terça-feira, 24 de maio de 2022

Tudo pela Câmara é nova lógica dos partidos, Hélio Schwartsman - FSP

O tucano João Doria viu que, por sabotagens internas, não teria a menor condição de disputar a Presidência e desistiu de concorrer. Simone Tebet, do MDB, pode ser a próxima. A candidatura do pedetista Ciro Gomes parece mais sólida. Mas, se também ele pular fora, ficam grandes as chances de vermos a contenda entre Lula e Bolsonaro resolver-se em turno único.

João Doria (PSDB) ao anunciar sua desistência de concorrer ao Planalto, com a esposa, Bia Doria, e o presidente do PSDB, Bruno Araújo, ao fundo
João Doria (PSDB) ao anunciar sua desistência de concorrer ao Planalto, com a esposa, Bia Doria, e o presidente do PSDB, Bruno Araújo, ao fundo - Eduardo Knapp/Folhapress

Não é, porém, o segundo turno que eu gostaria de discutir hoje, mas a redução do apetite dos partidos por lançar postulantes ao cargo máximo. Até 2014, a sabedoria convencional sugeria que legendas que não estivessem numa coligação com chances reais de chegar ao poder deveriam, sim, lançar um cabeça de chapa. Os custos de fazê-lo não eram tão elevados e a propaganda eleitoral gratuita funcionava como uma vitrine para lançar/popularizar quadros e aumentar a visibilidade da sigla.

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Uma série de mudanças nas regras eleitorais nos últimos anos alterou a lógica da disputa. Primeiro o STF proibiu as doações de empresas a candidatos. Com isso, parlamentares que tinham esquemas já estabelecidos com firmas para financiar suas campanhas passaram a depender das verbas públicas distribuídas pelo partido. Candidatos a presidente, que antes podiam ser bancados ao menos parcialmente por empresas, começaram a concorrer pelos mesmos recursos.

O brutal aumento dos fundos eleitorais, repartidos conforme o desempenho de cada partido na disputa pela Câmara, aliado ao fim das coligações proporcionais, agudizou essa tendência. Hoje, os incentivos são para que as legendas apostem tudo em fazer grandes bancadas na Câmara, mesmo que pelo sacrifício de outros cargos. E os parlamentares estão entrando tão pesadamente nesse jogo, recorrendo até a expedientes de duvidosa legalidade, como o orçamento secreto, que meu receio é que assistamos a uma redução da competição eleitoral na Câmara, o que significaria um retrocesso democrático.

 

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