As comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil podem ter um pedido inusitado por parte das autoridades brasileiras: o empréstimo do coração de dom Pedro 1º, atualmente guardado em uma igreja do Porto, no norte de Portugal.
A possibilidade foi revelada pelo embaixador brasileiro George Prata, um dos coordenadores do programa de comemorações do bicentenário, à Agência Lusa. Ele disse que, por causa da importância atribuída à figura do imperador por ambos os países, foram iniciadas "conversações preliminares para explorar a possibilidade da transladação temporária do coração de dom Pedro para o Brasil".
O embaixador ressalvou que ainda não houve pedido formal, mas que falou sobre o assunto com representantes da Câmara Municipal do Porto e da igreja onde está o órgão.
"Isso ainda está num estado inicial e há considerações a serem tomadas. Talvez a mais importante delas seja o estado de conservação do coração e saber se ele poderia ser transladado temporariamente para o Brasil", completou o diplomata.
Segundo ele, os portugueses teriam acolhido bem a ideia. No entanto, a proposta só será formalizada se a viabilidade técnica do empréstimo e transporte do órgão ao Brasil for confirmada.
Questionado pela Folha sobre o assunto, o Itamaraty disse apenas que "iniciou conversações com autoridades portuguesas para examinar a possibilidade de traslado temporário", no contexto das celebrações do bicentenário da Independência, e confirmou que contatou a Câmara do Porto e a Irmandade de Nossa Senhora da Lapa.
O coração do imperador está guardado, sob a proteção de cinco chaves e com várias camadas de resguardo, na igreja da Lapa, e sua fragilidade faz com que as autoridades limitem bastante o manuseio. A última exibição pública do coração, que está conservado em formol e pode ser visto através de um vidro, aconteceu há sete anos, para a gravação de um documentário.
As precauções atuais não estiveram sempre em vigor. Durante muito tempo, era comum que o órgão fosse exibido a autoridades brasileiras em visita a Portugal.
Embora o corpo do primeiro imperador brasileiro esteja no parque da Independência, no complexo do Museu do Ipiranga, em São Paulo, o coração permaneceu no Porto a pedido do próprio, que expressou o desejo em seu testamento. O gesto foi um reconhecimento ao papel que a cidade teve na luta que dom Pedro travou com os exércitos de seu irmão mais novo, dom Miguel, pelo trono de Portugal.
Após abdicar do trono brasileiro em abril de 1831, menos de uma década após a Independência, ele partiu de volta para a Europa com o objetivo de reconquistar a coroa portuguesa para sua filha, Maria da Glória, reconhecida como herdeira legítima pelas monarquias europeias.
As tropas absolutistas, de dom Miguel, e as liberais, de Pedro, travaram uma sangrenta guerra civil em Portugal. Mesmo sitiada por mais de um ano, a cidade do Porto resistiu aos ataques e foi essencial para a vitória do exército liderado por Pedro 1º.
Debilitado pelos ferimentos da guerra, ele morreu de tuberculose poucos meses após o fim do conflito, em setembro de 1834, aos 35 anos. Primeiro imperador do Brasil, o governante é conhecido pelos brasileiros como Pedro 1º, enquanto em Portugal é chamado de dom Pedro 4º.
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