terça-feira, 2 de julho de 2024

Câmara deverá votar nesta terça criação do Parque do Bixiga e do Banespa, FSP

 A segunda e última votação na Câmara Municipal de São Paulo do projeto que cria o parque do Bixiga, na região central da cidade, está pautada para ser realizada nesta terça-feira (2). A expectativa é que a proposta seja aprovada, pondo fim a uma disputa de mais de quatro décadas entre o Teatro Oficina e o Grupo Silvio Santos, que pretendia construir no local três prédios de uso comercial e residencial.

Croqui mostra estudo preliminar para o Parque do Rio Bixiga - Divulgação
Croqui mostra estudo preliminar para o Parque do Rio Bixiga - Divulgação

No mesmo projeto está incluída uma emenda que transforma a área do Clube Banespa, alvo de uma disputa judicial, também em parque.

No caso do Bexiga, por sugestão da Bancada Feminista do PSOL na Câmara Municipal paulistana, o relator Rodrigo Goulart (PSD) incluiu uma emenda para que o entorno do parque seja considerado Território de Interesse da Cultura e da Paisagem (TIPC). Dessa forma, essa região estaria submetida a regras mais restritas para futuras construções e projetos imobiliários.

A covereadora Silvia Ferraro afirma que o objetivo é proteger a área de uma futura especulação imobiliária, que poderia expulsar os moradores atuais do local. "Isto deverá garantir a articulação de políticas habitacionais que garantam a manutenção da população residente e do perfil racial do local", afirma.

A implantação do parque era um sonho do diretor José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, fundador do Teatro Oficina que morreu há cerca de um ano, em julho do ano passado.

PUBLICIDADE

Em março, a Justiça de São Paulo homologou um acordo de R$ 1 bilhão firmado entre o Ministério Público, a Prefeitura de São Paulo e a Uninove (Universidade Nove de Julho) segundo o qual R$ 51 milhões seriam utilizados para a compra do terreno de 11 mil metros quadrados, que sediará o futuro espaço.

Já em relação ao Banespa, a emenda transforma o terreno de 60 mil quadrados do clube em parque. Segundo o vereador Goulart, essa emenda é possível porque o projeto do Bixiga altera a relação de parques no Plano Diretor da cidade, o que viabilizaria, em sua visão, alterações legais que envolvam o mesmo tema.

Ele justifica a criação da área verde como forma de preservação da vegetação que ocupa grande parte do terreno.

A área, localizada no distrito de Santo Amaro, é alvo de uma ação judicial por meio da qual o Santander quer romper o contrato de comodato —empréstimo gratuito— com a associação que administra o Clube Banespa. Em caso de vitória do banco espanhol, o terreno cujo valor é estimado em aproximadamente R$ 1 bilhão poderia ser comercializado no mercado imobiliário.

A transformação do clube em parque impediria a construção de empreendimentos residenciais ou empresariais no local.

Com base rachada, governo Tarcísio recorre ao PT para fechar semestre na Alesp, FSP

 Guilherme Seto

SÃO PAULO

O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue com dificuldades para consolidar sua base de apoio na Assembleia Legislativa de São Paulo e precisou recorrer a um acordo com a bancada do PT para conseguir encerrar o primeiro semestre no Legislativo.

Segundo parlamentares, os problemas concentram-se hoje na insatisfação com o ritmo de pagamento de emendas impositivas, mecanismo que ganha ainda mais importância em ano eleitoral.

A imagem mostra um homem de meia-idade com cabelos grisalhos, vestindo um terno azul escuro, camisa branca e gravata azul clara. Ele está sentado em uma cadeira, olhando para o lado, com uma expressão séria. O fundo é escuro, destacando a figura do homem.
O governador Tarcísio de Freitas durante evento no Palácio dos Bandeirantes - Danilo Verpa-6.mai.2024/Folhapress

É por meio do envio de recursos que os deputados conseguem turbinar as gestões dos candidatos que apoiam nas cidades. As regras eleitorais determinam que pagamentos desse tipo só podem ocorrer até 6 de julho (sábado).

Também há certo incômodo com o estreitamento da relação do governador com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), escolhido por ele na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Parte da bancada bolsonarista prefere o coach Pablo Marçal (PRTB).

Na terça-feira (27), a base do governo na Alesp desistiu de votar projetos prioritários do Executivo por falta de quórum. No dia seguinte, quarta-feira (28), não conseguiu confirmar a presença de 48 deputados para votar o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024, que precisa ser apreciado antes do fim das atividades do semestre para dar início ao recesso.

PUBLICIDADE

Diante da dificuldade, líderes da base de Tarcísio apelaram aos parlamentares do PT na Alesp e costuraram um acordo. O 48º deputado a verificar presença na votação do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias foi Paulo Fiorilo, líder da bancada do PT.

Deputado Teonilio Barba (PT) na Alesp
Deputado Teonílio Barba (PT), 1º secretário da Alesp, durante sessão na Casa - Carol Jacob-5.dez.2019/Divulgação

Em troca da declaração de presença acertada com o PT, o governo desistiu de votar antes do recesso alguns projetos de seu interesse, como a isenção de IPVA para carro híbrido e a transferência de atribuições da Procuradoria-Geral do Estado para a Controladoria-Geral do Estado.

Além disso, também votou 15 projetos de parlamentares da federação do PT (que inclui também PCdoB e PV).

O deputado Teonilio Barba (PT), primeiro-secretário da Alesp, diz que Tarcísio "não tem tido habilidade política com a sua base no parlamento". Ele destaca que outros dois projetos prioritários só foram aprovados na terceira vez que foram a plenário: o das terras devolutas e o das escolas cívico-militares.

"Mesmo a LDO só teve quórum com o voto contrário da oposição, o que comprova a falta de compromisso da base do governador com o estado de São Paulo", afirma Barba.

sábado, 29 de junho de 2024

Chamem o Tiririca, Antonio Prata _FSP

 

Eu tinha uns vinte anos, era colaborador numa novela da Globo e não sei por que cargas d’água fui parar num almoço com uns executivos do canal. Havia muitos talheres, muitos copos, muitos chefes e uma TV ligada, sem volume, no fundo do restaurante, no Projac.

No meio da conversa um mandachuva, que provavelmente tinha pegado o Boni no colo, feito cafuné no Chacrinha e dado chupeta pro Renato Aragão, olha pra TV e se cala.

Tava passando, em "Vale a Pena Ver de Novo", uma cena com uma dessas grandes atrizes, não sei se a Renata Sorrah, a Laura Cardoso ou a Marília Pêra.

Depois de uns segundos ele sorriu satisfeito, como um fazendeiro admirando sua lavoura. Aí disse um negócio que nunca esqueci. "Você reconhece boa atuação é assistindo TV sem volume".

De fato, sem sabermos o que a Renata Sorrah, a Laura Cardoso ou a Marília Pêra falavam, percebíamos sua genialidade, em contraste com a canastrice dos atores menores, que gritava na televisão muda.

Lembrei da cena nesta quinta, assistindo ao debate entre Trump e Biden. Coloquei na CNN, mas a TV estava sem volume e demorei a achar o controle certo. Por mais de um minuto, voltei àquele almoço de duas décadas atrás –e, infelizmente, não vi no Biden nem a Renata Sorrah, nem a Laura Cardoso e nem a Marília Pêra.

A ilustração de Adams Carvalho, publicada na Folha de São Paulo no dia 30 de Junho de 2024, mostra o desenho de uma marreta feita de porcelana branca com estampa florida azul.
Adams Carvalho

Que desastre, meus amigos. Que desastre. Qualquer estreante em "Malhação" teria feito melhor. Trump era Rocky Balboa socando um Dom Lázaro balbuciando "eu quero mamão". Era Arnold Schwarzenegger (em qualquer filme) contra Daniel Day Lewis em "Meu pé esquerdo".

Mano! O país mais poderoso do mundo, o único que tem alguma chance de liderar a luta contra a extrema direita, aos quarenta e cinco do segundo tempo no jogo do apocalipse climático, com mais de 300 milhões de habitantes, não conseguiu arrumar ninguém melhor pra concorrer à presidência do que a Velha Surda de "A praça é nossa"?! Biden parece ter sido escolhido a dedo— por um estrategista republicano.

A direita sempre tem a virilidade em alta conta. Até um homúnculo como Mussolini era vendido como um Hércules, fazendo com que todos os homúnculos da Itália reconhecessem como hercúleas suas existências medíocres.

Vivemos uma crise da masculinidade. O homem hétero não é mais o rei da cocada preta. A "defesa da família tradicional", conversa pra boi dormir e gado acordar, que vem de Trumps, Bolsonaros e quetais, nada mais é do que a promessa de voltarmos à época em que o homem branco e hétero mandava na sua esposa, nos seus filhos, podia zoar o gay no trabalho e desprezar todos os negros.

O slogan "Make América Great Again" podia ser mais explícito e mudar para "Enlarge Your Penis". Um charuto pode ser apenas um charuto, claro, mas desconfio que esses fuzis não sejam apenas fuzis.

Essa virilidade tosca do século 20, rediviva no 21, é ridícula, claro, mas a virilidade, em si, não é. Queremos que um líder seja corajoso, enfático, forte. Nada disso requer, especificamente, testosterona. Margareth Tatcher, Angela Merkel, Marine Le Pen, Simone Tebet, Dilma, Michele Obama não são imagens da fragilidade.

Tampouco precisa ser jovem, um candidato: botassem o Ariano Suassuna no fim da vida pra debater com o Trump e não sobrava uma migalha craquelada daquele bronzeamento artificial. A Erundina arrancava aquela peruca com duas frases.

Por que, ó Deus, ó deusas, o Biden? Se não tem ninguém no partido democrata, não podiam treinar o Tom Hanks? O Ross, de Friends? A Phoebe! O Mickey Mouse? O Pateta? Eu? O Tiririca? Pior do que tá não fica.