Balzac não escapou das cretinices cloroquínicas de seu tempo, o século 19. Ao contrário. Foi um entusiasta da frenologia e da fisiognomia, pseudociências que atribuíam o caráter das pessoas à sua aparência física, a começar pela do crânio.
Num lance de gênio, contudo, também fez com que as roupas, a decoração e a arquitetura expressassem pessoas e costumes —e vice-versa. É por isso que ele diz da dona da pensão em “O Pai Goriot”: “A sua pessoa explica a pensão, assim como a pensão implica sua pessoa”.
A abrangência do recurso evitou que fosse um Lombroso das letras. Sua imaginação titânica não cabia nas próprias crendices: cada um dos 2.472 personagens de “A Comédia Humana” tem traços singulares. Juntos e misturados, e mediados pelo dinheiro, compõem o mural de uma época.
A seguir, verbetes à la Balzac dos lírios envenenados da vala bolsonarista.
Brasília
Sondai-a o quanto quiserdes e jamais conhecereis todos os desvãos da medonha fossa do Planalto Central. Por numerosos que sejam os exploradores do abismo, sempre haverá antros secretos, valhacoutos, mictórios, guaritas, casernas. O Mitômano está em casa.
Damares Alves
Seu rosto desalentado e gorducho, do qual brota um nariz em bico de papagaio, as mãozinhas rechonchudas, o corpo roliço como de uma ratazana de igreja, o busto amplo e oscilante estão em harmonia com o ar fétido que o ministério, enfadado, exala.
Ricardo Salles
Acha que o mundo todo tolera quem tem olho claro. Mas como os incêndios na Amazônia e no Pantanal brilham mais, foi marcado a ferro e fogo pelo que realmente é: arrogante, vaidoso, mesquinho, execrável.
Michelle Bolsonaro
Se as luzes de um baile projetassem reflexos rosados no semblante gasto; se uma carta de amor iluminasse suas faces ligeiramente cavas; se o convívio com gente graciosa lhe reanimasse os olhos fundos, seus dias seriam leves. Como não tem nada disso, e o estrupício a aborrece, retirou uns quilos do abdômen e botou botox rosto.
André Mendonça
Baixinho, franzino, com cabelos ralos e óculos redondos de aro de metal, lembra um funcionário da Gestapo dos filmes de guerra. (Essa não é de Balzac; é do Jô).
Sergio Moro
Nosso Rastignac: topetudo, provinciano, interesseiro, manipulador astuto, um baita arrivista de voz esganiçada. Para ele não há princípios, só circunstâncias; não há leis, mas acontecimentos. Teve na política entrada de leão (grrr!) e saída de cão (caim! caim!).
Braga Netto
Sempre alerta, qual um cavalo de parada ao ouvir o toque do clarim.
Janaina Paschoal
A Salomé do Tatuapé rodopiou a cabeleira ensebada e revirou os olhinhos até obter a cabeça de Lula numa bandeja de prata. Debulhando-se em lágrimas crocodilescas, disse a Dilma que o impeachment era para o bem dos seus netos. Cartesiana que só ela.
Eduardo Pazuello
Concentra todo o suor do corpanzil entre o nariz e o lábio superior, uma característica da casta burocrático-militar.
Dias Toffolli
Com mais gel no cabelo que neurônios no cérebro, traz no corpo as cicatrizes da covardia. Dobra de bom grado a espinha para generais, mas somatiza a subserviência em vagos achaques, lumbagos, abcessos e num engorda-emagrece incessante.
Paulo Guedes
Tem alma de jogador da Bolsa e o pior corte de cabelo da República. Vai de chinelo e meia ao trabalho. Disse ter lido Keynes três vezes e ficou evidente que não entendeu nada. Cultiva
a arrogância dos sem-noção: não conversa, ministra aulas.
Augusto Heleno
Estava à altura do general Sylvio Frota, o pintor de rodapé de quem foi ajudante. Galgou degraus e dragonas servindo gente de alto coturno e baixa catadura.
Regina Duarte
Chegou à pocilga planaltina toda coquete, com olhos vidrados, sorriso automático, o nervosismo de uma alcoviteira que se agasta para se fazer pagar mais caro. Deu-se mal. De volta a São Paulo, caiu na rua e quebrou os dentes.
Carluxo
Hostil e turbulento como Vautrin, de quem um policial de “O Pai Goriot” diz: “Sabem de um segredo? Ele não gosta das mulheres”.
Eduardo Bolsonaro
Fez carreira na Polícia Federal e não passou de escrivão. Deputado, continua um escrivão com cérebro de escrivão de polícia.
Millôr Fernandes
Em 1970, a Redação de O Pasquim foi presa e ele escreveu uma carta a Ivan Lessa, em Londres. Disse dos governantes de então: “A vida não vai acabar já e esses putos não vão durar sempre, muito embora já estejam durando demais pro meu gosto”.
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