segunda-feira, 2 de julho de 2018

Comissão da Câmara aprova projeto de lei dos agrotóxicos, O Globo

O projeto de lei que modifica o registro de agrotóxicos foi aprovado essa semana numa comissão da Câmara de Deputados. A discussão se arrasta há meses.
A liberação de um novo produto fica centralizada no Ministério da Agricultura, tirando poder decisório da Anvisa e do Ibama. O projeto também diminui para dois anos o tempo máximo de registro de um novo agrotóxico.
“Hoje existem quase dois mil produtos que estão na fila para serem analisados, hoje está demorando de três a oito anos para aprovar um produto, nós não queremos isso”, diz Luiz Nishimori (PR), relator do projeto.
Segundo o deputado Alessandro Molon (PSB), o texto libera produtos que colocam em perigo a saúde dos consumidores.
“A lei brasileira deveria ser modificada sim, mas para ser tornada mais rigorosa, para proteger mais o meio ambiente e a saúde humana, e não para proteger menos como está se tentando fazer”, declara o deputado Alessandro Molon (PSB).
O texto ainda precisa passar pelo plenário da Câmara, o que não deve acontecer antes das eleições de outubro. Se for aprovado, o projeto de lei volta ao Senado, já que sofreu alterações na comissão especial. Só depois segue para a sanção presidencial.

Brasil será líder em alimentos, mas precisa de caminho seguro diz executivo, FSP

Brasil será líder em alimentos, mas precisa de caminho seguro diz executivo

Desafios vão da busca de eficiência à mudança de grades de estudos nas universidades

O futuro agrícola está garantido para o Brasil. Em 30 anos, haverá uma reposição dos principais PIBs (Produto Interno Bruto) no mundo e duas das maiores economias vão estar longe da agricultura e dependentes do Brasil.
A avaliação é de Paulo Herrmann, presidente da John Deere, e foi feita nesta terça-feira no 8º Congresso Brasileiro de Soja”. A China terá um crescimento do PIB dos atuais US$ 12 trilhões para US$ 50 trilhões em 2050. A Índia subirá de US$ 2,6 trilhões para US$ 28 trilhões.
Serão duas nações ricas, populosas e sem produção agrícola suficiente para abastecer os seus 4 bilhões de pessoas. Para o executivo da John Deere, a China será a número um na indústria e a Índia vai liderar a área de serviços. O Brasil, que será a sexta maior economia do mundo, será o país do abastecimento alimentar mundial.
Trabalhadores em plantação de soja na Bahia - Roberto Samorra/Reuters
“Os Estados Unidos serão uma incógnita. Vão fazer um pouco de tudo, mas continuarão com um comércio interno muito forte”. O poder agrícola deles, porém, vai diminuir.
O Brasil precisará, no entanto, construir esse caminho de liderança mundial em alimentos com segurança. As pressões virão de várias formas. Primeiro, será a imposição de alíquotas, que poderão ser derrubadas em organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio.
O país será alvo também de barreiras sanitárias. “Neste caso, não dá para brigar. É melhor construirmos um sistema profissional de controle sanitário.” E, finalmente, virão as contestações ambientais.
Os brasileiros têm de ficar espertos nessas negociações mundiais. “Às vezes, somos ingênuos”, diz ele.
A economia agropecuária brasileira passou por várias revoluções nas últimas décadas, como o plantio direto e a produção de grãos na segunda safra. É preciso, no entanto, consolidar outras.
 mais recente é a da integração lavoura pecuária, que traz uma integração mais eficiente entre soja, milho, bois e eucaliptos. O país já tem 11 milhões de hectares nesse sistema de produção.
Para atingir o futuro, o país precisará superar desafios do presente. Entre eles está o da conectividade. A tecnologia nas máquinas agrícolas só tem função se houver uma possibilidade da coleta e transmissão de dados. “Caso contrário, são enfeites”.
O país precisa também ter uma harmonia geracional. Trazer os filhos para perto dos pais e mantê-los no campo, afirma Herrmann.
Para o executivo da John Deere, o país ainda tem um sério problema de capacitação. A tecnologia vem evoluindo, mas a educação continua no mesmo ponto. “A formação de hoje é obsoleta porque as grades de ensino das universidades são vacas sagradas. E estão ligadas a chefes de departamento”.
A inteligência artificial já está nas máquinas, que estão próximas de tomar decisões, mas ainda não constam dos estudos das universidades, afirma Herrmann.
A pesquisa precisa acompanhar a evolução do Brasil e os sistemas de produção devem ser integrados. O executivo da John Deere destaca ainda que o país necessita redesenhar o modelo de extensão rural. “Ele deve ser menos assistencialista e mais efetivo.”
O setor agrícola precisa buscar eficiência e acabar com o “é ruim, mas está bom”. Um estudo em uma fazenda modelo apontou que as máquinas trabalham apenas 2,4 horas por dia no período da safra. “Se trabalharmos com eficiência, poderemos tirar 10% das máquinas do campo”, diz Herrmann.
Para ele, o Brasil precisa dobrar a produção em dez anos. “Se o país não o fizer, os chineses farão. Afinal, falta de alimentos é questão de segurança e provoca guerras”.

Produtor de RS vence desafio nacional e obtém 127 sacas de soja por hectare
A produção de soja, quando feita em laboratórios, pode atingir até 300 sacas por hectare. Esse é um volume, porém, que jamais será atingido a céu aberto. Para que isso ocorra, as condições climáticas externas deveriam repetir as de um laboratório.
Os produtores não conseguem atingir essa meta ideal, mas buscam cada vez mais um avanço da produtividade. A média brasileira, por exemplo, ainda está em 55 sacas.
Alguns experimentos apontam, no entanto, que manejo adequado da produção e tecnologia já permitem uma produtividade bem superior à da média brasileira.
É o que fez o produtor Gabriel Bonato, de Sarandi (RS). Há quarenta anos a família dele vem tendo um cuidado especial com o solo, e o resultado ficou evidente nesta safra que se encerrou.
Nos 110 hectares de área de soja que cultiva, Bonato produziu 86 sacas de soja por hectare. Caprichou um pouco mais em 53 deles e obteve média de 91 sacas. Em outros 2,5 deles, onde utilizou todos os recursos possíveis, a produtividade subiu para 127,1 sacas.
 Com isso, o produtor foi campeão nacional de um desafio anual de produtividade feito pelo  Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil). O anúncio foi feito nesta terça-feira (12) no 8º Congresso Brasileiro de Soja, em Goiânia (GO).
O segredo, segundo Bonato, “é ter um bom perfil do solo, fazer uma boa adubação e investir preventivamente na proteção da planta”. Esse manejo diferenciado faz a diferença, segundo ele.
O produtor, de 30 anos, fez uma trajetória diferente da que faz boa parte dos brasileiros. Funcionário de um banco, largou a cidade e voltou para o campo para desenvolver um trabalho, segundo ele, diferenciado.
É claro que o clima sempre é decisivo no efeito final de produção. No ano passado, quando tudo deu certo para a lavoura de soja, a produtividade atingida pelo ganhador do desafio do Cesb foi ainda maior, atingindo 149 sacas.
Luiz Nery Ribas, presidente do Cesb, uma entidade sem fins lucrativos, diz que a missão do comitê é exatamente a de provocar produtores e pesquisadores para buscarem novos patamares de produtividade.
O presidente do Cesb diz que “nada acontece por acaso”. Essa boa produtividade é um aprendizado para a aplicação do conhecimento adquirido em áreas maiores e comerciais.
Para Gilmar Antônio Luzzi, engenheiro agrônomo e consultor de Bonato, esses desafios são importantes porque instigam o produtor a usar toda a tecnologia de produção disponível.
A passagem da utilização dessas tecnologias de áreas pequenas para as maiores depende, no entanto, de um risco financeiro que muitas vezes o produtor não quer correr. Na área de produtividade de 127,1 sacas por hectare, Bonato teve um custo de produção de 54 sacas. Nas demais áreas, esse custo foi de apenas 30 sacas.
É um desafio que o produtor tem de avaliar, mas essa busca de maior produtividade vai continuar.
Vaivém das Commodities
Jornalista Mauro Zafalon assina a coluna Vaivém das Commodities. Escreve sobre commodities e pecuária.

    Luiz Nishimori: A salvação da lavoura. FSP

    O setor agropecuário é, indiscutivelmente, um dos motores da recuperação econômica do Brasil. Em 2017, a safra de 240 milhões de toneladas de grãos foi determinante para o recorde de produção, que alcançou o equivalente a R$ 540 bilhões, e levou o agronegócio a representar 23,5% do nosso Produto Interno Bruto (PIB).
    De importador de alimentos na década de 1960, o Brasil alcançou o status de segundo maior exportador mundial, podendo chegar ao primeiro lugar. Isso é possível graças a novas tecnologia nas plantações, incluindo o uso de pesticidas.
    A Lei 7.802, que trata do uso, pesquisa, registro e comercialização das substâncias que protegem as lavouras contra pragas, doenças e plantas daninhas, foi criada em 1989. São quase 30 anos de uma lacuna que precisa ser revista. Nesse período, a legislação passou por poucas alterações, ao passo que avanços científicos possibilitaram o desenvolvimento de produtos ainda mais inovadores.
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    Por essa razão, foi criada uma comissão especial que se reuniu, ao longo de dois anos, para discutir o assunto. Foram realizadas reuniões e audiências públicas com a participação de cientistas, universidades, governo, setor produtivo e sociedade para debater o tema e buscar caminhos que conciliassem as necessidades das lavouras e os interesses da população.
    O relatório que foi aprovado na comissão especial e será levado ao plenário da Câmara dos Deputados foi construído democraticamente e reúne dispositivos capazes de trazer eficiência e minimizar gargalos da legislação vigente. Tenho certeza de que apresentamos a melhor proposta para a sociedade, pensando no consumidor final e ao mesmo tempo atendendo às necessidades dos agricultores que poderão contar com produtos mais modernos, eficientes e seguros.
    Substâncias mais modernas, desenvolvidas a partir de anos de pesquisas científicas, altos investimentos, testes em laboratórios e em condições reais de campo, são ainda mais seguras que as utilizadas atualmente. Os pesticidas são os remédios das plantas e ferramentas indispensáveis na produção agrícola.
    Modernizar a legislação permite que comida saudável, segura e barata continue chegando à mesa da população e mantém a competitividade brasileira no mercado internacional.
    Muitas informações incorretas têm sido atribuídas ao tema e disseminadas desde a retomada das discussões até a aprovação do texto na comissão especial. É fundamental manter o equilíbrio no debate e esclarecer para os cidadãos que as mudanças na legislação não colocam em risco a segurança do alimento que chega aos nossos pratos.
    O que se propõe é uma legislação que alinha o Brasil ao que é feito nos países mais desenvolvidos do mundo para que possamos continuar alimentando o país e o mundo.
    Luiz Nishimori
    Deputado federal (PR-PR) e relator do projeto de lei dos agrotóxicos