sábado, 1 de junho de 2019

De Dilma a Bolsonaro, Afif resiste a trocas e usa diálogo para se perpetuar no poder, FSP

Assessor do ministro Paulo Guedes, ele emenda terceiro governo consecutivo com cargo

    Joelmir Tavares
    SÃO PAULO
    Dos poucos elementos que sobreviveram ao furacão recente da política brasileira, um é bastante habituado a resistir às mudanças de ventos. Guilherme Afif Domingos atravessou as gestões Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) com cargos em Brasília e se manteve no poder com a chegada de Jair Bolsonaro (PSL).
    Assessor especial do ministro Paulo Guedes (Economia), o paulistano de 75 anos de idade, 40 deles na vida pública, tem uma biografia digna da alcunha de camaleão político. Ele chegou a ser, ao mesmo tempo, vice do tucano Geraldo Alckmin no Governo de São Paulo e ministro da petista Dilma.
    Em diferentes épocas, o liberal convicto já esteve ao lado de figuras tão díspares quanto o ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf (PP), o ex-presidente Lula (PT) e o senador José Serra (PSDB). Já foi deputado federal, secretário estadual em São Paulo e candidato à Presidência da República.
    Sob Dilma, foi ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Quando a pasta foi extinta, a petista o indicou para presidir o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Temer, que ascendeu após o impeachment, deixou Afif no posto.
    Como integrante da gestão Bolsonaro, ele prefere os bastidores aos holofotes. Procurado pela Folha, o escudeiro de Guedes disse que um bom assessor é o que pouco aparece. Afirmou que sua trajetória ecumênica é fruto simplesmente de disposição para "conversar com todos".
    ​"Na engenharia, o menor caminho entre dois pontos é uma linha reta. Na política nem sempre. É como seguir os meandros de um rio. É a arte de contornar obstáculos", filosofou, ao ser indagado sobre a habilidade que lhe permitiu, nos últimos anos, nadar sem dificuldades nas águas do radicalismo político nacional.
    Tornou-se querido por Dilma, que já o aclamou em discurso pelo papel de "liderança e protagonismo" na valorização das micro e pequenas empresas no país. De Guedes, com quem trabalha desde janeiro, não mereceu ainda elogios públicos. O titular da Economia, no entanto, vê o amigo como a pessoa de seu entorno mais experiente em política.
    No dia a dia, é homem de confiança do ministro para mesas de negociação, território que domina. Tem a agenda preenchida por reuniões com empresários e com interlocutores no Congresso.

    ATÉ SÉRIE DA LAVA JATO

    A convivência com diferentes políticos e partidos ao longo dos anos levou Afif a aparecer na abertura da segunda temporada de "O Mecanismo", a série da Netflix inspirada na Lava Jato. Ele surge na tela com os olhos cobertos por uma tarja, aplicada sobre uma imagem do período em que era vice de Alckmin.
    O tucano, em primeiro plano na gravação, também teve os olhos pixelados na vinheta, que expõe em sequência FHC, Lula, Temer, Dilma, José Dirceu, José Sarney, Aécio Neves e outras pessoas que mandaram no Brasil de 1990 para cá.
    Afif não é citado na operação anticorrupção nem é lembrado nos capítulos da série. Ele ficou aliviado ao saber que a menção se restringiu à abertura. Não pode negar, afinal, ter feito parte da história recente do poder.
    Sempre que questionado, o descendente de libaneses e italianos busca combater a imagem de que o relacionamento com um amplo arco de ideologias seria sinal de oportunismo ou aproximação por interesse.
    Costuma falar que é o contrário: que é um político de bandeira (no seu caso, a pauta dos pequenos empreendedores) e que se move para defender a causa. Diz também que aprende mais com quem diverge dele do que com quem pensa parecido.
    Um livreto sobre sua história que Afif mostra a quem o visita em seu escritório na capital paulista ilustra bem a versatilidade, com fotos dele ao lado de todos os presidentes desde a redemocratização.
    Uma das imagens é com Lula, em 2003, discutindo a lei do MEI (microempreendedor individual). Os dois foram deputados constituintes, nos anos 1980. Afif guarda no celular a cópia de uma entrevista de Lula à revista Veja nessa época, na qual o petista se referia a ele como um empresário moderno, “com a mentalidade um pouco mais arejada”.
    Anos depois, em 2009, Afif criticaria o governo do PT pela escassez de investimentos, chamaria o PAC de “plano de abuso da credulidade” e atacaria a pré-candidatura de Dilma: “É a mesma coisa que entregar um Boeing para quem nunca pilotou um teco-teco”.
    As falas não impediram a ida para o governo dela, quatro anos mais tarde, empenhado em promover "geração de emprego e distribuição de renda", como ele justificou em sua posse. Outros ares.
    Embora tenha se afastado do PT, Afif discorda, por razões jurídicas, da prisão de Lula. Argumenta que a Constituição é clara ao prever a prisão somente depois de esgotados todos os recursos. Critica também a prisão de Temer, que considera injustificável.
    ​Ele, que teve o aval do emedebista para se manter à frente do Sebrae, se licenciou da presidência da entidade um ano atrás para tentar ser o candidato de seu partido à Presidência da República. Seria sua segunda corrida ao Planalto —terminou em sexto lugar na de 1989, vencida por Fernando Collor de Mello.
    Afif se ressente até hoje por ter sido escanteado por Alckmin quando este percebeu que seu então braço direito negociava, com GilbertoKassab, a fundação de uma legenda. Acabou virando, na época, um vice decorativo.
    No ano passado, quando ele ainda se esforçava para emplacar seu nome, alfinetou o futuro chefe em entrevista à rádio Jovem Pan. Afif disse que Guedes deveria “estar tendo uma dificuldade danada” para convencer o então candidato Bolsonaro sobre ideias liberais. Águas passadas.
     
    Afif, ao fundo, após reunião do presidente Jair Bolsonaro com o ministro Paulo Guedes (Economia)
    Afif, ao fundo, após reunião do presidente Jair Bolsonaro com o ministro Paulo Guedes (Economia) - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

    OTIMISMO

    Hoje como parte do governo, o colaborador do ministro da Economia adota em público a linha otimista. Diz crer que a reforma da Previdência, tão sonhada pela equipe, com certeza será aprovada neste ano. Mas advoga que o presidente faça uma defesa mais enfática do projeto.
    O assessor chegou ao cargo a convite de Guedes, de quem é amigo há décadas. O hoje ministro foi responsável pelo capítulo econômico do plano de governo de Afif na campanha dele ao Planalto em 1989.
    "Depois de 30 anos, finalmente a gente vai poder ajudar a construir um projeto liberal", disse Afif à Folha em dezembro, quando aceitou o chamado de Guedes para trabalharem juntos por questões como desburocratização, retomada do crescimento e reequilíbrio das contas públicas.
    Nessa missão, o assessor se deparou recentemente com uma, por assim dizer, oposição doméstica. Depois que o governo bloqueou recursos para a educação, protestos de rua eclodiram pelo país em 15 de maio. Na manifestação de São Paulo, entre os participantes estava um dos netos de Afif.

    CAMALEÃO POLÍTICO

    Partidos pelos quais passou
    PDS, PL e PFL (atual Democratas). Em 2011, com Gilberto Kassab, fundou o PSD, onde está até hoje
    Principais cargos
    • Presidente da Associação Comercial de São Paulo (anos 1980 e anos 2000)
    • Secretário estadual em São Paulo nas gestões Paulo Maluf (1980-1982), José Serra (2007-2010) e Alckmin (2011)
    • Deputado federal (1987-1991)
    • Vice-governador de São Paulo no governo Geraldo Alckmin (2011-2014)
    • Ministro de Micro e Pequena Empresa no governo Dilma Rousseff (2013-2015)
    • Presidente nacional do Sebrae (2015-2018)

    Renovado, bar Riviera chega aos 70 anos em clima de saudade, OESP

    Gilberto Amendola, O Estado de São Paulo
    01 de junho de 2019 | 15h55
    Bar Riviera
    O Bar Riviera, localizado na Av. Paulista, 2584, que completa 70 anos Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
    “A consolação do paulista é o bar.” A frase é do cartunista Chico Caruso, um dos frequentadores históricos do Riviera Bar, localizado exatamente na esquina da Avenida Paulista com a Consolação. Apesar dos percalços do tempo, fases ruins e interrupções, uma das instituições etílicas mais duradouras da cidade chegou aos 70 anos. “Frequentei tanto que parte do meu doutorado não foi em Harvard, como agora é moda, mas no Riviera”, disse o outro Caruso cartunista, o Paulo
    O bar foi inaugurado em 1949 no térreo de um ícone modernista, o edifício Anchieta (projeto do escritório de arquitetura MMM Roberto). A abertura do processo de tombamento do prédio começou em 2004. Segundo o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp), a oficialização do tombamento está prevista para esse ano.
    No início dos anos 1950, o lugar lembrava um salão de chá e era frequentado pela aristocracia da cidade. Apesar do glamour, foram os anos 1960 e 1970 que construíram a mística do bar. “Até hoje quando fico um pouco aborrecido com a vida, vou caminhar pela Consolação, perto do Riviera, para relaxar e ter boas lembranças”, confessou o artista plástico e arquiteto Claudio Tozzi. 
    No período do regime militar, o Riviera foi uma espécie de extensão da vida estudantil da Rua Maria Antônia, na Vila Buarque. Na ocasião, alunos da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e do Mackenzie – bem como estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – subiam a Consolação rumo ao bar ou ao cinema, o Belas Artes. “Ia de segunda a segunda. A gente se sentia insegura com o País. E sozinha. Ir ao Riviera era uma oportunidade de encontrar nossa turma. Era nossa válvula de escape. A gente namorava, falava de política e, enfim, vivia”, disse a jornalista Dina Amendola.
    O advogado e ex-deputado federal Airton Soares lembra que existia uma espécie de código entre frequentadores. “Quem ficava no andar de baixo, estava lá para debater política ou paquerar. Agora, se você subia acompanhado, era porque o namoro era sério e você queria um pouco de privacidade.” Soares também apontou o fato de a frequência estudantil ter chamado muita atenção dos policiais e militares. “Às vezes, tinha gente lá só para ficar escutando as nossas conversas.”
    Bar Riviera
    Anúncio publicado na página 33 da edição de 19 de junho de 1949 de O Estado de S. Paulo, com propaganda do edifício Aliança, onde fica o bar Riviera Foto: ACERVO ESTADÃO
    Carimbo. Não faltam acontecimentos marcantes na vida cultural da cidade com o “carimbo Riviera”. Entre os mais conhecidos estão a festa de Chico Buarque pela vitória de A Banda no Festival da Canção, de 1966 (a música empatou com Disparada, de Geraldo Vandré, em primeiro lugar) e o fato de o fanzine O Balão ser vendido no bar. A publicação contava com nomes como Laerte, Luiz Gê, Angeli e os irmãos Caruso. Angeli, por exemplo, inspirou-se em frequentadoras do Riviera para criar uma de suas personagens mais emblemáticas, a Rebordosa, e muitas outras histórias.
    Foi na década de 1990 que o bar começou um processo de decadência. Saíram os estudantes e sobraram funcionários de escritórios. O local perdeu prestígio. As mesas estavam cada vez mais bambas, os garçons, menos marcantes e a cerveja, mais quente. No fim daquela década, ex-frequentadores tentaram reerguer o Riviera, transformando-o em uma espécie de centro cultural. 
    Infelizmente, a iniciativa não prosperou. O Riviera fechou as portas em 2006. Só sete anos depois, voltou a ser ocupado por iniciativa do empresário Facundo Guerra e do chef Alex Atala. Hoje, é gerido por aquele que já foi conhecido (e ainda é) como o rei da noite paulistana, o empresário José Victor Oliva, que entre os anos 1980 e 1990 (justamente no período em que o antigo Riviera entrava em decadência) fazia sucesso com casas noturnas como The Gallery, Banana Café, Moinho Santo Antônio e Resumo da Ópera. 
    Repaginado. Hoje, o Riviera está mudado. Não é mais a chamada esquerda estudantil a ocupar suas mesas (que alguns chamavam maldosamente de esquerda festiva). O público se adequou aos novos tempos. No térreo, um balcão vermelho serpenteia o ambiente. Clientes provam coquetéis reconhecidamente bem executados. Pouco se fala de política. No andar de cima, estão as mesas maiores, é possível namorar, fechar negócios, fazer festas de aniversário e apreciar uma visão emblemática da cidade (parte da Avenida Paulista e da Rebouças). Tudo isso, às vezes, ao som de uma banda de jazz.
    De vez em quando passa por lá um cliente saudoso: “Quando passo naquela esquina, farol luminoso a orientar a pujança de uma cidade em constante ebulição, é como se voltasse a respirar uma atmosfera de juventude que ficou espalhada pelas paredes daquele bar atemporal”, confessou o músico Toquinho. 
    Bar Riviera
    Jose Victor Oliva, atual proprietário do Bar Riviera Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
    5 PERGUNTAS PARA:
    José Victor Oliva, empresário, atual dono do Riviera
    1. O que é o Riviera para você? Eu trato isso como uma joia, um caso de amor. O Riviera é um dos quatro ou cinco bares mais bonitos, charmosos e sexies que eu conheço. Sabe, essa coisa meio sexy das paredes redondas... Quando desfiz a sociedade com o Facundo Guerra, quis ficar com o Riviera. Ele é importante demais e precisa ser bem mantido. 
    2. Ele dá lucro? Hoje eu não tenho mais um restaurante desse pelo lucro, mas pelo tesão que é ter o Riviera. É uma obra de arte. É como uma escultura, um carro antigo.
    3. Quem é o seu cliente hoje? Gente que gosta de coisa bem feita, de um lugar bacana e alegre. E com esse visual metropolitano, que também lembra Nova York e Tóquio.
    4. A noite mudou muito dos tempos do Gallery pra cá? As pessoas mudaram. Hoje, o cliente sabe o que é um bom vinho. Antes, as casas tinham dois ou três rótulos. Tinha vodca, uísque e champanhe. Hoje, a noite é coquetelaria. Antigamente, o barman era alguém que colocava gelo no uísque e, às vezes, um clube soda. Agora, eles são verdadeiros artistas.
    5. Sente falta da noite do passado?Eu sinto falta do romantismo. Hoje é difícil achar um lugar para dançar de rosto colado. Não sei quando isso voltará, mas irá voltar. A noite é pendular. Uma hora, o romantismo estará de volta.

    Frente de Energia é lançada com demanda contra barragem em Pedreira

    A Frente Parlamentar em Defesa do Setor de Energia, Barragens, Saneamento Básico e Recursos Hídricos, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), será lançada no dia 5 de junho, às 16h30, no Auditório Teotônio Vilela, com a presença de movimentos sociais e sindicais dos respectivos setores. A atividade é aberta à população. Antes mesmo do seu lançamento, a Frente já trabalha para barrar a construção de uma barragem em Pedreira.
    A Frente de Energia, que é coordenada pelo deputado Ênio Tatto e tem a deputada Márcia Lia como vice-coordenadora, tem a proposta de fiscalizar a prestação de serviços públicos nessas áreas, essenciais para a vida e a dignidade humana; atender e encaminhar demandas dos movimentos sociais; propor políticas públicas para estes setores e população; e ser espaço de articulação entre as administrações municipal, estadual e federal em contato com representantes das organizações civis.
    “Os recursos hídricos e elétricos são essenciais para a vida humana, assim como as políticas sanitárias determinam o nível de desenvolvimento de uma cidade, de um país. Na contramão desse entendimento, enfrentamos hoje no Brasil e no Estado de São Paulo uma política entreguista que prejudica o meio ambiente, causa prejuízos aos moradores ribeirinhos e que está oferecendo à iniciativa privada nossas riquezas naturais. A Frente nasce também para combater essa última condição”, avalia a deputada Márcia Lia, vice-coordenadora da Frente.