Jair Bolsonaro tem um palpite sobre o resultado da eleição presidencial deste ano. Ele acha que vai perder.
Se não achasse, não estaria anunciado o golpe desde já.
Não seria melhor, para um golpista, ser reeleito legitimamente e, só então, iniciar a ofensiva contra as instituições? Essa tem sido a regra entre os novos autoritários. Enquanto dá para vencer dentro das regras, eles fazem barulho, mas se mantêm na institucionalidade. É quando começam a perder que começam a radicalizar.
Vejam a virada que fez Chávez depois de perder o plebiscito de 2007, por exemplo; ou a invasão do Capitólio pela turma de Trump, que só passou a fazer sentido quando ficou claro que Trump perderia.
Jair não tem, naturalmente, certeza de que vai perder. Como já escreveu mestre Janio de Freitas, pode estar tentando um golpe agora para se precaver de ter que tentá-lo já derrotado pelas urnas.
Mesmo nesse caso, entretanto, a dúvida é suficiente para que Jair antecipe o projeto e gaste com ele meses que seriam preciosos se a prioridade fosse fazer uma campanha eleitoral normal.
É arriscadíssimo sinalizar para seus aliados nos estados que você acha que vai perder. O número de candidatos a governador bolsonaristas tentando estabelecer tréguas com Lula certamente não é um bom sinal para o Planalto.
Demonstrar medo de perder é dar a partida na fuga dos oportunistas, que foram fundamentais para a vitória de Bolsonaro em 2018.
Sua disparada de final de primeiro turno só aconteceu quando os aliados de Alckmin perceberam que o PSDB ia perder. Na mesma hora, migraram em massa para Bolsonaro, levando com eles máquinas políticas locais importantes. O vídeo de Edir Macedo mudando de candidato foi um momento importante desse processo.
Ou seja, muita gente que ganhou com Bolsonaro em 2018 só estava lá porque o Jair ia ganhar. Se o Jair for perder, eles vão embora sem deixar recado. Se quiserem procurar outro candidato, o próprio Alckmin está em uma das chapas.
Se Bolsonaro acha uma boa ideia assustar esse pessoal, é porque acha mesmo que vai perder.
Ele tem razão? É difícil saber.
Sua situação não é muito confortável. Continua atrás nas pesquisas, estagnado há algumas semanas. Seus índices de aprovação são piores do que os dos presidentes que se reelegeram. A inflação segue alta e não há nenhuma perspectiva de boas notícias vindas da área econômica. Não sabemos se o efeito do Auxílio Brasil já está precificado nos números atuais.
Por outro lado, Bolsonaro tem a máquina do governo na mão, dinheiro e cargos para distribuir. Graças a isso, acaba de conquistar de uma grande vitória política: a destruição da terceira via.
Diante desse quadro, os analistas políticos ainda evitam cravar o resultado da eleição, mesmo quando atribuem favoritismo a Lula. Jair Bolsonaro vai mais longe e já aposta que vai perder. Por isso já anuncia seu golpe, correndo o risco de que sua profecia se autorrealize.
Pessoalmente, eu estaria mais feliz com o pessimismo de Bolsonaro se seus diagnósticos como presidente não tivessem se revelado tão desastrosamente errados. Espero que Bolsonaro seja melhor analista eleitoral do que foi presidente da República. Tomara que nessa você esteja certo, Jair. Seria a primeira vez.
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