terça-feira, 3 de dezembro de 2013

É tempo de religar os motores da mineração, por Arnaldo Jardim


O substitutivo apresentado pelo relator da comissão especial do Congresso encarregada de analisar o projeto de lei (PL) do novo marco regulatório da mineração é, sem dúvida, um grande alento para o setor.
Ao abandonar o caráter estatizante e intervencionista que empresta contornos ao PL do Executivo, o texto, sob a relatoria do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), trouxe ares de modernidade e possibilitará vultosos investimentos na mineração. A sua aprovação pode se traduzir em verdadeiro divisor de águas no setor mineral.
A eleição do protagonismo privado para a pesquisa mineral, a possibilidade de oferecimento dos títulos minerários como garantia, as regras de transição que respeitam o direito adquirido, a fixação das alíquotas da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) por lei, a criação de mecanismos de financiamento, dentre outros, constituem elementos que muito vão colaborar para que o setor recupere o tempo perdido. Afinal, foram grandes as perdas com a insegurança gerada pelo Executivo com a falta de rumo das discussões sobre o novo marco regulatório e, em especial, com a ilegal moratória imposta há mais de um ano.
Nesse contexto, há que se observar que o desenvolvimento do setor depende de diversos fatores, alguns influenciados pelo Estado e outros não. Assim, enquanto o potencial geológico, a demanda internacional e mesmo o posicionamento geográfico são fatores que estão fora do controle de qualquer nação, outros aspectos, de clara ingerência estatal, são fundamentais para a análise dos investimentos. A forma como o governo conduz a regulação do setor, o grau de intervenção estatal, a discricionariedade empregada nas decisões e o cumprimento das regras estabelecidas são determinantes no processo decisório dos investidores.
Há que se notar que países de origem anglo-saxônica tenderam a desenvolver sistemas jurídicos regulatórios atrativos aos investimentos. Assim, a Austrália e o Canadá, por exemplo, se tornaram referência internacional. Por outro lado, os países onde há forte intervenção estatal e existem políticas discricionárias tendem a ser menos atrativos e, consequentemente, a afugentar investimentos.
O que se nota no substitutivo são os clamores e necessidades do setor. Frise-se que o Legislativo deu uma lição ao Executivo no que diz respeito à forma de conduzir assuntos relevantes. Isso porque a comissão especial conseguiu, em prazo recorde, apresentar um substitutivo harmônico com a necessidade do setor e, ao mesmo tempo, alinhado com as melhores práticas internacionais.
Em verdadeiro "passo de bêbado", o governo gestou por quatro anos um projeto casuísta e trôpego, repudiado por todo setor e a sociedade civil, causando, ao mesmo tempo, estragos drásticos com a sua ilegal atuação intervencionista.
Merece especial destaque no substitutivo a extinção do sistema de chamadas públicas proposto pelo governo, verdadeira jabuticaba que só tendia a burocratizar o dia a dia do setor, nada agregando. A premiação do esforço privado com contratos de concessão se mostra em consonância com a premissa de first come first served ("primeiro a chegar, primeiro a servir-se"), de ampla adoção internacional e que devolve ao setor privado o protagonismo do setor.
O estabelecimento de multas mais pesadas para empresas que não derem a destinação correta aos títulos também parece acertada, visto que repudia a especulação, sem prejudicar os profissionais e as empresas sérias que visam desenvolver a atividade. Mostrar-se-á essencial, no entanto, a rígida fiscalização. Além disso, a modulação de taxas e multas de acordo com o tamanho da empresa demonstra a compreensão das diferentes realidades da atividade mineral, que envolve desde empresas bilionárias até pequenos empreendedores individuais.
Em relação às licitações, o enquadramento do Estado a prazos impedirá a estagnação do setor em função da inércia estatal, fonte de constantes críticas nos setores de energia elétrica e petróleo.Também o estabelecimento de prazo mínimo para a decisão em relação à renovação dos contratos evitará as sensíveis questões vivenciadas por arrendatários portuários e de energia elétrica. Nota-se, portanto, uma compreensão e sensibilidade dos grandes dilemas de outros setores e uma consequente antecipação das respostas, de forma a estabelecer regras claras e justas, facilitando a atração de investimentos.
O estabelecimento das alíquotas da CFEM em lei - e não por decreto - é um alento e se traduz em fator de estabilidade para empresas e entes públicos, que não mais ficarão à mercê dos humores do Executivo federal. A criação de mecanismos de securitização de recebíveis, assim como a possibilidade de oneração do direito minerário para financiamento são medidas que merecem aplausos e vêm ao encontro dos anseios e necessidades do setor. Também a composição mista do Conselho Nacional de Política Mineral, com integrantes do setor produtivo é louvável, uma vez que afasta o risco de composição "chapa branca", meramente homologatório.
Vale notar que o projeto apresentado pela comissão especial não é importante apenas para a mineração, já que o bom andamento do setor pode ser essencial ao desenvolvimento dos pacotes de infraestrutura tão falados pelo governo. Isso porque, ao propiciar segurança jurídica e protagonismo privado na mineração, atividade de longo prazo e intensa em capital, tal como a infraestrutura, demonstra claramente que um ato vale muito mais do que dezenas de declarações do governo.
Além disso, o desenvolvimento de projetos minerários é essencial para garantir a carga necessária à implantação de diversos projetos previstos nos pacotes bilionários do governo para a infraestrutura, em especial os ferroviários e portuários. O que se conclui, assim, é que aprovar o substitutivo proposto pelo relator Leonardo Quintão pode se traduzir em colocar o setor, novamente, nos trilhos da modernidade, garantindo competitividade e atração de investimentos.
Valor Econômico - 26/11/2013 - Bruno Feigelson e Marcello R. Lima Filho

PIB, mais uma vez , para baixo...

Agronegócio e investimentos despencam; PIB recua 0,5% no 3º trimestre, diz IBGE

Arte/Estadão


PIB do País recuou 0,5% no 3º trimestre em relação aos três meses anteriores

03 de dezembro de 2013 | 9h 25
Economia & Negócios
SÃO PAULO - Diferentemente do segundo trimestre - quando a forte expansão do PIB foi destaque em termos de crescimento econômico na comparação com outros países -, desta vez o Brasil foi um dos poucos países a registrar retração na economia no terceiro trimestre. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) entre julho e setembro foi o menor entre os países levantados na divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período, a economia brasileira recuou 0,5% em relação ao 2º trimestre.
Além do Brasil, apenas França e Itália, com a mesma queda de 0,1% no PIB do terceiro trimestre ante o segundo, registraram retração.
O destaque de crescimento numa lista preparada pelo IBGE foi a Coreia do Sul, com expansão de 1,1% no terceiro trimestre ante o período imediatamente anterior. Na América Latina, o México registrou avanço de 0,8%, na mesma base de comparação.
Na Europa, registraram avanço no PIB o Reino Unido (0,8%) e a Alemanha (0,3%). A União Europeia como um todo registrou avanço de 0,2% no terceiro trimestre.
Na comparação com os BRICs, outras grandes economias emergentes, o Brasil teve o terceiro maior crescimento. Com esses países, no entanto, só há comparação na base do terceiro trimestre ante o mesmo trimestre do ano anterior. O crescimento de 2,2% no PIB do Brasil ficou abaixo dos 7,8% da China e dos 4,8% da Índia. África do Sul cresceu 1,8% e a Rússia, 1,2%.
Entre os PIBs per capita, o Brasil teve o segundo maior resultado (US$ 12,1 mil). Apenas a Rússia registrou PIB per capita acima do brasileiro (US$ 17,7 mil). África do Sul (US$ 11,3 mil), China (US$ 9,1 mil) e Índia (US$ 3,9 mil) ficaram com resultado abaixo.
(Mônica Ciarelli, Idiana Tomazelli, Daniela Amorim e Vinicius Neder , da Agência Estado)

A praça é nossa

03/12/2013 - 09h43
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Dois fatos ocorridos nos últimos dias chamam atenção para questões relacionadas ao chamado "direito de vizinhança", o direito que a comunidade de uma área tem de decidir o que deve ou não deve ocorrer com sua região.
Em um lado da cidade, junto à avenida Paulista, moradores e trabalhadores do Conjunto Nacional se mobilizam para tornar perene a pequena pracinha de madeira modulada montada junto à calçada na rua Padre João Manuel, entre a Paulista e a alameda Santos. Chamada parklet, ela ocupa o espaço de umas poucas vagas de estacionamento junto à calçada, contém bancos e vasos e serve de um ponto de convívio para pessoas. Ao longo deste ano, três desses equipamentos foram montados em áreas movimentadas da cidade (rua Maria Antônia, Centro; rua Amauri, Itaim Bibi; e essa próxima à Paulista).
Este último parklet deve ser desmontado ao final da Bienal de Arquitetura e ao saber disso, a comunidade da região se mobiliza para torná-la permanente através de um abaixo-assinado.
Em outro canto da cidade, nos Jardins, uma praça bem maior é tema de mobilização. A Morungaba é um grande espaço verde implantado há muitas décadas no Jardim Europa, há quatro quadras do Shopping Iguatemi. Há cerca de dez dias, como se fossem vítimas de um tsunami, suas calçadas foram quebradas, picadas e retiradas, entre outros muitos sinais de que uma obra estava se iniciando ali. Não havia a obrigatória placa para informar a realização de uma obra pública.
Trata-se de região com uma comunidade mobilizada e uma associação de moradores muito atuante (AME Jardins). Mora na área, também, a jornalista Sophia Carvalhosa, que faz uma campanha pela adoção de bancos com encosto nas praças paulistanas (e já foi tema de um artigo de Marcos Augusto Gonçalves neste espaço). Muitos desses moradores diretamente interessados e afetados pela área verde não faziam ideia de que um plano de reforma estava em curso e de o que se pretende implantar ali.
Da mesma forma que em torno do parklet da Paulista, também houve uma mobilização pelo Facebook cobrando esclarecimentos à subprefeitura. Uma reunião foi marcada para a última sexta-feira (29), quando os mobilizados foram informados das melhorias planejadas e as razões da desinformação: outros tantos moradores conheciam o projeto (os habitantes da Praça e os associados à AME Jardins); a placa pública não foi colocada por um problema burocrático da Prefeitura. Houve também um encaminhamento para que os bancos locais venham a ter encosto (será então a primeira praça da cidade a incorporar a ideia).
Esses e outros exemplos mostram que as praças estão ganhando um cuidado mais atento das comunidades. Meses atrás outra mobilização de moradores impediu o corte da grande figueira da praça Villaboim, em Higienópolis, que a subprefeitura alegou estar morrendo mas não apresenta sintomas visíveis de doença.
Além de funcionar muitas vezes como pulmão dos bairros, as praças são também o espaço público por excelência, ponto de encontro das pessoas e discussão das questões públicas. Em muitos bairros, no entanto, elas não são usadas pelos moradores, acabam se tornando espaço degradado, com jardins abandonados e têm seu espaço privatizado, ora por comerciantes ora por ocupantes. Como tradicionalmente o poder público em São Paulo gasta pouco com zeladoria e muito com obras, a vigilância do espaço público é ausente ou ineficiente. Muitas praças desaparecem (como aquelas que por anos foram palco de camelódromos) ou se tornam terrenos inóspitos (como tantas ocupadas por traficantes e consumidores de drogas).
A atuação vigilante nos três casos citados é mais um sinal de que alguma coisa está mudando na cidade, para melhor. A praça já não é mais a mesma, abandonada. Ela é da comunidade e precisa ser apropriada e defendida por sua vizinhança.
leão serva
Leão Serva, ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de "Como Viver em SP sem Carro"