Num surto de sinceridade, o candidato a presidente aparece diante da câmera de TV e diz: "Eu sou um ladrão, um canalha, sou a pior escolha que você poderia fazer para a Presidência". Ele até perderia alguns votos, mas seus apoiadores mais entusiasmados diriam: "Eis aí um homem honesto. É preciso ter caráter admitir isso. É exatamente o tipo de pessoa que precisamos na Presidência".
A piada acima consta de "Mistakes Were Made (But Not by Me)" (erros foram cometidos, mas não por mim), de Carol Tavris e Elliot Aronson. A dupla analisa detalhadamente os mecanismos da dissonância cognitiva e o faz com um olho na política, que é um dos terrenos mais propícios para a ocorrência desse fenômeno.
A dissonância cognitiva foi proposta nos anos 50 por Leon Festinger, com o qual Aronson trabalhou. Ela se dá quando existe uma incoerência entre atitudes e comportamentos que julgamos adequados e a realidade. Esse choque pode ser mentalmente doloroso, daí que o cérebro se vale de subterfúgios para reduzir a distância entre o esperado e o verificado. São as autojustificativas.
O sujeito pode simplesmente fingir que não viu o dado que o incomoda. É o viés de confirmação em ação. Pode também recorrer a narrativas com o objetivo de reduzir a incongruência entre o esperado e o constatado. É a raposa da fábula de Esopo dizendo que as uvas que ela não consegue alcançar estão verdes. Outra possibilidade é agir como o eleitor da piada, subvertendo inteiramente a interpretação dos fatos. Embora menos frequente, também é possível admitir que estávamos errados e reajustar as crenças.
O livro não é exatamente novo. Sua primeira versão é de 2007, daí que abundam exemplos de autojustificativas usadas na invasão do Iraque pelos EUA. Mas a última edição ganhou um capítulo dedicado a Trump e seus seguidores. É impressionante como ele se adapta com modificações mínimas a Bolsonaro e seus asseclas.
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