Criar grandes obstáculos a imigrantes é o mais perto do suicídio a que um país pode chegar
A ciência é uma empreitada coletiva, de modo que atribuir grandes inovações apenas à genialidade de poucos indivíduos é algo que já carrega um viés complicado. Ainda assim, nossos cérebros anseiam por narrativas de heroísmo e, por mais social e colaborativo que seja o fazer ciência, talento, dedicação e liderança de cientistas particulares estão entre os fatores decisivos. O resumo da ópera é que, embora sob aspas mentais, podemos falar em gênios científicos.
É com satisfação que constato que os cérebros por trás da vacina da Pfizer e da BioNTech, que chamou a atenção pela alta eficácia (95%) e pela plataforma inovadora (é baseada em RNAm), são o casal alemão Ugur Sahin e Özlem Türeci, ele um imigrante turco e ela filha de imigrantes turcos. Pode parecer um detalhe, mas não é.
Uma das coisas que mais chamam a atenção na demografia do Nobel é o peso desproporcional dos imigrantes. Dos 307 Nobel científicos recebidos por norte-americanos, 35% haviam nascido no exterior. A proporção de imigrantes na população dos EUA variou bastante ao longo do tempo, mas nunca excedeu os 15%. E a fatia dos laureados cresce significativamente se se considerar a segunda geração, isto é, os filhos dos imigrantes, que ainda guardam muito da mentalidade de seus pais e tiveram pleno acesso às oportunidades educacionais do novo país.
Encontramos efeitos semelhantes para outros totens da ciência, como a medalha Fields e as bolsas MacArthur. Ainda que não na mesma escala, imigrantes também são uma população importante dos Nobel das nações europeias que mais os recebem.
Por quê? Há muitas teorias, mas ninguém sabe exatamente. Explicações usuais incluem espírito empreendedor, auto-seleção virtuosa, corrida armamentista pelos melhores cérebros, ética do trabalho e até genes. De certo temos que criar grandes obstáculos à imigração é o mais perto do suicídio a que um país pode chegar.
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