terça-feira, 1 de setembro de 2020

'Isso é impacto do raio que caiu em abril', diz Guedes sobre tombo do PIB, OESP

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BRASÍLIA - O ministro da EconomiaPaulo Guedes, disse nesta terça-feira, 1º, que não causa preocupação ao governo o tombo histórico de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB), no segundo trimestre deste ano na comparação com os três primeiros meses do ano.

"Isso é impacto do raio que caiu em abril", afirmou Guedes, no Palácio da Alvorada, em referência aos impactos da crise do coronavírus na economia brasileira. Ele participou do anúncio da prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, ao lado do presidente Jair Bolsonaro e de líderes do Congresso.

Depois, em audiência pública com os parlamentares, o ministro disse que o resultado do PIB divulgado hoje é "som de um passado distante".  “Nós humanos somos átomos que raciocinam. Economia não é uma ciência exata. Como a velocidade da luz é diferente da velocidade do som, você vê um raio muito cedo e o som chega muito depois. É a mesma coisa com a economia”, afirmou. 

Paulo Guedes
Paulo Guedes em café da manhã que o presidente Jair Bolsonaro ofereceu a líderes do Congresso nesta terça. Foto: Marcos Corrêa/PR

Ele completou dizendo que quem previu uma queda de 10% no PIB deste ano “viajou na velocidade da luz” e errou. “Chegou agora o som de uma queda inicial do PIB de 10%. Só que a realidade é outra. É um som de um passado distante. Como a luz das estrelas que nós vemos foram emitidas há bilhões de anos. O que você vê é um registro do passado. Foi esse som que chegou agora”, completou. 

Guedes disse que as estimativas agorapara o PIB de 2020 estão em queda entre 4% e 5%, a metade da queda registrada no segundo trimestre. A projeção oficial é de retração de 4,7%. “O crédito, consumo de energia elétrica, notas fiscais estão todas voltando com dois dígitos. No fim do ano, a queda da economia brasileira pode ser 4% até um pouco menos”, afirmou. 

Os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia, apesar de percebidos ainda em fevereiro, se intensificaram em todo o mundo a partir de março. Para conter a disseminação da doença e o colapso do sistema hospitalar, o Brasil adotou o isolamento social em boa parte do território, o que afetou a atividade econômica. Os efeitos negativos foram percebidos principalmente em março e abril.

O resultado divulgado nesta terça é a queda mais intensa desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou os cálculos do PIB trimestral, em 1996. Até então, o maior tombo já registrado no País tinha ocorrido no quarto trimestre de 2008 (-3,9%).  Com o desempenho, o Brasil entrou oficialmente em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de encolhimento do nível de atividade.

"Isso é de impacto lá atrás. Estamos decolando em 'V'", disse Guedes usando a metáfora para explicar que após uma queda rápida da atividade, deve acontecer também uma alta na mesma intensidade.

Na audiência pública na comissão mista do Congresso Nacional que acompanha a execução das medidas de enfrentamento à pandemia de covid-19, Guedes afirmou que o governo tomou "medidas vigorosas" para o enfrentamento à pandemia, acima da média dos países avançados e quase o dobro dos emergentes.  

“Mais importante do que o resultado do PIB do 2º trimestre é observar que abril foi o piso e já há uma retomada em V. Todo mundo previa essa queda de 10% no 2º trimestre, mas esse é um som distante do impacto da pandemia lá atrás. O Brasil ficaria nessa queda se governo não tivesse aprovado medidas com o Congresso. Com essas medidas, conseguimos criar uma volta em V, a economia está voltando em V”, disse.

Guedes afirmou que o crescimento da economia no próximo ano pode surpreender. Segundo a estimativa que consta da proposta de Orçamento do próximo ano, encaminhada ontem ao Congresso Nacional, o PIB deverá ter uma alta de 3,2% em 2021. “Ano que vem podemos ser surpreendidos com crescimento de 3%, 3,5%, 4% a 4,5%. Só depende de aprovarmos as reformas”, completou. 

Ministério diz que retração foi menor do que em outros países

O Ministério da Economia avaliou que o resultado do PIB do segundo trimestre, embora tenha mostrado retração elevada, foi menor do que "as principais economias" e, também, quando comparado a alguns países emergentes (Chile, México e Índia).

"A redução da atividade está entre as menores em relação as principais economias. Por exemplo, a queda no 2º trimestre nos países do G7, quando comparado ao mesmo trimestre de 2019, foi de -11,9%. Algo semelhante ocorre para os países emergentes como Chile, México e Índia foram de -13,7%, -19% e -23,9%, respectivamente", informou.

De acordo com a análise da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, essa "menor deterioração" deveu-se ao trabalho conjunto do governo e do Congresso Nacional na elaboração e implementação de políticas econômicas que "suavizassem os efeitos do coronavirus".

"Um dos objetivos de tais medidas foi justamente atenuar os impactos negativos sobre a economia, buscando a preservação dos empregos e à sobrevivência das empresas. Outro propósito das medidas implementadas foi o de limitar o efeito da pandemia para os informais e para as famílias mais pobres, mantendo a renda de muitas famílias brasileiras nesse momento de maior necessidade", acrescentou a área econômica.

Apesar do forte tombo do PIB e início de um novo período recessivo na economia brasileira, o governo informou que dados mais recentes apontam para início de uma recuperação parcial em maio e junho, e "continuidade da retomada" da economia no terceiro trimestre.

Entretanto, o governo avaliou que uma "recuperação pujante" da economia só será possível com a retomada da agenda de reformas e consolidação fiscal (redução do rombo das contas públicas). A área econômica citou a necessidade de aprovar a proposta que modifica a Lei de Falências, do projeto de Lei do Gás e do projeto que cria o Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem (navegação na costa brasileira), entre outros. /COLABORARAM EDUARDO RODRIGUES E LORENNA RODRIGUES

 

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