domingo, 16 de março de 2025

A inteligência humana está diminuindo?, The News

 

 🧠

Grandes pesquisas internacionais indicam que a capacidade média de uma pessoa de processar informações, usar o raciocínio e resolver novos problemas tem caído nos últimos 10-12 anos — ligando um alerta.

  • No geral, há poucos dados e somente dados relativamente recentes sobre fatores como capacidade de atenção, foco, etc.

Mas uma das poucas organizações que realmente fazem esse monitoramento descobriu um aumento acentuado na porcentagem de pessoas que têm dificuldade em funções cognitivas. Veja nos gráficos:

Dificuldade de se concentrar // Dificuldade em aprender coisas novas | Financial Times

Uma das hipóteses é que esse aumento recente é consequência da queda do hábito da leitura, principalmente com as pessoas consumindo cada vez menos textos longos e complexos.

Assim como acontece nos Estados Unidos, como mostra esse gráfico, aqui no Brasil, o hábito de leitura também só diminui ano a ano.

Na pesquisa mais recente, feita em 2024, pela primeira vez, a maioria das pessoas diz não ter lido sequer um livro completo — de qualquer gênero — ao longo dos três meses anteriores.

Mas vai além da leitura… Algumas outras métricas que podem indicar o “nível de inteligência” também apresentam declínio, incluindo raciocínio básico com números e resolução de problemas.

A parcela de adultos em países de alta renda (OCDE) que não conseguem usar o raciocínio matemático ao avaliar afirmações simples ou que têm dificuldade para integrar várias informações de um texto subiu para 25%.

(Imagem: Financial Times)

Ainda que a possibilidade do motivo desse fenômeno mais simples e aceitável seja apenas “internet, smartphones e redes sociais”, pense que eles já existiam em 2015 — ou seja, podem não representar a resposta mais completa para a questão.

Fato é que a grande diferença pode estar na maneira como a gente usava smartphones e mídias sociais no início da década passada e como usamos hoje. Dá para dizer que, antes, o uso era mais “ativo” e ainda “engajava mais o cérebro”.

Mas isso não é mais tão verdade, principalmente depois de mudanças como:

  • A transição de conteúdos visuais mais sociais (de pessoas conhecidas e com quem interagimos ativamente) para algoritmos (sequência infinita de conteúdo de estranhos, mais envolvente e com muito menos participação ativa);

  • A mudança de textos e artigos (material mais longo que exige que o leitor sintetize, faça inferências e reflita) para postagens com legendas curtas e independentes (poucas frases, sem necessidade de pensamento crítico);

  • Explosão no volume e na frequência de notificações, cada uma delas correndo o risco de afastá-lo do que você estava fazendo anteriormente (ou ocupar algum espaço na cabeça, mesmo que você a ignore).

A queda dessas métricas que refletem a capacidade intelectual humana não significa que elas continuarão caindo para sempre, até virarmos uma espécie burra ou menos racional — sai para lá, pessimismo.

Ainda assim, considerando que esses números refletem tanto nosso potencial de inteligência, mas também nossa execução dessa inteligência, essas mudanças no consumo de conteúdo têm impactado a execução de uma boa parte das pessoas.

Endividada, Vibra se desfaz de negócio de biometano enquanto setor se prepara para mandato, Eixos

 A Vibra Energia anunciou nesta segunda (10/3) a sua saída do capital da ZEG Biogás, adquirida em 2022 dentro da estratégia da distribuidora de combustíveis de diversificar seus negócios, de olho na transição energética. 

A saída da ZEG ocorre num momento em que a indústria do gás natural se movimenta para cumprir o mandato do biometano previsto no Combustível do Futuro; e em que a Vibra, por sua vez, vê o seu endividamento crescer. 

Ao comprar 50% da ZEG em 2022, a companhia assumiu um compromisso de investimentos para acelerar o crescimento da produção de biometano.

A Vibra informou que deixará de ter a obrigação de aportar R$ 400 milhões na expansão da ZEG, o que reforça a disciplina na gestão de sua alocação de capital. 

Para encerrar sua presença na empresa de biogás, a Vibra aportará e capitalizará créditos de R$ 40 milhões na ZEG; e pagará R$ 20 milhões aos atuais acionistas da companhia, na proporção de suas participações.

A ZEG inaugurou a sua primeira planta de biometano em 2023, em Jambeiro (SP), com capacidade de 30 mil m3 /dia, e deve iniciar este ano as operações de sua segunda usina, em Aroeira (MG), de 15 mil m3/dia.

Foco na redução da dívida

A prioridade da companhia para 2025 é reduzir os investimentos e custos, para ampliar a geração de caixa e, assim, ter mais fôlego para pagar dívida.

A companhia encerrou 2024 com uma dívida bruta de R$ 19,9 bilhões –  23% a mais que o montante do fim de 2023.

No fim de fevereiro, durante apresentação dos resultados financeiros de 2024, o diretor financeiro da Vibra, Augusto Ribeiro, comentou que a empresa encara, hoje, um cenário mais desafiador, com custo de capital mais elevado.

E disse que a empresa mira para este ano, portanto, o crescimento com rentabilidade e um plano de investimentos mais próximo de R$ 1,5 bilhão – ante o patamar de R$ 1,8 bilhão de 2024.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Hélio Schwartsman - Do caráter subversivo do café, FSP

 Do século 16 até principalmente a segunda metade do 18, soberanos de diversas nações tentaram proibir o café. Eles fracassaram. Basta ver que, hoje, porção não desprezível da humanidade se socorre matinalmente da infusão de grãos de plantas do gênero Coffea. Mas não dá para dizer que a intuição desses reis estivesse errada.

A bebida café deu origem aos cafés, lugares onde pessoas de diferentes estratos sociais se reuniam para apreciar o líquido e conversar. Eram, portanto, do ponto de vista das autoridades, verdadeiros antros de subversão.

A imagem é dividida em duas partes. À esquerda, um personagem laranja com cabelo verde e expressão triste, com a boca aberta e uma gota de saliva azul, está sob o texto 'SEM CAFÉ'. À direita, o mesmo personagem aparece feliz, com os braços levantados em sinal de aprovação, dentro de uma xícara branca com café, sob o texto 'COM CAFÉ'. O fundo é roxo.
Ilustração de Pedro Vinicio - Folhapress

O filósofo alemão Jürgen Habermas corrobora essa tese. Para ele, os cafés na Inglaterra, ao lado dos salões literários na França e das Tischgesellschaften (reuniões ao redor da mesa) na Alemanha, são a origem do que ele chama de esfera pública (Öffentlichkeit), o espaço social discursivo no qual cidadãos identificam problemas, trocam ideias e eventualmente formam consensos. É um traço essencial das democracias contemporâneas, cujas políticas são influenciadas não só pelo voto mas também pela opinião pública.

Vai ganhando tração na sociedade hodierna a noção de que existe o direito de não ser ofendido. O corolário disso é que as pessoas devem sempre contar com espaços seguros, nos quais as ideias que lhe são mais caras estariam ao abrigo de críticas e contestações.

Não vejo como conciliar esse suposto direito de não ser ofendido com a Öffentlichkeit habermasiana. Na verdade, para que o debate público exerça sua mágica, é necessário que cada tese lançada na arena de discussões choque ou tire da zona de conforto uns 30% da população (imagino aqui uma distribuição gaussiana das opiniões).

PUBLICIDADE

Ninguém precisa ser mal-educado ao desafiar as crenças alheias. Como mostraram alguns dos filósofos iluministas, é possível fazê-lo com respeito e elegância. Mas, se precisarmos escolher entre examinar livremente todas as ideias e preservar suscetibilidades, não tenho dúvida de que devemos optar pelo primeiro.

Não dá para proibir o café.