quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Minoria capturou Orçamento e tornou o Brasil muito desigual, diz economista, FSP

 Fernando Canzian

SÃO PAULO

Com mais da metade da população brasileira em insegurança alimentar e quase 30 milhões de miseráveis, o Brasil tem recursos mal aproveitados em outras áreas que deveriam ser dirigidos a programas para a primeira infância e aos jovens.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância, Naercio Menezes Filho, se esses indivíduos não forem atendidos agora, vão se tornar dependentes do Estado para o resto de suas vidas.

“O dinheiro existe. A questão é como conseguir mexer com interesses envolvidos na sua distribuição. Uma minoria capturou esses recursos”, afirma Menezes.

"Em vez de termos programas e subsídios ineficientes, que seja feita uma coisa simples: a transferência de mais dinheiro diretamente aos mais pobres.”

Segundo seus cálculos, para cada R$ 1 a mais per capita oferecido em um programa como o Bolsa Família, o PIB per capita do município onde o dinheiro é gasto aumenta R$ 4, o que contribuiria para a aceleração do crescimento e o desenvolvimento de economias locais.

Retrato do professor e economista do Insper Naercio Menezes Filho (56) em sua casa na zona sul de São Paulo - Bruno Santos - 27.set.2021/Folhapress

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Na comparação internacional, o Brasil não gasta pouco na área social. São cerca de 25% do PIB, com despesas crescentes na educação, chave para o aumento da renda e da produtividade. Mas a taxa de pobreza segue elevada. O que aconteceu? De fato, aumentamos muito os gastos com educação e saúde nos últimos 30 anos. No ensino médio, aumentou cerca de três vezes de 2000 para cá. Mas só o gasto com educação não é suficiente para eliminar a pobreza de forma definitiva.

Tem uma parcela da população que já nasce em família muito pobre e não consegue ter as condições mínimas para o aprendizado e para passar de ano, porque não consegue desenvolver habilidades sócio-emocionais, como persistência e garra. Nem as cognitivas.

Há pesquisas recentes que mostram claramente que os primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento infantil saudável. Se você nasce em condições de pobreza, sem saneamento básico, em casas lotadas, com pais sem instrução e que não tiveram a oportunidade de se educar, você acaba ficando com desenvolvimento prejudicado.

Sem um bom desenvolvimento infantil, a pessoa não consegue aprender, não tem aquela vontade de fazer a lição de casa, de ir atrás, de se esforçar e fazer perguntas aos professores.

Estamos gastando mais, mas isso muitas vezes não adianta para as crianças em famílias muito pobres. Além disso, não é só o gasto que importa, mas a gestão na educação.

Há redes de ensino em municípios pobres que não têm a mínima capacidade gerencial. O Brasil tem mais de 5.500 municípios, a maioria muito pequenos, sem gestores com nível educacional elevado que saibam planejar e executar, cobrar metas de professores e alunos.

Nos últimos 30 anos, o Brasil incluiu muitas pessoas na escola, gente que não chegava ao ensino médio. Mas só o gasto não é suficiente.

O Bolsa Família foi criado em 2003 para focar na primeira infância. Obriga as crianças a visitar posto de saúde e manter frequência escolar mínima (85% das aulas para alunos de 6 a 15 anos e de 75% para os de 16 e 17 anos). Qual o resultado? No início, o Bolsa Família foi criado para eliminar a pobreza extrema e não deixar que nenhuma família passasse fome. Ele chegou a atingir o objetivo. Só que duas coisas aconteceram depois.

Primeiro, o valor não foi reajustado de acordo com a inflação e hoje está baixo [o último reajuste foi em 2018].

O segundo é que sua cobertura não foi ampliada de acordo com o aumento da pobreza.

Mas o programa sempre foi muito elogiado pela sua eficiência. Gasta-se pouco [R$ 35 bilhões/ano; 0,5% do PIB] e consegue-se praticamente eliminar aquela pobreza extrema com o passar do tempo. Mas esse pouco é pouco demais.

Para acabar com a pobreza extrema você precisaria, dependendo da região, transferir R$ 500 ou R$ 600 por família, especialmente para aquelas com crianças pequenas.

Em algumas regiões, os quase R$ 200 em média pagos atualmente pelo Bolsa Família não são suficientes sequer para acabar com a pobreza extrema, porque os gastos com alimentação são maiores que isso. O Bolsa Família precisa ser aperfeiçoado e chegar a todos extremamente pobres.

É possível fazer isso usando o aplicativo do governo federal que foi desenvolvido na pandemia para o auxílio emergencial. Para as famílias com crianças pequenas, não adianta só os pais terem o suficiente para comer, mas não para comprar remédio, roupa e as crianças se desenvolverem em um ambiente saudável, em que a mãe tem tempo para conversar e interagir com o filho. Isso é essencial.

Uma criança que vive num lar de dificuldades, em que vê a mãe preocupada com dinheiro, tendo que trabalhar sem ter com quem deixar os filhos, que não interage, essa criança vai demorar mais para começar a falar, a andar e, depois, terá muita dificuldade de aprendizado.

Ela vai ser uma daquelas crianças conturbadas, coisa que a neurociência vem explicando muito bem.

Dificilmente ela sairá bem formada de um ensino médio e conseguirá um emprego formal, onde há mais produtividade e onde se paga mais impostos. Isso gera um círculo vicioso, nocivo para a perpetuação da pobreza e para a economia.

Sei que o dinheiro é escasso e que temos uma questão fiscal relevante no presente, mas a coisa mais importante que podemos fazer para o país é investir mais nessas crianças para termos alguma chance de mudar no futuro.

Quais seriam as alternativas para financiar mais gastos voltados à primeira infância? Os recursos existem. A questão é como mexer na distribuição, com uma minoria que capturou esses recursos. Como, por exemplo, com os subsídios a grupos e setores [quase R$ 310 bilhões/ano].

Isso passa por muita coisa, porque o Brasil é um país estruturalmente desigual. As pessoas que nasceram em famílias mais privilegiadas têm uma série de benefícios que as pessoas mais pobres não têm.

Desde descontar gastos com saúde e educação no Imposto de Renda a estudar numa universidade pública de graça depois de passar a vida em escolas privadas.

O que defendo é que, em vez de termos todos esses programas e subsídios ineficientes, que seja feita uma coisa simples: transferência direta de mais dinheiro aos mais pobres.

Para isso, não é necessário criar novo ministério ou estrutura administrativa. Basta dar um cartão para essas pessoas. Já temos a tecnologia para fazer isso. Temos o Bolsa Família, o Cadastro Único [sistema nacional de informações para fins de inclusão em programas sociais] e o registro das pessoas que precisaram receber o auxílio emergencial.

Precisamos usar tudo isso em um programa eficiente, com valor maior, com dinheiro fornecido diretamente no caixa. Para que as pessoas possam sacar sozinhas, sem assistencialismo, sem influência política.

Isso permitiria à família criar essa criança, com as mães interagindo com elas. Depois, entram o sistema de educação, de saúde, onde já gastamos bastante, apesar de serem necessários aperfeiçoamentos.

Mas hoje é como se o Brasil tivesse ido só até a metade do caminho. Falta a outra metade, que é a inclusão dessas crianças, desde o nascimento. Com mais recursos do que o disponibilizado hoje pelo Bolsa Família.

Pois mesmo que a economia cresça e consiga gerar empregos, essas pessoas muito pobres na infância terão deficiências acumuladas que tornarão difícil a elas se beneficiem disso.

Uma parcela da sociedade é contra esse tipo de inciativa. Dizem que gera acomodação entre os beneficiários. Como responder a essa preocupação? Sim, existe um risco se você transferir muito dinheiro para os pais. Há a tentação de evitar o trabalho formal, por exemplo; e o temor de aparecer nas bases de dados e perder o benefício. Mas esse risco é menor do que o de essas famílias acabarem tendo filhos que vão depender de recursos públicos para o resto da vida.

Quando essas crianças não têm o desenvolvimento adequado, elas vão se tornar “nem-nem”, que nem estudam nem trabalham.

Esses jovens vão ficar dependendo de alguma maneira do Estado para sempre, porque não vão conseguir se inserir no setor formal da economia.

Pois não têm nenhuma experiência. A única coisa que podem fazer é entregar comida por aplicativo. Essas pessoas vão acabar sugando as finanças públicas, de um jeito ou de outro, para o resto da vida, reforçando o ciclo de pobreza. Essa é a chamada pobreza estrutural.

Apesar da necessidade de mais investimentos nas crianças, a principal causa relacionada à pobreza parece ser o baixo crescimento e a estagnação, há anos, da produtividade, não? Se voltarmos atrás, o Brasil cresceu muito nos anos 1960 e 1970, época do milagre econômico, porque trouxemos o pessoal que estava na zona rural, numa agricultura de subsistência, para os centros urbanos. Trabalhando no setor de serviços, mesmo que ganhando pouco, é melhor do que subsistir da roça.

Quando as pessoas vieram para os centros urbanos, elas começaram a ganhar um pouco mais, a ser mais produtivas. Aí, a economia começa a crescer. Na hora que esse ciclo se esgota, é preciso outras coisas, como educação e capital humano, saúde e tecnologia.

E não tivemos isso de forma consistente no Brasil nos últimos 40 anos. Esgotou-se essa fonte de crescimento, que é o que está acontecendo na China hoje, com a diminuição da migração rural-urbana.

Não tivemos um novo motor para estimular o crescimento. Aos poucos, colocamos os jovens na escola, até o ensino médio. Mas a qualidade do aprendizado segue muito ruim, assim como a da saúde.

E não tem incentivo, nem para as pessoas se educarem mais, nem para as empresas investirem em tecnologia e gerenciamento. As firmas brasileiras são geridas pessimamente também, mesmo na indústria.

Porque não tem competição, concorrência internacional, tem muito subsídio do governo.

No caso dos jovens, por que eles se tornam “nem-nem”? Porque acham que nunca terão condições de competir e ter uma vida digna. Essa falta de investimento desde a primeira infância faz com que esses jovens olhem para os seus pais, seus amigos e pensem: "Não sou eu que vou morar num apartamento legal, que vou ficar rico. Isso não é para mim”. Por isso, muitos desistem de estudar no meio do caminho.

É preciso dar oportunidades às pessoas realizarem seus sonhos. Um pacote no início da vida que vai permitir isso. E, para as empresas, competição. Abrir a economia, integrar as cadeias de valor, simplificar a estrutura tributária. Não fazemos nada disso.

Temos desigualdade persistente, um monte de gente perdida e sem esperança, e as empresas acomodadas, sem investir, sem inovar. E assim estamos parados há quatro décadas.​


NAERCIO MENEZES FILHO, 56

Professor da Cátedra Ruth Cardoso no Insper e da FEA-USP, é diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância e membro da Academia Brasileira de Ciência. Tem Ph.D. em economia pela Universidade de Londres, com mestrado e graduação, também em economia, pela USP

Da CPI para Augusto Aras, com carinho, Conrado Hübner Mendes, FSP

 Bolsonaro repete hoje ilícitos que chocavam ontem. Amanhã praticará ilícitos que já não chocam hoje. CPI do Senado e STF buscam no passado provas de condutas que Bolsonaro reencena no presente.

E sabem que, a depender de Aras e Lira, a condenação por crime comum ou de responsabilidade estará bloqueada. Aras vê festa cívica em tentativa de golpe e liberdade nos festejos pelo coronavírus. Lira vê falta de materialidade.

O abismo entre o tempo judicial e o tempo da delinquência bolsonarista escancara a leniência institucional. Por décadas, o modus vivendi e operandi de um parlamentar "polêmico" e "incivil" passou impune.

Na Presidência, nem a enormidade de danos vitais, materiais e simbólicos, derivados de seu comportamento, permitiu a instituições o neutralizarem a tempo. A tempo "razoável", no apelo constitucional. Ou a tempo de poupar milhares de vidas.

TSE tem na gaveta casos que pedem cassação da chapa eleitoral de 2018 e casos que pedem a sanção de inelegibilidade em 2022. São a terceira via que Aras e Lira não podem trancar. Sobram provas e razões jurídicas. Faltam fibra e disposição para julgar, virtudes que a magistocracia não cultiva. Não há sequer data de julgamento, só cálculos de conveniência pela aritmética do medo e da autopreservação.

Bolsonaro está há poucas semanas sem xingar ministro e ameaçar intervenção no STF (como no 7 de Setembro e nos meses anteriores). Continua a rejeitar vacinas, medidas sanitárias e a defender erro médico (apelidado de "tratamento precoce").

Continua a eviscerar o Estado da capacidade de promover direitos e liberdades por meio das políticas constitucionais obrigatórias que descumpre.

O método de incapacitação estatal se baseia no tripé da omissão, da intimidação e do corte arbitrário de recursos, com toques de militarização. As profissões incumbidas do livre pensar, inovar e fiscalizar, como professores, cientistas, jornalistas e artistas, seguem sob o tripé da vigilância, da estigmatização e do negacionismo. Mas agentes tronchos, no Judiciário e no Congresso, creem ter moderado, ou ao menos controlado, o autocrata.

Dentro de poucos dias, a CPI do Senado publicará seu relatório. Apurou omissão e corrupção na compra de vacinas; gabinete paralelo que deixou Manaus sem oxigênio; aplicativo que prescreve "kit Covid" até para criança; campanha "Brasil não pode parar"; experimentos humanos sob respaldo de parecer, ainda vigente, do Conselho Federal de Medicina, cuja malícia tentou criar imunidade criminal sob o manto da autonomia médica.

"O relatório não é o fim, mas novo começo", disse o senador Randolfe Rodrigues. O maior desafio desse "novo começo" será a omissão desaforada do PGR, agraciado com novo mandato pelos próprios senadores —por Renan Calheiros, Omar Aziz, por senadores à esquerda e à direita que, excitados pelo garantismo retórico, optaram por seu contrário. Um faro político acima da moral republicana.

Se Augusto Aras sentar em cima do relatório, ou disfarçar colaboracionismo por meio de "averiguações preliminares" sem dentes, o que fazer?

Sua omissão irrecorrível parasita um ponto cego da Constituição. Senadores anunciam querer contorná-lo por gambiarra processual: a ação penal privada, subsidiária da pública, decorrente do direito de vítimas, quando o Ministério Público nada faz, entrarem com ação penal por sua própria conta (art. 5º, LIX, da Constituição).

A saída é arriscada por várias razões. Primeiro, pela falta de regras claras sobre prazos que delimitem inércia do MP e definam quem pode propor ação subsidiária quando vítimas são incertas; segundo porque, ao relativizar, sem maiores critérios, o monopólio estatal para acusações penais, abre uma porta perigosa para a politização desenfreada do direito penal.

O canto da sereia lavajatista reaparece com outra roupa. Desta vez, um lavajatismo pilotado não por meia dúzia de procuradores televisivos com mania de heroísmo, mas por agentes políticos quaisquer e seus advogados "garantistas" (por autodeclaração). A tese de que "situações anormais e excepcionais" escapam do "regramento genérico dos casos comuns", lembre-se, sintetiza a doutrina lavajatista. Foi elaborada pelo Judiciário. O resto é história.

Momentos de exceção e de ataque extremista justificam alguma heterodoxia processual de autodefesa. Mas que se previna a overdose. E que se priorize a boa reforma de instituições vulneráveis demais à captura por um PGR qualquer (o que não faz a PEC 5, de autoria do deputado Paulo Teixeira, mas isso ficará para uma próxima coluna).

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

SENTIR E PENSAR - José Benjamim de Lima . do site da APMP

 Num de seus belos poemas, Fernando Pessoa escreve: “o que em mim sente está pensando”. O

poema, sem título, identificado pelo primeiro verso, “Ela canta, pobre ceifeira”, trata de um

tema que sempre perseguiu o poeta, uma desolada percepção de que pensamento e sentimento

são irremediavelmente incompatíveis entre si.

Para Pessoa, a grande tragédia de uma parcela dos seres humanos parece estar no fato de serem

entes de razão, seres pensantes, que, ao pensarem, perdem o melhor da vida, que é a

espontaneidade do próprio viver, do sentir. O poema faz um contraponto entre a pobre ceifeira

que canta e o “eu lírico” do poeta que a inveja, por não ter a mesma espontaneidade.

No entender dele, o pensamento destrói o sentimento. Pensar o sentimento é perdê-lo. Incapaz

de ser apenas puro e espontâneo sentimento, seu sonho é ser como a ceifeira, mas sem abrir

mão da consciência: “Ah, poder ser tu, sendo eu! / Ter a tua alegre inconsciência,/ E a

consciência disso! Ó céu!”

O poeta jamais renuncia ao pensar e gostaria de conciliar pensamento e sentimento, o que se

mostra impossível, na medida em que separa radicalmente essas duas faculdades humanas. Daí,

lamentar sua incapacidade de harmonizá-las, incapacidade da qual advém sua angústia e

sofrimento. Enquanto isso, a pobre ceifeira é feliz, porque apenas canta, sem pensar que seu

ato tenha qualquer sentido além dele próprio.

Também no seu mais conhecido poema “Tabacaria”, escrito pelo heterônimo Álvaro de Campos,

o conflito entre sentir e pensar se manifesta: “Come chocolates, pequena: / Come chocolates!

[....]/Come, pequena suja, come!/ Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com

que comes!/ Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, /Deito tudo

para o chão, como tenho deitado a vida.” Tanto a criança como a ceifeira seriam mais felizes

que ele, porque não têm consciência da vida; limitar-se-iam apenas a viver. “O guardador de

rebanhos”, composto pelo seu heterônimo Alberto Caeiro, é um manual poético da negação do

pensar em favor da simplicidade do sentir, do existir, do viver.

A neurobiologia atual vem mostrando que a pessoa só atinge um padrão satisfatório de saúde

física e mental quando consegue ser capaz de um pensar e um sentir integrados. O neurologista

António Damásio, no livro “Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos”, nos

diz: “[....] quando temos a experiência de um sentimento positivo, a mente representa mais do

que bem-estar, a mente representa também bem-pensar. [...] sentir a tristeza não diz respeito

apenas ao mal-estar. Diz respeito também a um modo ineficiente de pensar, concentrado em

torno de um número limitado de ideias de perda”.

Ou seja, na perspectiva da ciência, Pessoa está equivocado. Não é que a pobre ceifeira não

pense. O que ocorre é que, nela, pensamento e sentimento estão indissoluvelmente

conectados. Não existe sentimento feliz sem pensamento feliz. Não há separação entre pensar

e sentir. O seu cantar feliz é indissociável do seu pensar feliz, assim como o pensamento infeliz

do poeta não lhe permite senão o sentimento também infeliz. Ao se deixar dominar por um

pensamento que se desgarra do sentimento, o “eu lírico” Fernando Pessoa se condena à

infelicidade. Esse “modo ineficiente de pensar” é causa de sofrimento para o poeta; mas é, 

também, responsável pela criação dos belíssimos poemas, com os quais brindou a humanidade!

Bom para nós, seus leitores... (limajb@gmail.com)