As universidades mergulham na irrelevância, transformando-se em ninhos de debates ridículos e mediocridade conglomerada. As grandes marcas acadêmicas buscam formas de enfrentar esse processo.
Talvez encontrem essas formas nas plataformas digitais e em criações mais autônomas dentro das próprias universidades, que privilegiem mais as inciativas ágeis em detrimento da política do quadro docente, sempre pobre de espírito, visando a criação de uma “nomenclatura” que sirva a si mesma dentro da instituição acadêmica.
A irrelevância da universidade tem várias causas. Uma delas é a gigantesca burocracia que serve a quadros humanos menos criativos e mais inerciais. Criada para aferir a produtividade, essa burocracia transforma a coordenação num grande conto do Kafka, agora, mergulhando a barata no fetiche do online.
Uma ferramenta destrutiva da universidade privada é a submissão necessária ao marketing: em breve, ele ditará toda forma de conteúdo. Acompanhar o modo como todos se submetem as opiniões da sua majestade, o seguidor, é humilhante. Na busca por fidelizar os pais, as universidades privadas prometem a estes que seus “filhes” serão “alunes” que criarão algoritmos que salvarão o mundo, abraçarão árvores e terão corações puros.
Já que citei a nova gramática fascista de gênero (um dos traços de todo processo totalitário é a “reforma” da língua), vamos a ela.
Recentemente, universidades tem renomeado espaços internos para servir à nova inquisição, que vai além do fascismo de gênero. Até o grande filósofo cético escocês David Hume, do século 18, um dos maiores filósofos ocidentais, foi cancelado em seu país natal. As universidades têm se tornado espaços de taras ideológicas, e isso as aproxima de igrejas fundamentalistas, formando jovens alienados nessas mesmas taras.
A praga do politicamente correto atravessou as fronteiras ideológicas. Só gente mal-informada acha que ele seja um traço apenas da esquerda. O politicamente correto é hoje uma métrica do marketing digital, a nova sociologia. O novo centro da política ideológica descolada.
Utilizemos a fórmula didática de esquerda x direita para deixar isso mais claro. Da centro-direita (amantes do mercado e da liberalização dos costumes dentro dos limites impostos pelas métricas do marketing digital) à centro-esquerda (a esquerda americana que está fazendo das universidades igrejas identitárias), todos rezam no altar do fascismo correto de gênero. A extrema direita se oferece, falsamente , como antídoto às igrejas identitárias, em troca de fazer de você um boçal reacionário terraplanista idiota.
A centro-esquerda, tendo perdido a verdadeira vocação da esquerda (destruir o capitalismo), passou a ser uma crítica de brinquedo ao mundo. Um teste definitivo pra você ver se uma crítica social é de brinquedo é ver se ela cabe na publicidade. Se couber, esqueça. Paulatinamente, os professores, pesquisadores e afins se transformam em repetidores de códigos ridículos tipo “querides alunes”.
A esquerda deve buscar a Rússia do século 19 e início do 20 como referência para refletir sobre sua história, e não os modismos das universidades americanas. A partir do aparente impasse diante do modo de produção capitalista, a esquerda procurou novos mercados ideológicos. A esquerda de hoje é um fetiche do capitalismo cujo “cérebro” é Hollywood.
E a própria pandemia é hoje uma commodity e só vai acabar quando o capital deixar de vê-la como um ativo. Só bobos acham que o que está em jogo são vidas humanas. O susto passou.
A “reforma” da gramática introduzindo recursos como “e”, “x” ou “@” como opção ao “o” e “a” é um sintoma claro do surto identitário histérico. Este é um dos riscos de irrelevância da universidade porque a transforma em geradora e reprodutora de um pseudodebate que serve pouco a um dos problemas centrais da modernidade: como responder à riqueza material indiscutível do capitalismo sem capitular diante da destruição do mundo cognitivo e afetivo levado a cabo pela submissão do pensamento ao marketing, agora, digital?
Nenhum comentário:
Postar um comentário