Olimpíada é moleza, quero ver salvar o Centro do Rio. É o que Eduardo Paes terá de fazer, começando daqui a três dias, quando assume a prefeitura. Primeira providência: evitar palavras gastas como revitalizar. É preciso investigar, percorrer, descortinar, vasculhar, apalpar, lustrar, esmerilhar a região.
O Centro está em coma. Sua agonia, agravada pela Covid-19, tem sido longa. Insidiosa, a doença atuou na transformação da rua da Carioca em zona fantasma, a partir de 2012, quando o banco Opportunity comprou um lado da rua e começou a expulsar o comércio tradicional. Quem saía do bar Luiz ou do cine Íris não percebia o fio oculto da trampolinagem: demolir os sobrados para construir um shopping. Eduardo Paes era o prefeito na época.
O Centro hoje é um álbum de fotografias. Neste fim de ano, não houve chuva de papel picado na avenida Rio Branco. Pois quase não há mais Rio Branco, a antiga avenida Central, aberta em 1905 no estilo dos bulevares franceses —inteiramente esvaziada, à exceção dos moradores de rua e dos camelôs. O mais recente golpe atingiu até quem era imune à mudança das modas e costumes: a chapelaria Alberto, desde 1894 no mesmo endereço da rua Buenos Aires, não abrirá no primeiro dia útil de 2021.
Além de revitalizar, outra expressão deveria ser evitada: parcerias público-privadas. Mas ela já está na boca dos novos secretários, que iniciaram o flerte com o setor da construção civil com velhas promessas de alteração nas regras urbanísticas: gabarito mais alto, maior área de ocupação. Quem pensou no Porto Maravilha, e no seu fracasso, ganha um legítimo panamá no balcão da chapelaria Alberto.
O Centro tem jeito do jeito que ele é. Está pronto, não precisa vir abaixo para renascer. Na dinâmica da cidade, sua vocação é atrair o carioca para morar lá. Menos escritórios e engravatados, mais botequins e gente de bermuda.
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