Desde 1987, quando Moreira Franco assumiu, os governadores do Rio têm uma grande dor de cabeça: cumprir a promessa de acabar com a violência. Cada um no seu estilo, todos fracassaram. Wilson Witzel virou um Stallone de bloco carnavalesco, com suas fantasias para enganar o eleitor: snipers que miram na cabecinha, navios-presídios, câmeras de reconhecimento facial, tudo embalado no conceito de tolerância zero. Deu em mortes de criança. E, revelados seus reais interesses, em impeachment.
Witzel extinguiu a Secretaria de Segurança Pública, concentrando as atividades da pasta na Polícia Militar, sua menina dos olhos. Com fixação por fardas e coturnos, pensou em criar o cargo de general da PM. Como resultado, as milícias —maior foco de crime no estado, atuando em aliança com traficantes de drogas ou em guerra para lhes tomar o lugar— ganharam mais corpo e território. Não foram investigadas nem combatidas.
Mesmo assim, o número de policiais militares presos desde janeiro por envolvimento com milicianos já é o maior registrado nos últimos dois anos. Dados com denúncias do Ministério Público remetidas à Justiça do Rio mostram que 31 PMs foram para a cadeia por participar de grupos paramilitares ou receber propina de seus integrantes —em 2019, foram 19; em 2018, 26.
A repórter Anna Virginia Balloussier revelou na Folha que a milícia desenvolveu um modus operandi diferente, uma falsa fala mansa, para atuar nas áreas mais ricas da capital: explorar o medo com o oferecimento de “proteção”. Em época de pandemia, com as ruas vazias, nota-se uma nova figura urbana, uma espécie de inspetor de quarteirão reciclado: cara fechada, falando sempre ao celular, usando casaco mesmo nos dias de calor, ele caminha de um ponto a outro da calçada —ligado demais para estar apenas passeando.
Um dia o amigo bate à sua porta.
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