O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, exonerado nesta quarta (11) pelo presidente Jair Bolsonaro, resistia ao projeto bilionário que prevê a construção de gasodutos pelo país.
A proposta, patrocinada pelo centrão, tem um custo de R$ 100 bilhões e é polêmica por beneficiar diretamente Carlos Suarez, ex-sócio da empreiteira OAS e conhecido como o "rei do gás".
O empresário e seus sócios são hoje os únicos donos de autorizações para distribuir gás em oito estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Ele possui ainda quatro autorizações para a construção de redes de gasodutos. Mas precisa de recursos para bancar os dutos que conectariam regiões isoladas onde está o gás com grandes centros, onde estão seus potenciais clientes.
A movimentação do centrão foi antecipada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmada pela coluna.
O projeto é antigo –e polêmico. Por isso, desde 2015 está travado na Câmara dos Deputados, por falta de consenso sobre como criar um fundo que financie as obras bilionárias.
O centrão agora pretende retirar R$ 100 bilhões da exploração do pré-sal que iriam para o Tesouro Nacional e direcioná-los para as obras.
A ideia seria apresentar uma emenda de última hora no projeto de lei que discute a modernização do setor elétrico. Pela possibilidade de ser aprovada sem maiores discussões ela foi apelidada de "jabuti", que não sobe em árvore. Se está em uma delas, ou foi enchente ou foi mão de gente, diz o ditado.
A manobra já teria sido combinada com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Bento Albuquerque resistia à ideia, e afirmou a autoridades de Brasília que não aceitaria o pacote da forma como estava sendo fechado no Congresso.
O então ministro negociava uma regra para garantir que a construção do gasoduto estaria condicionada a valores e condições de mercado. E que apenas andaria com o aval do Ministério das Minas e Energia.
A saída repentina dele da pasta está sendo creditada, num primeiro momento, aos aumentos de combustíveis patrocinados pela Petrobras, e que entraram no alvo do presidente Jair Bolsonaro.
O fato de Bento Albuquerque ser substituído por Adolfo Sachsida, homem de confiança do ministro Paulo Guedes, da Economia, no entanto, já leva autoridades de Brasília a ficarem em dúvida sobre a verdadeira motivação de Bolsonaro.
Sachsida era assessor especial de Assuntos Estratégicos do ministério de Paulo Guedes, que sempre reafirma posições de não intervenção no mercado. Não seria um ex-auxiliar dele, portanto, a intervir de maneira direta nos preços da Petrobras.
A equipe econômica tem se posicionado contra um subsídio direto ao preço dos combustíveis, por exemplo, por avaliar que a medida custaria caro e teria pouco efeito nas bombas.
A questão do gasoduto, portanto, também poderia ter contribuído para a queda, na visão de interlocutores do próprio Bento Albuquerque.
Bolsonaro, que pretende buscar a reeleição neste ano, tem criticado a política de preços da Petrobras. Na quinta-feira (5), o presidente afirmou que o lucro de R$ 44,5 bilhões da companhia no primeiro trimestre deste ano é um "estupro" e um "absurdo".
"Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem aumentar mais o preço do combustível", disse durante sua live semanal.
O novo reajuste deflagrou uma nova onda de pressões sobre o governo para o lançamento de medidas para conter o preço dos combustíveis em ano eleitoral.
Nos últimos dias, técnicos do governo voltaram a discutir possíveis soluções, entre elas o uso de dividendos pagos pela Petrobras à União para atenuar a alta dos preços nas bombas, mas não há ainda uma definição.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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