A pedido do advogado do Carrefour, a audiência de conciliação com o movimento negro, na tarde desta quinta (17), foi tirada do ar.
Caetano Berenguer se incomodou quando disse ter descoberto que a reunião, que ele pensava ser fechada, estava sendo transmitida ao vivo nas redes sociais da Educrafo. A divulgação incomodou outros presentes, que se queixaram à juíza Dulce Opptiz que a audiência passava no Facebook.
A Educafro, como representante de um coletivo de mais de 80 entidades do movimento negro, decidiu fazer a transmissão para mostrar a evolução das tratativas com o Carrefour do termo de ajuste de conduta a que a rede será submetida, após a morte violenta de Beto Freitas por seguranças de uma loja em Porto Alegre.
Após a reprimenda, a juíza determinou e a transmissão foi cortada, depois voltou silenciada, até que desapareceu após 40 minutos.
“A Educafro entendeu que o acordo pertencia à sociedade civil e que, como não havia segredo de Justiça, achou por bem transmitir”, disse Frei Davi.
“Como estamos em processo de diálogo, mesmo com dor no coração tivemos que cortar. Mas vamos pedir que a próxima audiência seja aberta”, afirmou o diretor da Educafro.
O Carrefour informou ao Painel que a lei determina a observância da confidencialidade em casos de audiência de mediação e que transmissão foi iniciada sem a autorização do Judiciário.
"Os próprios juízes e mediadores presentes solicitaram a paralisação para o avanço das conversas e tratativas", diz a nota.
"O Carrefour esclarece que é absolutamente pautado pela transparência e que, na sua visão, compartilhada pelo Judiciário, entende que a evolução das conversas seria mais produtiva e eficiente se discutida entre as partes."
Apesar do estranhamento, Frei Davi disse estar otimista com o que ele considera que pode se tornar o “maior acordo de reparação já feito" no país, com princípios que vão extrapolar o caso do Carrefour.
Nos últimos dias, representantes do movimento negro e antiracista apresentaram uma lista de 28 pontos para o termo de ajuste de conduta da rede de supermercados com a Justiça.
Outros itens surgiram de reuniões posteriores e já chegam a quase 50.
Um dos mais relevantes, segundo Frei Davi, é o que determina que todos os funcionários do Carrefour se comprometam, por escrito, em não agredir quem esteja filmando cenas de abuso ou agressão.
Para Frei Davi, este ponto pode inspirar a conduta das polícias, que não raro apreendem celulares de manifestantes que registram excessos de integrantes da força de segurança.
“A medida serve para proteger a sociedade e os bons funcionários e para punir os maus funcionários”, afirma.
O Carrefour, segundo ele, sinalizou que pretende aceitar todos os pontos levantados.
Outra demanda é que a rede destaque funcionários negros para participar das negociações do termo de ajuste de conduta e para fiscalizar a sua evolução, com a garantia de que não serão demitidos.
Além disso, o movimento negro quer que todas as lojas do Carrefour passem por vistorias para acabar com o que eles chamam de “salas de tortura”, para onde são levados frequentadores, majoritariamente negros, para inspeção.
Com o indicativo de que pode haver acordo, uma nova audiência foi marcada para 28 de dezembro.
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