domingo, 17 de abril de 2016

‘O Brasil deixou de pensar no futuro’, OESP

Entrevista. Thomas Trebat, diretor do Columbia Global Center
‘Crise terá sido em vão se não resultar em estrutura econômica mais sã’, diz TrebatCrise terá sido em vão se não resultar em estrutura econômica mais sã, diz TrebatRIO - A intensidade das mobilizações de rua desde 2013 surpreendeu um antigo observador estrangeiro do Brasil, o norte-americano Thomas Trebat, para quem a crise atual será em vão se não resultar em uma “estrutura econômica sã”. Desde o fim de 2012, Trebat mora e trabalha no Rio de Janeiro e atua como diretor do Columbia Global Center, escritório da universidade de Nova York dedicado a estabelecer parcerias no País. Crítico do tamanho do Estado na economia brasileira, o economista mantém certo otimismo, por causa de uma nova geração de universitários e porque as crises podem ser uma oportunidade para avançar em reformas. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.
RELACIONADAS
O cenário político e econômico desde sua mudança para o Brasil surpreende?
Foi uma surpresa e não foi. Tenho longa experiência olhando a economia e a sociedade brasileiras. Tentando entender as tendências da economia no longo prazo, vi o Brasil, nos anos 2000, muito afetado positivamente pelo ciclo das commodities, mas sabia que esse auge sempre acaba em lágrimas. Os países que não se previnem, não constroem uma economia mais diversificada, acabam sofrendo. As commodities vão estar por séculos aí, com o preço subindo e caindo.
O cenário atual era previsível?
Não é que sabia que já viriam tempos mais difíceis, mas havia certos sinais. O crescimento, a partir de 2010, deixava de ser o desejado. Crescíamos, mas mal crescíamos. E crescíamos muito como resultado de intervenções do governo na economia, através de bancos oficiais e programas de investimentos do governo.
O que surpreendeu então?
A mobilização da sociedade brasileira a partir de 2013, com as grandes manifestações, surpreendeu a todo mundo. Me lembraram um pouco do fim da ditadura militar, a grande mobilização pelas “Diretas Já”, em 1983, 1984, mas me surpreendeu o timing, o fato de terem ocorrido em 2013. Vi as manifestações como um tipo de amadurecimento da democracia brasileira, com o impacto das mídias sociais, uma classe média nascendo. Ela queria melhorias na sua história de vida, mas, em vez de ficar grata pelo que tinha conquistado nos anos 2000, queria mais.
A recessão coloca a perder as conquistas dos anos 2000?
Sendo uma pessoa otimista, acho que não. Este momento que estamos atravessando agora, essa crise econômica e política tão aguda, pode ter um desfecho ruim, mas acredito que não. Estamos diante de demandas da sociedade, que têm de ser atendidas. Uma sociedade que quer mudar as políticas, as regras do jogo, quer afinal abrir, e não fechar, mais oportunidades de trabalho, de progresso, de produtividade.
O que explica a estagnação da economia desde 2012/2013?
Há muito tempo sabemos que a taxa de investimento do Brasil é muito baixa. A taxa de investimento estimula a demanda no curto prazo, ajuda o crescimento no curto prazo, mas, mais do que isso, constrói o futuro. Desde o fim dos anos 1980, a história não muda. A taxa de investimento mal chegou a 20% do PIB. Em países comparáveis, é 25% para cima. De modo geral, o País passou de forma muito prematura a prezar mais pelo bem-estar da população atual, com aposentadorias e assistência social, e deixou de pensar no futuro.
Isso está por trás da baixa taxa de investimento?
O Brasil é uma democracia nova. Então, desde 1985, ao contrário dos governos chineses, os políticos daqui sempre tinham de pensar nas próximas eleições. Isso, em certa medida, explica uma preferência pelo atual, pelo presente, em detrimento do futuro. Por outro lado, o Brasil tinha uma sociedade muito pobre, que merecia condições de vida melhores. É compreensível certo viés para maior gasto social, mas, fora isso, deixamos de tomar decisões mais duras, que afetariam os privilégios da classe média, da classe média alta, das grandes empresas.
Por exemplo?
Não são os programas sociais, as medidas antipobreza nem sequer a política de valorização do salário mínimo os problemas. O que deixamos de ver foram os subsídios a empresas, proteção internacional, falta de integração com mercados globais, subsídios na área de educação para classes privilegiadas, como a universidade pública de graça.
É uma opção mais recente ou vem de mais tempo?
Faz parte da formação econômica no Brasil. Todo mundo ama o Estado e odeia o governo, como dizem alguns sábios. Acham que o governo é um bando de políticos incompetentes, mas que o Estado tem de nos proteger. Houve certo exagero em tempos recentes, mas não foi do nada que chegamos a 39 ministérios (antes da minirreforma anunciada pelo governo ano passado).
A crise econômica está ligada ao tamanho do Estado?
Não sou um liberal de carteirinha, que diz que todo o Estado é nocivo. Meu livro (sobre empresas estatais no Brasil, publicado em 1983) concluiu que, durante várias décadas, a contribuição das estatais foi fundamental para a industrialização rápida da economia brasileira, mas isso não justifica um papel exagerado para o Estado. Vemos isso claramente na (operação) Lava Jato. As construtoras não tinham muita saída se não lidar com o governo e a forma de lidar com o governo obviamente era corrupta. Mas não é só isso. Colocamos muitas responsabilidades na Petrobrás: o programa de álcool, muitos programas sociais, todo o peso do pré-sal, a construção da indústria naval. Temos o papel dos bancos públicos, o BNDES sendo o ícone. Não é uma coisa imposta de cima para baixo. É uma forma de pensar. Essa mentalidade está mudando, mas muito lentamente.
Mudando como?
Começamos bem na era das privatizações dos anos 1990. Foi um bom início, mas, depois, a privatização, no Brasil e no resto da América Latina, virou uma palavra suja, uma coisa meio que corrupta.
Houve retrocesso nas reformas sobre o papel do Estado?
Sim. Era compreensível, em certo sentido, devido à forma de pensamento do capitalismo brasileiro enraizado. Em segundo lugar, os resultados iniciais das grandes reformas dos anos 1990 não deixaram como legado um crescimento muito forte. Sem crescimento, não há recursos para financiar muitos programas sociais. Na mentalidade do cidadão, não foi um legado positivo. Assim, quando o presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva) assumiu, e se beneficiou e muito do ciclo de commodities, não havia incentivos para voltar a fazer reformas.
A crise de agora é oportunidade para voltar às reformas?
Temos sinais alarmantes. A situação financeira do Estado do Rio, que não consegue nem pagar servidores, é lamentável. Isso faz Estados e municípios verem o que é essencial, e o que é bom, mas não é necessário. Tudo isso, essa tremenda crise política e econômica, terá sido em vão se não chegarmos, no futuro, a uma estrutura econômica mais sã. O receituário pode diferir de uma pessoa para a outra. Para mim, evidentemente, seria um papel do Estado focado no bem-estar social, mas que deixaria de cumprir tantas funções econômicas, abriria espaço para um papel mais ativo do setor privado no mercado de capitais, na infraestrutura, nas PPPs, na Educação, na Previdência Social, na estrutura tributária do Brasil, que é muito ruim, onera muito o pobre.
Os mais ricos também seguem a mentalidade do ‘odeio o governo, mas amo o Estado’?
Sim. Dizem: “Não vou dar o meu dinheiro para esse governo corrupto”, mas, ao mesmo tempo, na hora de fazer negócios, querem ajuda do BNDES, querem colocar os filhos na universidade pública.
Pela reação da Bolsa, os investidores querem o impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Uma coisa que aprendi em muitos anos no mercado financeiro é a ter cuidado com o humor do mercado. Muitas vezes, não é que o investidor ache bom que o governo mude, é que ele acha que o mercado vai subir ou não e está apostando. O que é mais preocupante é que, de repente, as perspectivas econômicas do País já não são aquelas. O Brasil está no último vagão do trem dos Brics. Isso é mais importante do que o dia a dia. O investidor quer perspectivas econômicas boas e certa estabilidade política. Isso não tem a ver com o partido no governo.
A crise política conta pouco?
O falatório político tem custo, investimentos são adiados, mas o que predomina (entre investidores de longo prazo) é a visão de que este período vai passar. Nada garante que uma mudança de governo vai mudar muito a estabilidade política no curto prazo também. O que importa é a volta de uma perspectiva de crescimento, com baixa inflação e taxa de câmbio estável. Isso é 99% da equação e não tem nada a ver com a ideologia de governo.


Petrobras lança PDV para cortar 12 mil, Estadão


http://fw.atarde.uol.com.br/fw/img/2014/estadao-conteudo.pngFernanda Nunes
http://fw.atarde.uol.com.br/fw/img/2012/01/btnFb.jpg
-AA+
A Petrobras deu ontem mais um passo para reduzir de tamanho, ao lançar o segundo programa de incentivo ao desligamento voluntário (PIDV) de empregados dos últimos dois anos, como antecipou o jornal O Estado de S. Paulo no dia 17 de março. A empresa está disposta a pagar de R$ 211 mil a R$ 706 mil para cada concursado que pedir demissão. Assim, espera chegar à mesma estrutura que tinha antes de descobrir o pré-sal, em 2005, e economizar R$ 33,6 bilhões com o pagamento de salários e benefícios, até 2020.
A novidade, dessa vez, é a extensão do incentivo a todos os funcionários e não apenas àqueles já com idade para se aposentar, como havia sido imposto no PIDV lançado em 2014. Mas os 12,44 mil empregados em condições de se aposentar ou com mais de 55 anos, de um total de 57 mil, continuam sendo o foco da direção da petroleira.
Se alcançar a meta, a Petrobras vai demitir, até o ano que vem, o dobro do que demitiu no programa anterior, que contou com a adesão de 6,2 mil funcionários.
A ideia é atrair, principalmente, pessoal da área administrativa, além dos profissionais mais velhos e com mais tempo de trabalho. Por isso, criou uma fórmula para definir o valor de indenização de cada empregado que considera o número de anos completos na companhia e a idade. O salário base também vai contar.
Sem limite
Os "aposentáveis", porém, não são os únicos candidatos. Em comunicado interno obtido pelo Estado, a diretoria Corporativa e de Serviços informa aos funcionários que não há limite de adesão ao programa e que os desligamentos devem acontecer "no menor prazo possível", começando por junho deste ano e se alongando até maio do ano que vem. Para isso, a Petrobras vai investir R$ 4,4 bilhões que, em quatro anos, segundo a empresa, deve render um retorno sobre o custo de 657%.
O prazo de inscrição é de 11 de abril a 31 de agosto. Os que se inscreverem primeiro serão os primeiros a serem demitidos, mas, se for considerado que o desligamento do empregado vai comprometer a operação da empresa, poderá ser determinada a extensão do prazo de trabalho do funcionário que aderiu ao programa, o que vai ser compensado com o pagamento de um adicional de meio salário básico por mês, a partir de dezembro deste ano. O PIDV não é válido, no entanto, para os funcionários que estão sendo investigados por práticas de corrupção.
Antes de lançar oficialmente o programa, a Petrobras convocou, ontem, lideranças sindicais para um reunião no Rio de Janeiro. Dos representantes da companhia, os sindicalistas ouviram que não há previsão de lançamento de novos concursos para contratações, os quadros não serão repostos.
"Se todos os trabalhadores de uma área operacional saírem, vão ser repostos os quadros? A resposta da empresa foi clara: não vai haver concurso", afirmou Adaedson Bezerra da Costa, secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), após participar da reunião.
Em comunicado interno, a Petrobras afirma que, com o PIDV, vai adequar o tamanho da empresa "à realidade atual, com foco na otimização da produtividade, considerando o plano de negócios vigente e as reestruturações em andamento". A ordem é cortar custos, para atender aos "interesses da companhia" e aos dos empregados "quando possível".
Os sindicalistas criticaram a proposta porque enxergam nela uma tentativa do governo de enxugar a Petrobras. "O pano de fundo é tornar a empresa atrativa para a venda", disse Costa. Apesar de admitir que a adesão ao programa é uma decisão pessoal, que deve ser tomada individualmente por cada funcionário, ele gravou um áudio divulgado na internet no qual apela aos empregados da Petrobras para que contrariem a vontade da diretoria e não participem do PIDV. "A hora de abandonar o barco não é agora", afirmou.

Já o Credit Suisse divulgou avaliação do plano de demissão no qual elogia a medida, mas diz que ainda é "insuficiente", diante da atual fragilidade financeira da empresa. O banco ressalta que, com o PIDV e a iniciativa de redução dos cargos gerenciais, anunciada na semana passada, a Petrobras deve conseguir cortar US$ 11,5 bilhões dos seus custos em cinco anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ensino básico em São Paulo, OESP


14 Fevereiro 2016 | 03h 00
Apesar de o desempenho em matemática e português dos alunos dos três ciclos da rede pública de ensino básico de São Paulo ter melhorado em 2015, com relação ao ano anterior, as notas médias continuam muito longe das metas do governo estadual. A exceção foi a média de português obtida pelos estudantes do 5.º ano do ensino fundamental. Com aumento de 4,4%, ela foi considerada adequada pelas autoridades educacionais. Esse é o resultado da última edição do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp).
As avaliações classificam o desempenho dos estudantes e dos colégios da rede em quatro níveis: abaixo do básico, básico, adequado e avançado. Apenas os alunos enquadrados nos dois últimos níveis têm aprendizado considerado suficiente. Estudantes das últimas séries do ensino fundamental e das três séries do ensino básico médio enquadrados nos dois primeiros níveis não conseguem ir além das operações aritméticas, em matemática, nem interpretar transformações transmitidas por meio de gráficos. E, em português, têm dificuldades de identificar os episódios principais de uma narrativa e de organizá-los em sequência lógica. Os 176 colégios estaduais que estavam ocupados por estudantes não fizeram as provas, mas isso não comprometeu a representatividade da avaliação. Com 5,1 mil unidades, a rede de ensino básico conta com mais de 4 milhões de alunos, dos quais 54 mil deixaram de fazer as provas ou as sabotaram.
As notas obtidas em matemática e português integram o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp), que é o indicador de qualidade das séries iniciais e finais do ensino fundamental e médio da rede estadual. Essa foi a primeira vez que os números do Idesp foram divulgados pela Secretaria da Educação a tempo para as reuniões de planejamento das escolas. Trata-se de um avanço. O índice é elaborado para cada unidade da rede e, além de aferir a qualidade do ensino, serve de parâmetro para o cálculo do bônus que os servidores do setor recebem anualmente. Com escala de 0 a 10, o índice para o primeiro ciclo do ensino fundamental foi de 5,25 em 2015 – ante 4,76, em 2014. No segundo ciclo, subiu de 2,62 para 3,06 e, no ensino médio, de 1,93 para 2,25.
Ao anunciar os números do Saresp, o governador Geraldo Alckmin destacou a melhora do desempenho dos estudantes e dos colégios: “Os avanços são impressionantes. Até 2030, vamos chegar ao desempenho dos países mais desenvolvidos, porque tivemos uma grande evolução em todos os ciclos. É extraordinário o salto que foi dado em português e matemática”. Trata-se de um exagero, uma vez que nos três ciclos do ensino básico ainda é muito grande o número de alunos com graves dificuldades.
“Apesar dessa melhoria nos desempenhos, a evolução da qualidade do ensino ficou praticamente estagnada nos últimos anos, sobretudo nas séries finais do ensino fundamental e do ensino médio”, diz o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. “A melhoria é um reflexo da extensão de oito para nove anos no ensino fundamental, que antecipou de sete para seis anos a entrada dos alunos na escola. Essa extensão começou em 2011. Ou seja, todos os alunos que terminaram o primeiro ciclo fundamental no ano passado já tiveram cinco anos de escolaridade e não quatro”, afirma Alejandra Velasco, coordenadora do Movimento Todos pela Educação.

Na realidade, o Saresp reafirmou uma tendência já observada antes – a melhoria no desempenho dos alunos ocorre apenas nas etapas iniciais do ensino fundamental, ficando estagnada nas etapas seguintes. Isso reflete, além de problemas de gestão, falta de recursos e problemas políticos. No orçamento aprovado para 2016, a verba destinada ao custeio da rede estadual é apenas 0,9% superior à de 2015 (quando a inflação foi de 10,6%). O orçamento não deixa margem para o aumento salarial dos 232 mil professores da rede. Em 2015, a categoria ficou sem reajuste. E por isso ameaça deflagrar mais uma greve duradoura, o que pode dificultar ainda mais a gestão do ensino básico público na maior unidade da Federação.