quinta-feira, 26 de maio de 2022

Efeito Datena trava acordo, e Lula busca França para resolver palanque com Haddad, FSP

 Victoria Azevedo

SÃO PAULO

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer buscar, em um encontro com o ex-governador Márcio França (PSB), a solução final do imbróglio sobre uma chapa única do campo da esquerda na disputa ao Palácio dos Bandeirantes. A reunião deve ocorrer nesta quinta-feira (26) em São Paulo.

O PT defende a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad, que lidera as pesquisas de intenção de voto no estado, enquanto França resiste à ideia de desistir —e diz que seguirá candidato.

      O ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB) reunidos
O ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB) reunidos - Arquivo pessoal/19.11.2021

Segundo a Folha apurou, Lula tem afirmado que espera que a reunião com o ex-governador seja definitiva e apresente, enfim, uma resolução para essa questão.

A previsão é que, além de Lula e França, participem também do encontro o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice do petista na chapa presidencial —Haddad não deverá acompanhar.

Na tentativa de atrair o apoio de França, petistas teriam oferecido duas vagas na chapa majoritária ao PSB: a vice e o Senado, que estaria reservada para França.

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A avaliação entre petistas e pessebistas, no entanto, é que um fator que pesa na decisão do ex-governador é a possível candidatura de José Luiz Datena (PSC-SP) para o Senado. Isso porque, nessa avaliação, a candidatura do apresentador seria competitiva e um risco para França.

Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira diz que Lula afirmou em almoço com presidentes dos partidos da coligação, na segunda (23), que iria buscar França. Para ele, há um esforço para tentar unificar os palanques.

"Ainda temos esperança que seja um palanque só", afirmou.

Siqueira diz ainda que o critério para definir qual dos dois candidatos deve manter a candidatura é "político" —e refuta a realização de pesquisa, instrumento defendido por França. "Critério para mim é sempre político. Tenho pavor dessa história de pesquisa", disse.

presidente do PT em São Paulo, Luiz Marinho, também afirma não ver necessidade de realizar uma nova pesquisa, diante da liderança consolidada de Haddad em uma ampla variedade delas.

"Creio que o melhor é a gente somar esforços numa candidatura única para o estado e o Senado", diz. "Temos tudo para eleger a vaga do Senado desde que se lance uma liderança consolidada como a do Márcio França".

No começo do mês, em sabatina da Folha e do UOL, França prometeu sua candidatura até o fim se acordo com PT naufragasse. "Se não houver acordo, vamos com a candidatura até o fim", afirmou. "Se eles não toparem a [definição por] pesquisa, nós teremos duas candidaturas."

O ex-governador argumenta que sua campanha teria mais facilidade do que a do ex-prefeito Haddad em atrair eleitores refratários à esquerda.

Um interlocutor de França afirma que ele está com vontade de disputar o Executivo estadual e que joga com o tempo para ver se consegue pontuar melhor nas pesquisas —e, por isso, gostaria de esticar o prazo de decisão para julho.

Ele ressalta, no entanto, que há pontos que pesam contra a permanência do ex-governador na disputa.

Entre eles o fato de o PSB não estar coligado com ninguém no estado, a tendência de crescimento nas pesquisas do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), e o peso da máquina estadual na candidatura do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB).

Além do risco de queda de França nas pesquisas, o peso financeiro da campanha em um partido de tamanho médio como o PSB, com campanhas importantes também no Maranhão, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco pela frente, não é algo a ser desconsiderado.

Petistas ouvidos afirmam que, por parte da legenda, há disposição para que as candidaturas sejam unificadas, que a sigla tem evitado entrar em embates com França e que respeita a candidatura do pessebista.

"Quem aposta no entendimento não precisa ficar cutucando o outro" afirmou um membro do partido, sob reserva.

Há o entendimento de que é preciso uma resolução rápida, até mesmo para acomodar demais partidos que pretendem apoiar Haddad na chapa majoritária, como o PSOL —partido que, por sua vez, ainda precisa discutir internamente se irá apoiar ou não o petista.

O núcleo de Haddad tem visão menos otimista e acredita que a tendência é que França concorra mesmo ao Governo de São Paulo.

A avaliação é baseada nos sinais emitidos por França de que pretende insistir na candidatura, apesar de haver o entendimento da existência de esforços de um grupo importante do PSB a favor de que se chegue a um acordo.

Com França na corrida eleitoral, o ex-governador Geraldo Alckmin tem afirmado a interlocutores que não faria campanha para Haddad no primeiro turno.

O grupo que atua junto ao ex-prefeito minimiza esse fato e diz que, em 2012, a ex-presidente Dilma Rousseff apoiou seu nome para a Prefeitura de SP e o então vice-presidente Michel Temer apoiou o candidato Gabriel Chalita, sem efeitos colaterais.

Apesar disso, não haveria um clima ruim entre ambas as candidaturas. Em eventual cenário de manutenção dos dois nomes, será mantido um debate propositivo sem ataques ou gestos que possam azedar o clima na aliança nacional entre as siglas, avaliam os petistas.

Em fevereiro, Lula e França se reuniram para tratar da disputa estadual. Naquele momento, o ex-governador defendeu que ele e Haddad chegassem a um entendimento por meio de uma pesquisa, que seria realizada em maio, para evitar que ambos fossem candidatos em outubro.

A ideia da pesquisa, no entanto, não avançou.

O impasse entre as candidaturas de Haddad e França já se arrasta desde o ano passado. Durante as negociações que acabaram definindo a chapa Lula-Alckmin, França foi questionado por Haddad sobre a eleição paulista.

O ex-governador respondeu que São Paulo estaria "resolvido". Haddad entendeu que o pessebista retiraria seu nome. França diz que não falou nesse sentido.

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