terça-feira, 10 de maio de 2022

Soninha Francine quer implantar campings para moradores de rua em SP, OESP

 A convite do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Soninha Francine assumiu a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania no início do mês e pretende criar campings para acomodar moradores em situação de rua. É um projeto que vem sendo estudado pela ex-vereadora há algum tempo e já foi envolvido em polêmica.

"Não é uma novidade, não é uma ideia atrevida da minha cabeça, é um demanda que vem de diversos movimentos da população em situação de rua. É mais um modelo de acolhimento emergencial, não é substituição. Também temos a visão a médio prazo de substituir os albergues gigantes por repúblicas. A população de rua tem características diferentes. Onde a pessoa vai parar a carroça dela? Precisamos pensar em tudo isso", disse ao Estadão.

A secretária de Direitos Humanos e Cidadania imagina cada espaço de camping com cerca de 30 barracas. A ideia é criar na cidade vários pontos com pequenos acampamentos. Cada espaço teria banheiro, chuveiro, local adequado para lavar roupa e também para fazer refeições. Outro ponto importante seria proporcionar conforto térmico, pois no inverno paulista a população em situação de rua sofre muito com o frio.

A proposta de camping para moradores em situação de rua se juntaria a outros projetos que já existem como aluguel social, vagas em quartos de hotéis ou de apartamentos para receber uma população estimada em cerca de 31 mil pessoas que não tem onde morar na cidade de São Paulo - número que aumentou durante a pandemia de covid-19. Em alguns bairros da cidade, houve aumento significativo da população em situação de rua nos últimos meses. Moradores da Vila Leopoldina, na zona oeste, já reclamaram na Prefeitura sobre essa situação.

Ex-secretária municipal de Assistência Social, Soninha conta que vinha debatendo o tema com entidades e organizações e chegou a pesquisar modelos fora do País, como em Seattle, nos Estados Unidos, ondem foi construído um camping em um estacionamento descoberto. "Em Salto, no interior paulista, fizeram um super emergencial, transitório para a época de frio. Ali, as pessoas tinham acesso a banho quente e um lugar para passar a noite", comentou.

A proposta de camping para moradores em situação de rua chegou a ser debatida em 2017, na gestão do então prefeito João Doria (PSDB), mas foi logo recusada naquele momento. Depois, com Bruno Covas, o tema foi novamente analisado, mas contou com fortes críticas de que era uma "institucionalização da miséria". Agora, Soninha espera que o tema seja apreciado pelo atual prefeito.

ESTRUTURA

O camping receberia visitas frequentes dos profissionais de saúde e assistência social. Outro ponto que Soninha quer colocar no debate é a possibilidade de ter um espaço para cozinhar. "Isso faz falta nos serviços convencionais. A pessoa precisa ter a possibilidade de poder escolher o que vai comer. Acho que podemos pensar no modelo de cozinha comunitária", diz a ex-apresentadora e comentarista.

Ela reforça que existe uma demanda dos movimentos sociais e organizações dos moradores em situação de rua para que possam ter mais flexibilidade no acolhimento. "As regras nos abrigos muitas vezes se assemelham a de colégios internos. Por regra, a luz apaga 22h e a televisão é desligada. Estamos falando de adultos. Tem gente que aproveita shows ou jogos de futebol para pegar latinhas à noite e aí não tem onde ficar", afirma.

Soninha imagina que esses acampamentos poderiam até funcionar como algumas ocupações nas quais as pessoas se revezam na portaria e na limpeza, cuidando do ambiente. "O camping tem uma característica que pode preservar os arranjos familiares ou até de amizade que eles têm nas ruas. Em abrigos, fica mulher de um lado, homem de outro. Então, vejo como uma das vantagens a possibilidade de atender pessoas que não se encaixam no modelo de acolhimento que temos hoje."

No começo da pandemia, foi discutido um modelo de camping que custaria R$ 100 mil por mês. Mas, Soninha entende que agora esse valor será bem mais baixo e estima que, com esse montante, será possível manter um espaço deste tipo por cinco ou seis meses. "Como a gente ainda precisa aprovar o conceito, eu ainda não estou com os números exatos. Caso o prefeito dê a permissão, gostaria de implantar um projeto piloto", explica.

Ela também quer ajudar a aprimorar o acompanhamento a usuários de drogas em fase de reabilitação. Soninha entende que é necessário ter mais profissionais presentes ao lado dos dependentes.

"A gente precisa desenhar esse fluxo, que envolve município e Estado. Dar sequência ao atendimento a uma pessoa recém saída do tratamento por abuso de droga. A gente precisa criar esse modelo de acompanhamento intensivo de pessoas que já estão estabilizadas e mais organizadas. Precisaria ter equipe multidisciplinar para acompanhar 10 ou 15 pessoas. Precisa ter vínculo e ser intensivo, com o pessoal da saúde e com a assistência social, com novos protocolos", avisa.

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