Roberto Rodrigues*, O Estado de S.Paulo
13 de setembro de 2020 | 05h00
Com uma ampla diversidade edafoclimática, os produtores rurais do Brasil têm se mostrado capazes de produzir todo tipo de alimento, sobretudo graças a uma tecnologia sustentável gerada em nossos órgãos de pesquisa públicos e privados e nossas universidades ligadas às ciências agrárias.
E essa capacidade se mostra também na fruticultura.
Com efeito, aqui produzimos o que se produz no mundo todo e mais algumas variedades que só existem no vasto território brasileiro. Nossas maçãs são as mais saborosas de todo o Mercosul, e temos o açaí da Amazônia que hoje encanta o mundo. Já plantamos kiwi, uvas sem “caroço”, damasco, atemoia, granadilha, pitaya, tâmara, mangostin, cereja, lichia – frutas vindas mais recentemente de fora –, e temos o guaraná e a jabuticaba. Famílias brincam com os nomes das frutas, ensinando as crianças a conhecerem a imensa variedade delas a partir das letras do alfabeto: com A tem abacate, abacaxi, acerola, ameixa, amora, amarelinha e por aí vai...
E por isso somos o terceiro maior produtor de frutas do mundo. No ano passado, produzimos 44 milhões de toneladas delas, cujo valor bruto foi de R$ 38 bilhões, cultivados em 2,5 milhões de hectares, gerando 5 milhões de empregos. E essa é uma característica muito importante desse setor: gera 2 empregos por hectare, e são empregos diferenciados e bem remunerados, porque não se pode lidar com pêssegos ou figos como se lida com cana-de-açúcar, soja ou algodão, em que as colheitas são mecanizadas e os volumes, granelizados. Cada fruta é um indivíduo e assim deve ser tratada. Além disso, o alto valor agregado das frutas permite que sejam cultivadas por pequenos produtores, não exigindo escala para ter resultados, como acontece com as commodities cuja renda por unidade é normalmente muito baixa.
Temos 30 polos de produção de frutas tropicais e temperadas espalhadas pelo território todo, em permanente evolução tecnológica.
No entanto, mesmo com essa espetacular grandeza, somos apenas o vigésimo terceiro exportador mundial de frutas. E a ingestão diária de frutas pelos brasileiros é de apenas um terço do recomendável. Podemos avançar muito nessa atividade, tanto no mercado interno quanto no externo.
Atualmente, a irrigação é muito econômica, com o uso do gotejamento (cada planta recebe de sistemas de distribuição fixos apenas as gotas de água de que necessita), os canteiros são protegidos por lençóis de plástico para evitar a evaporação e o ataque de insetos e pragas; já se pode ligar a irrigação pelo celular, a quilômetros de distância, e a energia solar é amplamente utilizada.
Mas ainda existem alguns gargalos. Entre eles, o mais complicado é a necessidade de registro de defensivos agrícolas que não gerem nenhum tipo de resíduos nas frutas para o consumo humano. Existe uma relação de mais de mil produtos à espera de regularização para uso dos fruticultores.
Mesmo assim, com os agroquímicos hoje existentes, o LMR (Limite Máximo de Resíduos) encontrado nas frutas brasileiras está de acordo com os parâmetros internacionais. Portanto, se novos defensivos forem liberados, a qualidade de nossos frutos, que já é excelente, melhorará ainda mais. E, aliás, já usamos muitos defensivos biológicos aprovados pelos nossos organismos de defesa sanitária. O exemplo da banana é notável. Essa fruta é a mais comercializada no mundo, embora seja apenas a nona na nossa relação de exportadas. Mas a banana produzida no Ceará recebe apenas uma pulverização por ano, enquanto em países concorrentes chega a receber mais de 40 pulverizações anuais de defensivos.
Temos muito que avançar nesse segmento diferenciado. Uma boa estratégia sendo negociada entre os produtores e o governo abrirá grandes e remuneradores mercados para as frutas brasileiras. E isso tudo sem falar nas nossas deliciosas castanhas e nozes.
* Ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas
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