Você já leu "Revolução dos Bichos" (1945) e "1984" (1949), de George Orwell. Se não leu, faça isso imediatamente, em português ou, se seu inglês for muito bom, no original em inglês. Orwell (1903-1950) foi o mestre moderno da escrita inglesa. Leia seus ensaios e seus textos de jornalismo também e você aprenderá como escrever eticamente em qualquer idioma.
Os livros são textos fundamentais contra o autoritarismo. Orwell os escreveu na noite mais profunda do comunismo e fascismo.
A primeira noite acabou parcialmente em 1945 e finalmente em 1989. Mas hoje o autoritarismo de esquerda e de direita está em marcha outra vez, tendo sido derrotado por margem estreita alguns meses atrás no Brasil e nos EUA, correndo solto na Rússia, sendo implementado com eficiência medonha na
China e assim por diante pelo mundo afora.
Mesmo o estatismo ordinário de Lula e Biden, por exemplo, anda se aproximando pouco a pouco de "todo o poder ao Estado".
Autores antiliberais na língua inglesa em voga no momento, como Mariana Mazzucato, Daron Acemoglu, James Robinson e mesmo Paul Krugman, mas também de fora da anglosfera, acham ótimo que cada vez mais decisões sejam tomadas em Brasília, Washington, Bruxelas e Roma. Nossos senhores nesses lugares são tão inteligentes, honestos e previdentes que nós não passamos de crianças
sob seu comando.
George Orwell se descrevia como socialista. Mas, dada sua experiência com socialistas e, especialmente, com comunistas na última década de sua vida breve, ele estava se aproximando do verdadeiro liberalismo. Não o falso liberalismo dos fascistas do Partido Liberal ou dos social-democratas do Partido Democrata. Ainda em 1940 ele disse que "boa parte do pensamento de esquerda é uma espécie de brincar com fogo por parte de pessoas que nem sequer sabem que o fogo é quente".
Orwell previu nos anos 1940 aquilo que Jair Bolsonaro almejava e que Xi Jinping está realizando: a supressão da liberdade humana, o fim do movimento pela liberdade iniciado no século 18, nossa subordinação à "ordem" e o fim do "progresso".
O’Brien, o representante do Partido descrito por Orwell em "1984", explica, com entusiasmo tenebroso, que "se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto humano —para sempre".
"Há algo de errado em um regime que requer uma pirâmide de cadáveres a cada poucos anos", Orwell destacou. A Ucrânia em 1932-33. E também em 2022. Não embarquemos nesse trem.