Meninos, vi Pelé no Maracanã. Uma vitória do Santos sobre o Botafogo, 3 a 0, em 1974. Aos 33 anos, ele comeu a bola, deixou o seu, ajudou Edu e Nenê a fazer os outros, provando que poderia ter ido ao Mundial da Alemanha disputado naquele ano. Foi como se o rei do futebol soubesse que aquele garoto embasbacado estava na arquibancada só para vê-lo. Saí feliz do estádio, o único dia em que isso aconteceu depois de uma derrota do meu time.
Daqui a pouco, no dia 23 de outubro, Pelé fará 80 anos. Confesso que esperava mais barulho, desde já, em torno da data redonda. Claro que não faltarão homenagens mil (ou 1.281, uma para cada gol marcado). O Museu do Futebol, em São Paulo, está preparando uma exposição, totalmente audiovisual, para atrair um público mais jovem. Não queria estar na pele do curador Gringo Cardia, que terá de selecionar fotos e vídeos com gols, dribles, passes, arrancadas, socos no ar.
Mas hoje a tabelinha entre Pelé e o Brasil já não funciona tão bem. Para as novas gerações, Messi (craque contra o qual pesa o fato de não ter conquistado uma Copa do Mundo para a Argentina; o brasileiro ganhou três) e Maradona ocupariam degraus acima dele na galeria dos maiores deuses da bola. “Pão ou pães, é questão de opiniães”, diria Riobaldo —e não há espaço aqui para entrar nessa discussão infinita.
Outros gostariam que Pelé, ao longo da carreira, tivesse tomado atitudes como as de John Carlos e Tommie Smith no pódio na Olimpíada do México, em 1968: punhos fechados contra o racismo. Não adianta: Pelé não é o Pantera Negra. Ou qualquer outro super-herói: está doente, recluso, enfrentando um problema crônico nos quadris.
O escritor João Antônio costumava dizer que “Pelé, a gente admira; Garrincha, a gente ama”. Talvez. O que sei é que me sinto meio triste, como se o rei não tivesse jogado nada diante do meu time.
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