O nome de Joseph Safra se inscreve na notável geração de banqueiros brasileiros que empreenderam desde cedo, cresceram pelo talento e intuição para os negócios, e venceram mantendo o modo de vida discreto e reservado.
Uma estirpe, da qual também fizeram parte homens como Amador Aguiar, Walter Moreira Salles, Olavo Setúbal, Lázaro de Mello Brandão e Aloizio Faria, que nos deixaram no curso deste século 21.
Esse grupo, formado por banqueiros de vocação, foi a referência de que confiar no Brasil sempre dará certo.
Safra, falecido nesta quinta-feira (10), aos 82 anos, foi um ícone entre seus pares pela liderança silenciosa que exercia, baseado na credibilidade.
Com seus gestos comedidos, sorriso econômico e palavras escolhidas, praticava no dia a dia uma agilidade amplamente reconhecida para os negócios. Mais de uma vez, em disputas por posições cobiçadas por concorrentes internacionais, surpreendeu o mercado. Foi assim em novembro de 2014, quando o Grupo Safra anunciou a compra do emblemático edifício da City de Londres, o The Gherkin, com seus 41 andares futuristas. Além dos lucros que projetou sobre o negócio em si, ele sabia que o lance espetacular seria a consolidação da marca Safra em um dos pilares do capitalismo global.
Aprendera em família, a partir do pai, Jacob, fundador em 1955 do Banco Safra, que agregar pontes de lucratividade ao próprio negócio nunca seria demais.
O Sr. José que nos deixou combinou estratégias de crescimento na gestão de patrimônios e a especialização no atendimento de pequenas e médias empresas, ganhando a confiança da clientela pelo conservadorismo e eficiência.
Conquistou mais que fortuna pessoal. Dedicou-se a causas sociais, destacou-se com a comunidade judaica no Brasil. Contribuía para uma série de entidades sociais e cultivou especial apreço em construir e modernizar hospitais, creches, museus e templos religiosos. De gosto refinado, era um apaixonado pelas artes, às quais apoiava como reservado mecenas.
Homens como Joseph Safra são raros.
O formidável crescimento do mercado financeiro nas últimas décadas e as mudanças econômicas pela introdução da tecnologia nos modelos de negócio gerou uma nova classe de banqueiros —e de empresários. Agora, são profissionais que saem das escolas de negócios e administração, especialistas em marketing, em finanças, em análise de risco, em mercados globais, e, sobretudo, focados na arte de fazer render a liquidez dos clientes.
O comportamento também difere. Fazem "lives", presidem encontros numerosos, ocupam a mídia.
É natural e positivo que assim seja. São novos tempos e o público julga os administradores de seus recursos por meio de seus posicionamentos e resultados objetivos.
Vivemos a era da transparência, dos modelos matemáticos, algoritmos e técnica.
Por isso, é preciso valorizar e homenagear essa geração de banqueiros brasileiros, exemplos de que o Brasil fomenta inúmeras histórias empresariais de sucesso.
Devemos a esses banqueiros a criação das grandes marcas bancárias de hoje, todas elas vencedoras ao longo de várias décadas de construção. Eles foram artistas, que nos deixaram um legado de solidez e cultura da modernidade, fatores que viabilizaram o caminho para os pesados investimentos que fazemos ano após ano em tecnologia e especialização de pessoas.
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