terça-feira, 24 de maio de 2022

“Mundo não precisa escolher entre crise energética e climática”, diz diretor da IEA, Diálogos da Transição

 

O mundo não precisa escolher entre uma crise energética e uma crise climática. Nós podemos resolver ambas com investimento certo”, resumiu Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) nesta segunda (23/5) durante o Fórum Econômico Mundial.
 
Reunidos em Davos, na Suíça, CEOs globais vão discutir ao longo da semana a recuperação pós-pandemia, crise climática e as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia – entre elas o fornecimento de energia.
 
Os organizadores não convidaram empresas ou representantes russos diante das sanções impostas ao regime de Vladimir Putin.
 
Segundo Birol, resolver o problema da segurança energética é uma das grandes prioridades, especialmente em países emergentes, mas é preciso ter em mente que um dos motivos dos altos preços da energia está também atrelado aos resultados da emergência climática – que tem levado a eventos extremos em diferentes partes do planeta.
 
"Precisamos de combustíveis fósseis no curto prazo, mas não vamos obstruir o nosso futuro usando a situação atual como desculpa para justificar alguns dos investimentos que estão sendo feitos", diz Birol.

    É uma sinuca: como investir para superar os choques no mercado de óleo causados pela guerra de Putin e, ao mesmo tempo, aprovar esses novos projetos sem o risco dessa infraestrutura prolongar o uso de combustíveis e a geração de energia de alta emissão de carbono?
     
    Algumas ideias de Davos:

    • Investir mais nas novas instalações de óleo e gás, agora, para colocar de pé uma infraestrutura que seja pensada para novos combustíveis, a exemplo da interface possível entre gás natural e GNL e a movimentação global de hidrogênio e o suprimento da Europa.
       
    • Substituir a oferta da Rússia com óleo e gás de rápido desenvolvimento, sem aprisionar recursos em novas descobertas de longo prazo. Isto é, extrair o máximo e o mais rápido possível de campos existentes e do shale, para reequilibrar o mercado.
       
    • Acelerar as metas de controle do metano. Quase dois terços da emissão do metano (IEA, 2020) estão na cadeia de produção do gás natural, o que prejudica a venda do combustível como fonte ótima de transição.
       
    • Petróleo neutro, por que não? Em um curtíssimo espaço de tempo, marcado pelas duas crises simultâneas, da covid-19 e da guerra na Europa, Davos migra do debate sobre o fim da exploração de novas reservas para seriamente discutir a perpetuidade da indústria de óleo, sem fuga de metano e com captura de carbono. 
       
    • Gerar energia localmente. O futuro da globalização está presente em boa parte das discussões na abertura do Fórum Econômico Mundial, em uma edição marcada pela guerra na Europa. “Desglobalização” e “Guerra Fria” são alguns dos termos inevitáveis em Davos, ainda que usados com cautela pelos porta-vozes das grandes economias liberais.

      Para energia, significa reduzir alguma dependência externa, com geração a partir de eólicasolar e nuclear, que antes mesmo da guerra, já deixava de ser um tabu na Europa. E bioenergia, para deslocar o óleo e o gás em economias sem oferta doméstica de fósseis.
         
    • Reduzir as assimetrias para integrar os mercados de créditos de carbono, hoje caros na Europa e baratos ou inexistem em boa parte do mundo. É um tema político do bloco, acentuado pelas crises econômicas: pode ser justo o consumidor rico europeu pagar mais pela descarbonização, mas isso não garante o apoio social interno para sustentar essas políticas de longo prazo.

    Nenhum comentário: