segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Cocaína legalizada está chegando, diz startup canadense de R$ 44 milhões, FSP

 Tiffany Kary

BLOOMBERG

Uma startup acaba de ser listada na Bolsa de Valores do Canadá com um modelo de negócios baseado em uma previsão provocativa —a cocaína legal está chegando.

A Safe Supply Streaming está apostando em uma chamada terceira onda de mudanças de políticas que descriminalizariam drogas pesadas, seguindo medidas semelhantes que tornaram a maconha e os psicodélicos mais populares.

A startup planeja adquirir empresas que possam se beneficiar disso, como fabricantes de tiras de teste de fentanil, clínicas de tratamento de dependência e bebidas energéticas contendo folha de coca, de acordo com o CEO Bill Panagiotakopoulos.

A empresa foi avaliada em cerca de US$ 8,6 milhões (R$ 44,4 milhões) no fechamento de quarta-feira (4), com base em suas aproximadamente 79 milhões de ações, em comparação com uma avaliação de US$ 14,6 milhões (R$ 75,4 milhões) em sua rodada de financiamento mais recente.

Cocaína apreendida em Hamburgo, na Alemanha
Cocaína apreendida em Hamburgo, na Alemanha - Cathrin Mueller - 24.fev.2020/Reuters

A Safe Supply tem apresentado aos investidores estimativas de que a cocaína legal na província canadense da Colúmbia Britânica, que recentemente descriminalizou a droga, poderia ser um mercado de US$ 2,3 bilhões (R$ 11,8 bilhões).

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Os fundadores da Safe Supply estão promovendo uma visão abrangente de descriminalização global, apoiando leis que tratarão a venda de drogas como qualquer produto normal, tornando-as regulamentadas, vendidas e taxadas —com base na crença de que a legalização facilitaria uma crise de drogas e reduziria as mortes por overdose.

Em um documento de apresentação cuja capa apresenta um jovem equilibrando-se em um galho de árvore acima de um horizonte urbano noturno, a Safe Supply retrata seu plano de negócios como uma maneira de "construir um mundo melhor e ajudar a encerrar de forma responsável a guerra às drogas".

"Vamos começar a construir um ecossistema, obter um valor de mercado como uma empresa de capital público e começar a adquirir todos esses negócios que o público em geral ainda não percebeu que são negócios de narcóticos", disse Michael Astone, que faz parte do conselho consultivo da Safe Supply e é CEO da ArcStone Securities & Investments, um dos financiadores da empresa.

Vários governos têm adotado a visão de legalização de drogas pesadas. Portugal as descriminalizou em 2001, e o estado americano do Oregon seguiu o exemplo em 2020. No início deste ano, o experimento de descriminalização da Colúmbia Britânica, que abrange desde heroína até metanfetamina, entrou em vigor. E há alguns meses, autoridades de Berna, na Suíça, anunciaram um programa piloto para legalizar a venda de cocaína.

O Canadá tem um programa de "suprimento seguro" destinado a prevenir overdoses fornecendo opioides, estimulantes e outras drogas. Empresas canadenses como a Lucy Scientific Discovery e a Filament Health têm divulgado acordos com a Health Canada que permitem a pesquisa de cocaína.

No entanto, não há dados que sustentem a ideia de que uma oferta legal e regulamentada de cocaína reduziria o custo das mortes por overdose. Mesmo com Vancouver introduzindo políticas para tornar o uso de drogas mais seguro, a cidade continua imersa em uma epidemia de dependência e crimes relacionados a drogas.

Jason Hockenberry, chefe de departamento da Escola de Saúde Pública de Yale, disse que a legalização provavelmente removeria o estigma das drogas, incentivando a experimentação, o uso mais generalizado e, eventualmente, a dependência. "Se você perguntar a uma pessoa se ela experimentaria, ela pode dizer que não. Mas então ela conhece alguém que diz: 'Eu uso cocaína toda sexta à noite', e isso muda a mente dela", disse.

Hockenberry não estava familiarizado com a Safe Supply Streaming. Mas ele fez uma analogia com base em no modelo de investimento da startup. "Se a Anheuser-Busch ou a Bacardi de repente dissessem que usariam parte de sua receita para investir em clínicas Betty Ford [de reabilitação], você consegue imaginar a reação negativa?", disse. "Isso nunca seria aceito".

Ronan Levy, ex-CEO da empresa de psicodélicos Field Trip Health & Wellness e membro do conselho consultivo da Safe Supply, refutou essa caracterização. "Não vemos isso como um conflito", disse, em resposta por email. "Existe uma necessidade imediata e crescente de novos investimentos em instalações de tratamento e recuperação".

Os investidores da Safe Supply incluem Jonathan Goldman, herdeiro de uma empresa imobiliária canadense, e Steve Arbib, fundador da MedReleaf, um produtor de cannabis pioneiro. Ambos investiram na Safe Supply por meio de uma oferta privada, de acordo com a empresa, e por meio de participações na Origin Therapeutics. A Safe Supply anunciou uma aquisição reversa da Origin, uma empresa de psicodélicos, no início deste mês, para abrir seu capital.

Goldman não retornou uma mensagem em busca de comentário, e Arbib se recusou a comentar.

"Estamos conversando com investidores e escritórios de família que ganharam dinheiro com cannabis e entendem o comércio de narcóticos", disse Astone. "Nem todos acreditarão que uma onda está chegando".

Rivais apostam em judicialização de ações da prefeitura para desgastar Nunes, FSP

 

Os três principais pré-candidatos de oposição à Prefeitura de São Paulo no ano que vem têm adotado a judicialização de ações da gestão municipal como estratégia para desgastar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que buscará a reeleição.

Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União Brasil) e Vinicius Poit (Novo)
Os pré-candidatos Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil) - Zanone Fraissat, Karime Xavier, Gabriela Biló e Mathilde Missioneiro/Folhapress

Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil) já apresentaram no total 18 representações contra Nunes desde o começo do ano, média de 1 a cada 15 dias.

Quem lidera o ranking é Tabata, com 7 ações em órgãos como Ministério Público, Justiça Estadual e Tribunal de Contas do Município.

Ela tem se preocupado especialmente com os gastos de publicidade de Nunes. Uma das ações conseguiu barrar um edital que previa contrato de R$ 20 milhões na área. Também fez duas representações contra problemas no serviço da Sabesp. A empresa, embora estadual, tem contrato com a prefeitura.

Boulos aparece em segundo, com 6 representações, todas no Ministério Público. Elas tratam de temas como licitação para fiscalização de ônibus, obras emergenciais sem concorrência pública e omissão no combate às enchentes. Uma delas trata de retiradas de pertences de moradores de rua, um dos temas a que o psolista mais se dedica.

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Kim, por sua vez, já entrou com cinco representações contra Nunes. Ele questionou pontos como remanejamento de recursos de secretarias para aumentar obras de recapeamento asfáltico, ausência de informações no site Dados Abertos, da prefeitura, e assinatura de contratos sem licitação pelo Executivo municipal.

Com a aproximação da eleição e do início oficial da campanha, em meados do ano que vem, a tendência dos três rivais de Nunes é intensificar a judicialização. Já o atual prefeito afirma que grande parte das ações é politicamente motivada.

Ancestralidade para quem?, FSP

 Catarina Ferreira

SÃO PAULO

Assim como o empoderamento aparece a rodo em produtos voltados ao bem-estar feminino, e outros grupos minorizados, a ancestralidade alcançou as marcas que querem dialogar com a população negra.

O que não é um problema, mas pode vir a ser caso a palavra seja empregada fora de contexto, para tentar enegrecer algo que tem pouca ou nenhuma relação com a negritude brasileira.

Ancestralidade é herança. E, no caso das pessoas negras, o legado histórico, cultural e mesmo familiar precisa ser resgatado, não está ao alcance das mãos, em documentos guardados no fundo de alguma gaveta, ou numa busca rápida na internet.

Esteve, porém, na memória daqueles que já se foram, mas, devido à crueldade do racismo, não puderam registrar devidamente sua história. Contudo essa herança resiste, está em hábitos passados de geração em geração, em práticas religiosas, em comunidades tradicionais etc.

Não parece estar, por exemplo, em uma oficina de computação, ou na estampa de uma xícara. Nem em uma marca de beleza, gerida por brancos, que coloca uma modelo negra apenas na campanha do mês de novembro, prática que não é incomum.

Durante uma entrevista com Ana Vitorio, curadora que pesquisa fotolivros na University of the Free State, na África do Sul, perguntei como ela identificava trabalhos que exaltavam, genuinamente, o resgate histórico que o artista diz ter sido sua proposta.

Para ela, cada trabalho parte de "estágios de maturidade diversos" e algumas produções se destacam pela "seriedade da pesquisa e capacidade de aprofundamento", é isso que vai tratar a história de uma forma propositiva.

Fora da arte, o mesmo parece válido. Em vez de apenas colocar a palavra ancestralidade na propaganda, por que não destacar o que do legado afrobrasileiro está presente na iniciativa, marca ou produto?

Caso a intenção seja valorizar características de uma comunidade, religião, ou de alguma filosofia que atravessou o Atlântico junto dos povos negros, vale o esforço para não esvaziar o sentido de algo tão importante.