Quando foi lançado em 1986, "Top Gun" provocou um pequeno fenômeno militar. A Marinha dos Estados Unidos registrou um aumento de 500% na procura por recrutamento para seu braço de aviação —que tem na escola homônima do filme a sua casa de elite.
Naquele ano, o misto de propaganda militarista e romance edulcorado usou o que havia de melhor à disposição dos marinheiros em seus porta-aviões: o caça naval F-14 Tomcat, que protagonizou cenas antológicas para os apreciadores de imagens aéreas.
Trinta e seis anos depois, a sequência também estrelada por Tom Cruise, "Top Gun: Maverick", curiosamente não traz como protagonista voador o caça mais avançado da Marinha, o F-35C Lightning 2. Em seu lugar, o confiável F-18 Super Hornet, veterano de todas as guerras americanas desde 2001, com 598 unidades operadas pela Força.
O Super Hornet só não foi comprado pelo Brasil em 2013 porque os americanos resolveram espionar Dilma Rousseff (PT). Ele é um caça posicionado entre a chamada quarta geração, pontificada nos EUA pelo Tomcat, F-15 Eagle e outros, e a quinta simbolizada no país pelo F-22 Raptor e pela mais recente família F-35.
Esses são aviões que incorporam elementos de furtividade ao radar, ganhando o apelido enganoso de "invisíveis", tecnologia de fusão de dados e de voo supersônico sustentado. Os EUA querem comprar 2.456 F-35 em três versões, mas aviões como o F-18 voarão talvez por duas décadas ou mais.
O motivo da escolha do filme pode ser prosaico: como a produção queria cenas aéreas reais e em Imax, precisavam de aviões de dois lugares —Cruise diz que tentou, mas foi proibido de aprender a voar num F-18, brinquedo de US$ 70 milhões a unidade. O F-35C é um avião monoposto, enquanto o Super Hornet vem nas duas configurações.
Mas pode ser também uma adição de realismo, já que o grosso da frota da Marinha é de F-18 —ela só tem 35 F-35C em seus porta-aviões de propulsão nuclear. O modelo teve diversos atrasos de produção devido às suas especificações: é maior e mais pesado do que os irmãos F-35A (Força Aérea) e B (Fuzileiros Navais).
Ele entrou em ação em agosto passado com o porta-aviões USS Carl Vinson, apenas para ver um dos aviões cair no mar no começo deste ano.
A produção de "Top Gun: Maverick" foi até um desses navios gigantes para filmar cenas que, presumivelmente, terão o novo caça de US$ 100 milhões como coadjuvante. Cruise e seus comandados em missão secreta voarão em F-18 e terão a companhia em dado momento de um velho F-14.
Nos teasers e fotos de divulgação da produção, o Tomcat aparece com uma insígnia de Força Aérea ficcional. Aposentados nos EUA em 2006, eles só são operados pelo arquirrival americano Irã, que tem cerca de 40 voando desde o tempo anterior à Revolução Islâmica de 1979.
Num dos filmetes, contudo, o F-14 aparece abatendo nada menos do que um Sukhoi Su-57 Felon, ou ao menos um avião de efeitos especiais idêntico ao caça mais avançado da Rússia. É um avião de quinta geração, sabe-se lá a serviço de quem na ficção, já que há apenas três deles operacionais. Aparentemente, é pintado como uma grande ameaça, contrariando sua fama de produto problemático.
Outra criação de computação gráfica é o SR-72 Darkstar, projeto secreto de um avião hipersônico. Assim como o Su-57, são modelos realistas: no primeiro filme, o inexistente MiG-28 (na realidade, o Ocidente o conheceria como MiG-29) soviético foi encarnado por pequenos caças táticos F-5 americanos, pintados de preto e com as estrelas vermelhas nas asas. Dava para o gasto para adolescentes nos anos 1980.
Como se vê, há uma mistura de passado e futuro no elenco com asas de "Top Gun: Maverick", e os mais nostálgicos saem vencedores.
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