domingo, 20 de setembro de 2020

Elio Gaspari Bolsonaro criou uma crise do nada, FSP

 Houve presidentes que amansavam a onça da crise. Ela entrava rosnando no Planalto e saía miando. Foi assim com Michel Temer (salvo quando ele conversava com Joesley Batista no Jaburu) e com Fernando Henrique Cardoso. Com Dilma Rousseff ela entrava miando e saía rosnando. Jair Bolsonaro e Paulo Guedes inovaram: eles criam a crise do nada.

No domingo passado o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, deu uma entrevista ao repórter Alexandre Martello propondo uma girafa: congelar por dois anos os benefícios da Previdência Social.

Ela foi para a rede no fim da tarde. Sabe-se lá o que estavam fazendo os doutores, mas ninguém se lembrou de jogar água fria no assunto. Era uma ideia ruim, nada mais que isso. Era também mais um balão de ensaio da ekipekonômika. Tratando-se de matéria que exigiria emenda constitucional, suas chances eram nulas.

Passou a segunda-feira, e nada. Alguém, inclusive o doutor Waldery, poderia ter colocado os pingos nos is. Na terça de manhã, com a fúria de Zeus, Bolsonaro foi para as redes sociais com um vídeo e matou a proposta, mandou ao arquivo qualquer conversa sobre o programa Renda Brasil e ameaçou botar na rua quem lhe trouxer o assunto.

Sendo presidente da República, poderia ter usado o aparelho do governo para cuidar do assunto.

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Sendo um animador de vídeos, poderia ter argumentado com mais simplicidade e elegância. Preferiu se apresentar como defensor dos pobres e dos paupérrimos, impondo mais uma humilhação ao çuperministro Paulo Guedes e colocando a prêmio a cabeça do doutor Waldery.

Logo ele, cujo governo tentou, e continua tentando, tungar o Benefício de Prestação Continuada dos miseráveis e quis taxar o seguro dos desempregados.

Bastariam dois telefonemas e uma frase para que o governo derrubasse a girafa do doutor Waldery que, além de ser apenas um plano, era também inexequível. Sobrou para o burocrata a quem Guedes deu poderes excepcionais, para sua secretaria e aquilo que outrora foi o Ministério da Fazenda. (Isso foi parte do projeto de concentração teórica de poderes do çuperministro. Na prática, está dando no que se vê.)

Waldery Rodrigues é um burocrata eficiente que na cadeira tornou-se também onisciente. Olhando para a macroeconomia, achou boa ideia avançar no orçamento dos segurados do INSS. Olhando para a microeconomia da geladeira do doutor Waldery, ele foi outro. Como servidor qualificado do Senado Federal, ganhava R$ 35 mil mensais. Aceitou uma secretaria especial que rendia apenas R$ 10,3 mil.

Os costumes de Brasília permitiram que fosse para os conselhos do Banco do Brasil e do BNDES e, tchan, passou a receber mais R$ 14 mil. (Como ele, outros 333 servidores civis e 12 militares estão agraciados pela velha prebenda dos conselhos.)

Sentado, o secretário Especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, em coletiva de imprensa em Brasília.
O secretário Especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, em coletiva de imprensa em Brasília. - Edu Andrade - 08.abri.2020/Divulgação Ministério da Economia

Bolsonaro disse que não quer mais ouvir falar em Renda Brasil e passou a iniciativa para o Congresso. Ganha uma visita a uma fábrica de cloroquina quem apostar que daí sairá a próxima crise. ​

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