À procura de certo material de pesquisa, caíram-me às mãos números da Playboy brasileira de quando trabalhei lá, 1979 a 1982. Parecem oriundos de outro país, outro mundo, outra era geológica. A começar pela receita da revista. Hoje, nenhuma atriz do primeiro time posaria nua, mesmo em fotos de alta classe, como as que Playboy produzia. Na época, isso era natural e tivemos estrelas como Luiza Brunet, Vera Fisher, Betty Faria, Lucélia Santos, Dina Sfat. A mais cobiçada, Bruna Lombardi, preferiu Status, nossa concorrente.
Playboy queria ser vista como uma revista moderna, adulta, abrangente, de posições liberais, não apenas um apêndice do pôster. Para tanto, investíamos nas entrevistas. Da preparação das perguntas à execução e à edição final, uma entrevista podia tomar três meses —sei disso, porque estive a cargo de várias. E havia a escolha do entrevistado. Qualquer revista entrevistaria Lula ou Pelé, mas qual outra daria 10 páginas a cinco feministas para nos desancar num pingue-pongue contra um único repórter? (Por acaso, eu.)
Um dia, decidiu-se que a revista precisava entrevistar um banqueiro. Em consequência, levei horas de chá de cadeira na sala de espera de Olavo Setubal, neto de barões e dono do Itaú, até que ele me recebeu para recusar delicadamente o convite, sem nem querer saber quais seriam as perguntas.
E havia a ideia de que, para nós, o leitor médio de Playboy era um homem de 25 anos, independente, profissional, ambicioso, com múltiplas perspectivas e no auge da solteirice. Não importava que, na realidade, tivesse 15 ou 35 anos. Nos dois casos, era 25 que ele queria ter, e era para este leitor ideal que fazíamos a revista.
Hoje, o homem de 25 anos ainda é estudante, está desempregado, mora com a mãe, fica de vez em quando com a namorada e não se interessa por revistas. É mesmo outro país, outro mundo, outra era geológica.
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