Atualizado: 7.mai.2022 às 16h29
A Irlanda do Norte assiste neste sábado (7) àquilo que analistas locais descreviam como uma mudança sísmica no país. O Sinn Féin, antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), conquistou a maior fatia da Assembleia regional e, assim, tornou-se a principal força política da nação de 1,9 milhão de habitantes.
O peso do anúncio se dá pelo fato de o partido ser o primeiro de viés nacionalista a obter controle desde que o país foi formado, há 101 anos, em 1921. Lideranças partidárias já indicaram o assunto que deve dominar a política local: pediram um "debate honesto" sobre a unificação com a República da Irlanda, principal bandeira do Sinn Féin.
Com a apuração prestes a ser finalizada, a sigla liderada por Michelle O'Neill conquistou 27 assentos, empurrando o Partido Unionista Democrático (DUP) para o segundo lugar, com 24 —a assembleia tem 90 assentos, e os restantes estão distribuídos entre partidos menores.
O'Neill descreveu os resultados como um momento decisivo para a política e para o povo. "Hoje se inaugura uma nova era que, acredito, apresenta a todos nós uma oportunidade de reimaginar as relações nesta sociedade com base na igualdade e na justiça social", seguiu.
O Sinn Féin obteve 29% dos votos de primeira preferência dos cidadãos para o Parlamento —no país, o eleitor deve apontar seu principal candidato e também assinar nomes de reserva—, enquanto o DUP obteve 21,3%, uma queda de sete pontos percentuais em relação à eleição de 2017.
Durante a campanha, a legenda, de maneira tática, não insistiu na pauta da unificação irlandesa, concentrando-se em questões relacionadas ao custo de vida e à crescente fila de espera no sistema de saúde, estratégia que parece ter surtido efeito nas urnas.
A lei da Irlanda do Norte costurada após o histórico Acordo de Belfast —também conhecido como Acordo da Sexta-feira Santa—, assinado em 1998 para pôr fim aos confrontos na região, afirma que o país é parte do Reino Unido e não deixará de sê-lo sem o consentimento da maioria da população. Acrescenta que uma votação deve ser realizada caso a maior parte da sociedade desejasse unir-se à República da Irlanda.
A vitória do Sinn Féin, por óbvio, não muda o status da região, já que possíveis referendos demorariam anos até serem estruturados e acordados com o Reino Unido, mas tem peso simbólico.
Embora o maior partido tenha o direito de apresentar o candidato a primeiro-ministro —e O'Neill é a mais cotada—, o governo de compartilhamento obrigatório do país exige que haja acordo mínimo com o DUP, de modo que a oposição indique o nome para vice-premiê. Assim, formar o Executivo é tarefa que pode demorar meses.
Emendas feitas à Constituição em fevereiro para evitar um possível colapso da assembleia, como aconteceu em 2017, dão aos eleitos até quatro janelas de seis semanas —24 semanas no total, ou seis meses— para consolidar um governo. Os ministérios são distribuídos entre as siglas, de acordo com a fatia de cada uma nas eleições.
O líder do DUP, Jeffrey Donaldson, afirmou que um acordo com o Sinn Féin estaria condicionado com uma total revisão do polêmico protocolo que rege o comércio do país com o resto do Reino Unido desde a saída da União Europeia (UE), com o brexit.
Questionada por um jornalista da rede britânica BBC sobre se esperava se tornar a pioneira primeira-ministra nacionalista, O'Neill disse apenas: "Foi o que as pessoas disseram".
A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, que também lidera uma campanha pela independência do país do Reino Unido, foi uma das primeiras a parabenizar o Sinn Féin. Em uma rede social, ela descreveu o resultado das eleições como "verdadeiramente histórico".
O secretário de Estado da Irlanda do Norte, Brandon Lewis, pediu que as partes formem um governo o mais rápido possível. "O povo da Irlanda do Norte merece um governo local estável e responsável que atenda às questões que mais importam para eles", afirmou.
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