar a si mesmo.
Em seguida, o presidente atribuiu o devastador terremoto no Marrocos às mudanças climáticas. Sei que cientistas discutem se fatores relacionados ao clima podem afetar placas tectônicas, até mesmo desencadeando os quase imperceptíveis tremores lentos. É líquido e certo, porém, que não têm impacto significativo sobre eventos sísmicos mais destrutivos como o que atingiu o país africano.
Por fim, Lula se enrolou com o Tribunal Penal Internacional (TPI). Achou que uma pessoa procurada pelo TPI só poderia ser presa no Brasil se ele, Lula, quisesse. Quando descobriu que não é bem assim, falou em retirar o Brasil do Tratado de Roma, que criou o TPI. Obviamente, também não compete só ao presidente denunciar tratados internacionais. Fazê-lo dependeria do Congresso e, no caso do Tratado de Roma, talvez nem isso, já que é possível interpretar que, uma vez ratificado, este se tornou cláusula pétrea da Constituição.
Se Lula insiste em falas de improviso, deveria antes bater os tópicos com um assessor, que, com uma rápida pesquisa no Google, já o pouparia dos piores vexames. Eu usei o Google para fazer esta coluna.
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