Nas ficções científicas e nas telas, a descoberta de vida extraterrestre costuma ser retratada de forma épica, através de primeiros contatos com formas de vida exuberantes, frequentemente marcados por ameaças existenciais contra nossa espécie. “Klaatu barada nikto” (os cinéfilos entenderão a referência).
O mundo real tende a ser menos dramático. O anúncio de que uma molécula detectada em Vênus traz marcas de vida microbiana, em que pese a possibilidade de conter a resposta para uma questão fundamental, que é saber que não estamos sós no Universo, gera uma situação bem menos romântica.
Cientistas passarão os próximos meses e anos bolando teorias que expliquem o surgimento de fosfina por processos não biológicos que poderiam ocorrer na química venusiana. Se tiverem êxito, a hipótese de termos detectado vida sai enfraquecida; se não tiverem, é corroborada.
Quem gosta de respostas mais assertivas terá de esperar. Em cinco ou dez anos, alguma potência espacial enviará uma sonda a Vênus, com o objetivo de analisar amostras de nuvens que possam conter indícios mais diretos. Se tivermos muita sorte, encontrarão um venusianozinho.
Mesmo que não encontremos nada, não haverá motivos para abalar a crença de que a vida microbiana é abundante no Universo. Afinal, os elementos e as reações que possibilitaram seu surgimento na Terra estão presentes em toda parte.
E quanto à vida inteligente? Aí complica. Como mostrou Peter Ward, a ocorrência de vida multicelular depende não só de química, mas de uma combinação de fatores astrofísicos e geológicos que tende a torná-la muito mais rara.
No nosso caso, incluíram um eixo de inclinação de 23,5 graus; campo magnético; placas tectônicas; uma lua maciça; e até a proximidade com Júpiter, que funciona como um aspirador de pó espacial, evitando que corpos celestes errantes se choquem contra nós. Tiramos o bilhete premiado.
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
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