segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

STÉPHANE ENGELHARD - Nós não vamos esquecer, FSP

 Stéphane Engelhard

Vice-presidente de Relações Institucionais do Carrefour

João Alberto Silveira Freitas. Faço questão de iniciar este texto com o nome completo do homem negro assassinado em unidade do Carrefour Brasil, em Porto Alegre, para assegurar: nós não vamos esquecer.

Em 45 anos no Brasil, o Carrefour tem nessa brutal morte seu mais triste episódio e seu maior desafio, o de lembrar dia após dia que vidas negras importam, que o racismo deve acabar, que o futuro precisa ser justo para os hoje absurdamente minorizados.

Stephane Engelhard - Vice-presidente de Relações Institucionais, Comunicação e Desenvolvimento Sustentável do Carrefour
O executivo Stéphane Engelhard, vice-presidente de Relações Institucionais do Carrefour - Divulgação

Beto, assim tratado por familiares e amigos, foi vítima do que vem sendo debatido em todo o país: o racismo estrutural. A polícia do Rio Grande do Sul atestou que este racismo estrutural permeou a desmedida e desqualificada reação dos fiscais no episódio. Beto foi a vítima, a maior delas, mas não a única. É impensável a dor de sua família. Por isso, logo no dia seguinte ao assassinato, o Carrefour fez questão de entrar em contato e oferecer suporte aos familiares, conexão que agora ocorre, a pedido deles, com seus advogados.

Todos os negros e negras que assistiram às deploráveis cenas foram também vítimas. Não se pode tratar como um episódio isolado. O passado recente e o presente mostram uma série de ocorrências de racismo e violênciainclusive no Carrefour e em outros varejistas brasileiros. Para que cenas assim deixem de existir, a companhia está agindo em três frentes: interna (com todos os seus colaboradores), de ecossistema (com parceiros e fornecedores) e externa (com a sociedade).

O Grupo Carrefour Brasil tem mais negros e negras (57%) que brancos e brancas entre seus 87 mil colaboradores. Porém, como a ampla maioria das empresas no país, tem pouca representatividade negra em posições de comando. Para evitar um olhar translúcido à situação, pediu apoio a um comitê externo independente com líderes de movimentos e personalidades ativas em questões de diversidade. Adriana Barbosa, Anna Karla da Silva Pereira, Celso Athayde, Mariana Ferreira dos Santos, Maurício Pestana, Rachel Maia, Renato Meirelles, Ricardo Sales e Silvio Almeida têm ouvido a sociedade e indicado investimentos, caminhos e ações.

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A principal recomendação do comitê, e o compromisso inicial do Carrefour, assegura uma política de diversidade que tenha rigor à discriminação por parte de colaboradores, clientes e fornecedores. Uma cláusula de combate a qualquer discriminação estará em todos os contratos com fornecedores.
Para resolver a falta de representatividade negra no comando da empresa, o Carrefour vai capacitar cem pessoas negras por ano com foco em posições de liderança, com apoio psicológico e emocional, aceleração de conhecimento (graduação, MBA, idiomas etc.) e mentoria.

Ao mesmo tempo, se compromete a manter a entrada de profissionais negros e negras para todas as funções, contratando 20 mil homens e mulheres pretos e pretas por ano.

A segurança nas lojas é também ponto-chave de mudança, já que na morte de João Alberto estiveram envolvidos contratados de uma empresa terceirizada. O Carrefour vai internalizar 100% da equipe de segurança que atua dentro de suas unidades, com prazo até outubro de 2021, a depender dos resultados de um projeto-piloto no Rio Grande do Sul. Esses profissionais terão perfil e abordagem redefinidos, enfatizando orientação e acolhimento aos clientes. E os profissionais responsáveis pela segurança externa das lojas, que devem cumprir requisitos legais com aprovação da Polícia Federal, receberão treinamento antirracismo.

O rol de ações vai além, com um total de 50 medidas, a ser disponibilizado em um hotsite —que também será um canal de diálogo com entidades que lutam contra o preconceito. A diversidade e o respeito sempre foram valores do Carrefour, que já havia desenvolvido uma série de ações afirmativas. Foi pouco. Pretos e pretas, como todos os minorizados, precisam ocupar lugares de fala, de trabalho e de respeito na sociedade. O Brasil não pode esquecer.

O Carrefour não vai esquecer João Alberto Silveira Freitas.


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