Marcos Nogueira
Azeite trufado
Tem cheiro de vazamento de gás, mas é condimento chique. O azeite aromatizado (artificialmente, diga-se) tem dois poderes mágicos: estragar qualquer comida e transformar um reles pão com ovo numa truffle egg toast de R$ 68. Onipresente em meados dos anos 2010, está com a popularidade em declínio… assim espero.
Barbecue
Ele chegou tímido no começo da década, ganhou corpo e segue forte. O churrasco de estilo americano, abafado e defumado num barril metido a besta, faz parte de um pacote estético e cultural que inclui também a barba comprida, o gosto por motocicletas, a cerveja artesanal e as pimentas assassinas. Toda a macheza que era reprimida pelos metrossexuais –os imberbes predecessores da turma do barbecue– aflora num pit com brisket, ribs e pulled pork. Sim, falar metade das palavras em inglês também é uma característica dessa tribo.
Carne de porco
Até a década passada, “porco” era um palavrão, soava muito feio. Só existia “carne suína” e, ainda assim, disfarçada para não aparecer demais. De uns anos para cá, o porcino virou uma grande estrela culinária. Bacon, torresmo, todo tipo de charcutaria e até a banha ganharam status inédito e uma casa só para eles entre os melhores restaurantes do mundo –a Casa do Porco, do casal Rueda, em São Paulo.
Delivery
No pandêmico ano de 2020, os serviços de entrega cresceram e melhoraram para suprir a demanda por comida dos restaurantes, que precisaram fechar ou restringir o funcionamento. Restaurante passou a entregar até comida crua para o cliente cozinhar em casa, vá entender…
Food truck
A “revolução” da comida de rua teve muito entusiasmo no começo, mas acabou restrita a eventos e feiras. O consumidor percebeu logo que estava pagando preço de restaurante para comer em pé, na chuva, com talheres de plástico.
Gastronomia molecular
Esferas, géis, vapores e emulsões pretensamente científicos marcharam para a insignificância na década que passou. A gastronomia agradece.
Kebab
O churrasco grego, ícone da alimentação popular paulistana, tomou banho de loja e chegou às partes nobres da cidade.
Lactose e glúten
Em algum momento da década de 2010, metade da população descobriu ser alérgico ou intolerante a algum alimento. O mercado reagiu com uma enxurrada de produtos específicos, que às vezes os não-alérgicos compram por engano.
Mesa compartilhada
Tendência hipster forte até o ano passado, o mesão tomou uma golpe potencialmente fatal com a pandemia.
Paletas
Nenhuma retrospectiva da década seria completa sem a menção às paletas mexicanas, picolés grandes e recheado que tomaram o Brasil de assalto em 2012 e 2013. Depois sumiram. Fenômeno mais efêmero, só mesmo as patinetes elétricas de aluguel.
Poke
Parece um sushi desmontado, com peixe cru, arroz japonês e outros parangolés. Como o temaki, é capaz de ser uma modinha duradoura.
Raça
Não se compra mais carne sem saber a raça do boi: angus, hereford, wagyu, rubia galega. Começa a acontecer também com os porcos duroc, moura, caruncho e canastra. Não vão demorar a chegar os frangos de raça específica, que já ciscam nos melhores galinheiros dos Estados Unidos.
Smash burger
Os anos 2010 foram definitivamente das hamburguerias –modelo de negócio mais simples do que um restaurante, mais lucrativo também. No final da década, veio a febre do smash burger: discos finíssimos de carne moída, com 60 gramas ou menos, achatados na chapa para fazer uma crosta torradinha e uma margem de lucro ainda maior.
Temaki
Os cones de salmão com cream cheese não se intimidaram com a cara feia dos críticos e cronistas de gastronomia. O temaki ganhou praças de alimentação e lojas de posto de gasolina no Brasil todo –e virou moda até em Milão, na Itália. O que parecia ser coisa passageira se incorporou à paisagem gastronômica nacional.
Veganismo
Pessoas que rejeitam qualquer produto de origem animal deixaram de ser tratadas como curiosidade e ganharam a atenção da indústria de alimentos. No Natal de 2020, tivemos até bacalhau vegano.
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