Dave Lee
Quando visionários do Vale do Silício são consagrados como multibilionários, geralmente isso acontece enquanto estão cercados por banqueiros, investidores e colegas animados em um pregão em Wall Street.
Em vez disso, o momento de Brian Chesky chegou em uma casa em São Francisco, na companhia de sua golden retriever Sandy. "Ela está adorando a energia frenética", disse Chesky em entrevista ao Financial Times.
O executivo-chefe e cofundador da Airbnb assistia na quinta-feira (10) quando o preço da ação de sua empresa imediatamente duplicou em sua oferta pública inicial.
No final do pregão, sua participação na companhia de hospedagem em residências valia pouco mais de US$ 11 bilhões. A Airbnb em si valia quase US$ 100 bilhões.
Em particular, Chesky há muito hesitava em colocar a Airbnb na Bolsa. Temendo a influência que o pensamento imediatista de Wall Street poderia ter sobre sua companhia, ele no mínimo esperava que a badalação em torno de suas perspectivas fosse temperada enquanto a Airbnb lançasse novos produtos e investisse em crescimento.
Claramente, isso é passado. Os investidores deram à empresa um valor superior ao das três maiores redes hoteleiras dos Estados Unidos juntas.
Isso exacerba a pressão para um executivo de 39 anos preencher grandes expectativas em um momento em que a companhia ainda não se recuperou totalmente das consequências da pandemia.
"Acho que muita gente que comprou a ação sabe que o mundo está super incerto", disse ele. "As coisas vão subir, as coisas vão baixar? Não sabemos quando as viagens serão retomadas. Acho que nos esforçamos ao máximo para deixar isso claro."
Ele acrescentou: "Acho que teremos de dar um passo atrás".
Chesky cresceu em Niskayuna, pequena cidade no interior de Nova York. Seus pais --Debbie e Bob-- eram assistentes sociais.
"Nunca ouvi as letras 'IPO' quando era jovem", disse Chesky. "Para mim, um empresário era alguém que dirigia a pizzaria."
Ele conheceu um de seus futuros cofundadores, Joe Gebbia, quando estudava desenho industrial. Em 2007 os dois tinham se mudado para San Francisco, onde conheceram seu terceiro sócio, o engenheiro de software Nathan Blecharczyk.
Juntos eles lançaram "Airbed and breakfast", que oferecia um lugar barato para se hospedar —o apartamento deles— aos participantes de uma conferência de design. Enquanto os primeiros hóspedes ainda estavam na casa, eles trabalharam em um projeto para apresentar a potenciais investidores.
Lutando para conseguir dinheiro, o trio encontrou um lugar cobiçado no Y Combinator, famoso programa acelerador do Vale do Silício para startups promissoras. Michael Seibel, que hoje é executivo-chefe da Y Combinator, incentivou a equipe a se inscrever.
"Acho que o interessante em Brian e nos cofundadores é que eles foram usuários iniciais de seu produto, não só como viajantes, mas como anfitriões", disse Seibel. "Sempre que havia um desafio, eles não pensavam na coisa teoricamente. Eles podiam se colocar naquele lugar e dizer: 'O que nós iríamos querer naquela situação?'"
Os instintos de Chesky nem sempre foram válidos, porém. Ele demorou para reconhecer a presença da discriminação racial na plataforma, em meio a evidências perturbadoras de que era mais difícil para pessoas negras reservarem quartos devido a anfitriões discriminatórios.
Em 2015 a companhia foi considerada fora do tom quando publicou uma série de anúncios em São Francisco com "sugestões" sobre como a cidade deveria gastar seu imposto de renda.
E durante a pandemia alguns anfitriões criticaram a empresa por forçá-los a oferecer restituições completas aos hóspedes que não puderam viajar devido ao lockdown e restrições de viagem. Mais tarde ele escreveria uma carta de desculpas e montaria um fundo para recuperar um quarto da renda perdida dos anfitriões.
Como empresa de capital aberto, esse tipo de escrutínio se intensificará, especialmente no que se refere a tensões entre a Airbnb e as cidades em que ela atua.
Chip Conley, antigo mentor e assessor estratégico, disse que Chesky aprendeu que o sucesso duradouro exige trabalhar com os reguladores, e não contra eles.
"Ele queria com o tempo não ser o Uber", disse Conley. "Um pouco mais gentil e menos competitivo em termos de relacionamento com os concorrentes, assim como com as autoridades regulatórias."
Os apoiadores de Chesky dizem que sobreviver à pandemia, o que envolveu cortar um quarto de seus funcionários, é evidência suficiente de que ele pode lidar com as pressões que sofre dos investidores externos.
"Não acho que o desafio de ser um presidente-executivo no mercado aberto chegue perto do desafio de moldar as viagens globais da próxima década", disse Seibel. "Esse é o desafio de Brian."
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