quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Bilionário, Fura-Fila de SP faz 20 anos e segue isolado, subutilizado e incompleto, FSP

Fabrício Lobel
SÃO PAULO
"É um pássaro, um avião? Não, é o Fura-Fila." Em tempos de eleição à Prefeitura de São Paulo, em 1996, foi assim que o então candidato Celso Pitta (1997-2000) vendeu o revolucionário modelo de transporte público que transportaria multidões e seria mais rápido e confortável.
Em 1998, as obras começaram e, ainda em testes, foi inaugurado o primeiro trecho.
Hoje, aos 20 anos, sob o nome Expresso Tiradentes e após ter consumido mais de R$ 1,2 bilhão, o projeto Fura-Fila segue subutilizado, incompleto e ainda isolado de outros meios de transporte da cidade de São Paulo.
O antigo Fura-Fila funciona hoje como um corredor de ônibus sobre pistas e viadutos exclusivos durante 8,2 km, desde o centro até um terminal na zona leste (Vila Prudente) e outro na zona sul (Sacomã). A cobrança da passagem é feita previamente, fora do ônibus, o que agiliza o embarque dos passageiros.
A via exclusiva e o sistema de embarque permitem uma velocidade média maior do que qualquer outro corredor de ônibus na cidade. São mais de 40 km/h nos horários de pico (ainda que a velocidade tenha caído 5% de 2013 a 2017). Em outros corredores comuns da cidade, os ônibus trafegam em velocidade média de 18 km/h a 30 km/h nos horários de pico.
Tecnicamente, especialistas classificam o Fura-Fila como o único BRT(sigla em inglês para sistema rápido de ônibus) paulistano, modelo que fica entre um corredor de ônibus comum e um metrô, em sua qualidade de serviço e capacidade de passageiros.
Mas não era essa a ideia original. Em 1996, ao fim da gestão de Paulo Maluf (PP), a prefeitura estudava uma nova rede que pudesse transportar mais pessoas do que um sistema de ônibus comum.
A melhor proposta era uma espécie de ônibus elétrico, biarticulado e guiado de forma mecânica entre canaletas e com o nome técnico de Veículo Leve sobre Pneus. Mas, para Maluf, que queria fazer de Pitta seu sucessor na prefeitura (não havia reeleição), o nome era pouco chamativo.
"Quem inventou esse nome de Fura-Fila foi o marqueteiro Duda Mendonça", explica Francisco Christovam, o então presidente da SPTrans e atual presidente do sindicato que representa as empresas de ônibus de São Paulo.
Christovam diz que o projeto técnico foi apropriado por interesses eleitorais e políticos, e a ideia original, desvirtuada. Em 1999, após os primeiros atrasos na obra do então Fura-Fila, Pitta tirou Christovam do comando do projeto e da SPTrans.
Desde então, as obras chegaram a ser abandonadas, e o volume de recursos destinados ao projeto sofreu uma escalada. Marta Suplicy, então no PT e à frente de uma das quatro gestões que tocaram a obra, chegou a chamar o empreendimento de desgraceira, devido ao alto custo e à baixa efetividade para sanar o caos no transporte público.
O projeto trocou de nome duas vezes e foi inaugurado da forma como está agora em 2007, na gestão Gilberto Kassab (então do DEM), como Expresso Tiradentes.
O empreendimento bilionário demorou uma década para ser construído e atualmente transporta um número bem menor do que o estimado por gestões anteriores.
Em 2001, prometeu-se o transporte de 300 mil passageiros por dia. Em 2007, 350 mil. Mas, até hoje, o número é de 73 mil passageiros por dia (ou 87 mil na média em dias úteis). O valor contabiliza passageiros que embarcaram ao longo do BRT e também os que utilizaram os ônibus que passam por esse trecho.
Na comparação com as linhas que passam pelos outros 11 corredores de ônibus de São Paulo, o antigo Fura-Fila também fica para trás.
O conjunto de linhas do Fura-Fila é o terceiro que menos transporta passageiros na cidade. As linhas que passam pelo corredor da Santo Amaro/Nove de Julho, por exemplo, são as que transportam mais pessoas: 467 mil por dia. Isso representa mais de seis vezes o público que utiliza as linhas do BRT.
Parte da explicação dessa baixa adesão é que ele ainda está incompleto. Em 2006, a gestão Kassab prometeu que o Fura-Fila chegaria a Cidade Tiradentes. O prolongamento da via até o extremo leste motivou a renomeação do projeto para Expresso Tiradentes, nome que tem hoje. Nesse desenho, o BRT chegaria a ter 31,8 km de extensão. 
Mas, em 2009, a ideia foi cancelada, já que o Metrô anunciou o monotrilho da linha 15-prata, que percorreria o mesmo trajeto.
A estimativa era entregar o ramal por trilhos até 2012. Mas a obra ainda não está pronta. A previsão atual é que o Metrô consiga entregar o monotrilho até o bairro de São Mateus, na metade do caminho, no fim deste ano. Não há prazo para que os moradores de Cidade Tiradentes sejam beneficiados por este trecho.
Além disso, falta sinalização sobre o Fura-Fila nos principais mapas de mobilidade de São Paulo, o que dificulta o planejamento de viagens.
Se o paulistano quiser sair da estação Pedro 2º do metrô e ir à estação Sacomã, por exemplo, o caminho mais rápido indicado é de 24 minutos. Nesse deslocamento, o usuário teria que embarcar em duas linhas de metrô e uma de trem da CPTM. Usando apenas linhas do metrô, o percurso é de 30 minutos. Pelo Fura-Fila o trajeto é de cerca de 15 minutos e sem baldeações. 
Francisco Christovam, que esteve à frente do projeto Fura-Fila, argumenta que apesar das falhas, o Expresso Tiradentes é bem cotado pela população pela segurança, confiabilidade e previsibilidade do serviço. "Ainda assim, é o sistema mais bem avaliado de São Paulo pela população."

comentários

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LORENZO FRIGERIO

Há 16 horas
Uma verdadeira catástrofe urbana, exemplo para o monotrilho do PSDB na av. Roberto Marinho, que não fica pronto nunca... além de péssimo exemplo de engenharia, com pilares invadindo as pistas centrais.

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