Em 1710, corsários franceses tramaram invadir o Rio em busca do ouro de Minas Gerais que deixava o porto rumo a Portugal e, por tabela, à Inglaterra. Para fugir das fortalezas na entrada da baía, fizeram um caminho alternativo: desembarcaram em Guaratiba e seguiram para a cidade a pé, cruzando durante sete dias as matas cerradas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá. Chegaram tão exaustos que foram facilmente dominados pela população quando tentaram tomar a Casa da Moeda e o Armazém Real, na rua Direita.
Hoje, passados mais de 300 anos da frustrada invasão, os piratas saqueiam a mui leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro sem precisar sair da Barra da Tijuca.
Pode parecer preconceito com a bela região de praias e lagoas e com as pessoas honestas (sim, elas existem) que lá vivem. Mas o roteiro traçado pelo Ministério Público para investigar a corrupção instalada tanto no governo municipal como no estadual tem sempre o mesmo destino: condomínios de luxo e escritórios de empresas que ficam na Barra.
A polícia já é íntima do Península. São 57 prédios, numa área equivalente ao tamanho do Leblon, com quadras de tênis, piscinas, academias, parques infantis, esculturas ao ar livre e um centro comercial próprio. Na semana passada, Pedro Fernandes, secretário estadual de Educação, foi preso lá, acusado de receber propina num esquema em que também aparece citado o governador interino, Cláudio Castro.
Um dia antes, quem teve de abrir a porta do seu apartamento no Península, para que se cumprisse mandado de busca e apreensão, foi Marcelo Crivella. Ele é vizinho do empresário Rafael Alves, apontado como operador de um arreglo criminoso que se estende a mais de 20 órgãos da prefeitura. Alves, segundo o Ministério Público, mandava em Crivella e tinha uma sala na Cidade das Artes, na Barra (onde mais?), só para receber as malas de dinheiro.
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