domingo, 27 de setembro de 2020

Elio Gaspari Documentário sobre a Libelu leva uma doce viagem à alma dos jovens, FSP

 26.set.2020 às 23h15

Na quarta-feira estará no ar o documentário “Libelu – Abaixo a Ditadura”, do cineasta Diógenes Muniz. Trata da “Libelu”, organização política de estudantes surgida em 1976 e extinta em 1985.

Os Libelus podem ter sido 800, mas fizeram um barulho danado. Iam para a rua gritando “abaixo a ditadura” (coisa que raramente acontecia desde 1968). Afastavam-se do MDB e da velha esquerda.

Eram radicais com senso de humor, gostavam mais de rock do que de samba, de Caetano Veloso do que de Chico Buarque.

O Serviço Nacional de Informações dizia que eram uma “dissenção” do Partido Comunista e da “linha trotsquista”. Os Libelus eram jovens, num tempo em que o filosofo francês André Glucksmann dizia que “Brejnev é Pinochet”. Um governava a União Soviética, o outro, o Chile.

Assembleias estudantis da organização Liberdade e Luta (Libelu) na USP, na década de 1970 - Divulgação

As coisas são assim desde 1786, quando o estudante José Joaquim Maia (codinome Vendek) procurou Thomas Jefferson, embaixador dos Estados Unidos na França, pedindo-lhe ajuda para uma conspiração que se armava em Minas Gerais. Os estudantes foram a vanguarda da elite brasileira. Mais tarde, eles se tornam a própria elite e a vida segue.

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No documentário de Diógenes Muniz há uma doce viagem à alma dos jovens dos anos 1970, na voz de 20 sexagenários lembrando-se da aurora de suas vidas. Só eles falam, um de cada vez.

Em todos os idiomas há o provérbio segundo o qual quem não é de esquerda aos 20 anos não tem coração, e quem continua de esquerda depois dos 50 não tem cérebro.

Dos 20 Libelus entrevistados, cada um tomou seu caminho, e foram para todos os lados. Poucos ficaram mais ou menos no mesmo lugar. Aí está o valor dos depoimentos e do documentário.

As entrevistas com os Libelus foram gravadas no cenário da Universidade de São Paulo. Só “Pablo”, um militante que estudava medicina em Ribeirão Preto, falou na sala de sua casa. Isso não ocorreu por deferência ao ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, mas porque Antonio Palocci está em prisão domiciliar. Seu depoimento fecha o ciclo de um pedaço da amostra. Quando lhe foi perguntado se ainda se considerava um homem de esquerda, Palocci não vacilou: “Claro”.

Não se mostrou arrependido de ter dançado “conforme a música”, mas ponderou: “Os que não se meteram em caixa dois não se elegeram... Talvez eu fosse uma pessoa melhor...”.

A estudantada é a vanguarda da elite brasileira. Vendo-se o documentário de Diógenes Muniz pode-se refletir sobre os jovens, o que é fácil. Desde 1786, difícil é refletir sobre a elite. Até nisso os Libelus ajudam.

“LIBERDADE E LUTA” (NO FESTIVAL É TUDO VERDADE)

  • Quando quarta-feira (30), às 21h
  • Onde pelo site http://etudoverdade.com.br/br/home/ (é preciso fazer cadastro)
  • Preço Grátis

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