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Fevereiro 2016 | 03h 00
Apesar de o desempenho em matemática
e português dos alunos dos três ciclos da rede pública de ensino básico de São
Paulo ter melhorado em 2015, com relação ao ano anterior, as notas médias
continuam muito longe das metas do governo estadual. A exceção foi a média de
português obtida pelos estudantes do 5.º ano do ensino fundamental. Com aumento
de 4,4%, ela foi considerada adequada pelas autoridades educacionais. Esse é o
resultado da última edição do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do
Estado de São Paulo (Saresp).
As avaliações classificam o
desempenho dos estudantes e dos colégios da rede em quatro níveis: abaixo do
básico, básico, adequado e avançado. Apenas os alunos enquadrados nos dois
últimos níveis têm aprendizado considerado suficiente. Estudantes das últimas
séries do ensino fundamental e das três séries do ensino básico médio
enquadrados nos dois primeiros níveis não conseguem ir além das operações
aritméticas, em matemática, nem interpretar transformações transmitidas por
meio de gráficos. E, em português, têm dificuldades de identificar os episódios
principais de uma narrativa e de organizá-los em sequência lógica. Os 176
colégios estaduais que estavam ocupados por estudantes não fizeram as provas,
mas isso não comprometeu a representatividade da avaliação. Com 5,1 mil
unidades, a rede de ensino básico conta com mais de 4 milhões de alunos, dos
quais 54 mil deixaram de fazer as provas ou as sabotaram.
As notas obtidas em matemática e
português integram o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São
Paulo (Idesp), que é o indicador de qualidade das séries iniciais e finais do
ensino fundamental e médio da rede estadual. Essa foi a primeira vez que os
números do Idesp foram divulgados pela Secretaria da Educação a tempo para as
reuniões de planejamento das escolas. Trata-se de um avanço. O índice é
elaborado para cada unidade da rede e, além de aferir a qualidade do ensino,
serve de parâmetro para o cálculo do bônus que os servidores do setor recebem
anualmente. Com escala de 0 a 10, o índice para o primeiro ciclo do ensino
fundamental foi de 5,25 em 2015 – ante 4,76, em 2014. No segundo ciclo, subiu
de 2,62 para 3,06 e, no ensino médio, de 1,93 para 2,25.
Ao anunciar os números do Saresp, o
governador Geraldo Alckmin destacou a melhora do desempenho dos estudantes e
dos colégios: “Os avanços são impressionantes. Até 2030, vamos chegar ao
desempenho dos países mais desenvolvidos, porque tivemos uma grande evolução em
todos os ciclos. É extraordinário o salto que foi dado em português e
matemática”. Trata-se de um exagero, uma vez que nos três ciclos do ensino
básico ainda é muito grande o número de alunos com graves dificuldades.
“Apesar dessa melhoria nos
desempenhos, a evolução da qualidade do ensino ficou praticamente estagnada nos
últimos anos, sobretudo nas séries finais do ensino fundamental e do ensino
médio”, diz o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. “A
melhoria é um reflexo da extensão de oito para nove anos no ensino fundamental,
que antecipou de sete para seis anos a entrada dos alunos na escola. Essa
extensão começou em 2011. Ou seja, todos os alunos que terminaram o primeiro
ciclo fundamental no ano passado já tiveram cinco anos de escolaridade e não
quatro”, afirma Alejandra Velasco, coordenadora do Movimento Todos pela
Educação.
Na realidade, o Saresp reafirmou uma
tendência já observada antes – a melhoria no desempenho dos alunos ocorre
apenas nas etapas iniciais do ensino fundamental, ficando estagnada nas etapas
seguintes. Isso reflete, além de problemas de gestão, falta de recursos e
problemas políticos. No orçamento aprovado para 2016, a verba destinada ao custeio
da rede estadual é apenas 0,9% superior à de 2015 (quando a inflação foi de
10,6%). O orçamento não deixa margem para o aumento salarial dos 232 mil
professores da rede. Em 2015, a categoria ficou sem reajuste. E por isso ameaça
deflagrar mais uma greve duradoura, o que pode dificultar ainda mais a gestão
do ensino básico público na maior unidade da Federação.
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