terça-feira, 10 de maio de 2022

O QUE A FOLHA PENSA Meta no lixo

 Em pleno ano de 2022, cerca de metade das cidades brasileiras ainda faz o descarte do lixo em locais inapropriados, o que dá a medida do fracasso do país nessa área.

Segundo dados da Abrelpe, associação que reúne empresas do setor de coleta, nada menos que 2.868 municípios depositam seus resíduos de forma inadequada, seja nos famigerados lixões, seja em aterros sem nenhum preparo para impermeabilização do solo.

PUBLICIDADE

Embora a extinção desses espaços insalubres conste da reduzida lista de promessas do governo Jair Bolsonaro (PL) na área ambiental, o ritmo em que isso vem ocorrendo torna pouco factível a meta de eliminá-los até 2024.

De 2018 a 2020, apenas 133 novas cidades passaram a utilizar os aterros sanitários, que contam com proteção do solo, captura do chorume e controle dos gases produzidos. Mantido esse ritmo, serão necessárias mais quatro décadas para que os lixões desapareçam.

O progresso atual chega a ser mais lento do que o verificado de 2017 a 2018, quando o número de municípios com destinação inadequada de resíduos diminuiu de 3.352 para 3.001.

Baseado em números de uma entidade com a qual tem parceria, a Abetre (não da Abrelpe, considerada referência no setor), a gestão Bolsonaro alega que a redução vem se dando em ritmo mais célere.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 645 desses depósitos foram encerrados desde 2019; faltariam ainda 2.612. Mesmo se a métrica utilizada for essa, entretanto, a meta governamental não seria atingida antes da próxima década.

Tudo somado, constata-se que têm sido pífios os resultados do programa Lixão Zero, lançado em 2019 pelo então ministro Ricardo Salles —que, ao priorizar a agenda ambiental voltada às cidades, deixava em segundo plano o descalabro que se abatia sobre a Amazônia.

A inépcia demonstrada pelo governo Bolsonaro, infelizmente, tem sido a norma no Brasil quando se trata do descarte de detritos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos instituída em 2010 determinava o fim dos lixões até 2014. Avançou-se pouco, porém, e em 2020 o marco do saneamento estendeu esse prazo para 2024.

Mais uma vez, porém, tudo indica que esse limite será descumprido —e o país seguirá amargando, no ano em que completa o bicentenário da Independência, sua vergonhosa incapacidade de solucionar uma questão tão básica.

editoriais@grupofolha.com.br


Nenhum comentário: