quarta-feira, 20 de março de 2013

EUA importam bem menos petróleo


Declínio da demanda e crescimento da produção de combustível líquido explica o recuo de 40% na importação nos últimos sete anos
Nos últimos sete anos, os Estados Unidos reduziram drasticamente sua dependência das importações de petróleo. Desde o pico, em 2006, as importações caíram 40% em consequência do declínio da demanda e do considerável crescimento da produção interna de combustíveis líquidos, o que levou a se prever que os EUA poderão chegar à autossuficiência no prazo de 15 a 20 anos.
As importações são ainda muito importantes para atender à necessidade de petróleo do país. Entretanto, o seu rápido declínio constituiu uma grande surpresa. As expectativas de um aumento constante das importações baseavam-se na premissa de que a produção interna, que alcançara o pico nos anos 70, declinava de maneira irreversível. Também acreditava-se que seria politicamente impossível taxar os derivados de petróleo a um patamar que permitisse deter a expansão da demanda, e muito menos revertê-la. Em vez disso, foi possível reverter tanto a queda da produção petrolífera americana quanto o aumento do consumo. Consequentemente, as importações mensais chegaram ao pico em setembro de 2006 com 12,7 milhões de barris diários, e declinaram 40% até novembro de 2012, para 7,6 milhões.
Declínio da demanda. Desde 2006, a queda da demanda é responsável por 40% do declínio total das importações líquidas de petróleo. Depois da crise financeira de 2008, a economia americana sofreu uma forte contração e em seguida cresceu a um ritmo muito mais lento do que antes da recessão. Entretanto, o desempenho da economia não explica o fenômeno em si.
Como resultado da substituição dos combustíveis e dos avanços na eficiência da energia, o consumo de petróleo por unidade do Produto Interno Bruto (PIB) declinou significativamente. Duas razões explicam esse fato: o petróleo foi substituído, até certo ponto, pelo gás natural, que é mais barato para uso na indústria e na geração de energia; e a demanda de energia caiu na maioria dos setores de uso intensivo de petróleo, particularmente nos transportes. Particularmente significativas foram as mudanças no uso dos veículos.
O total de milhas percorridas, que cresceu mais de 2% ao ano entre 1990 e 2006, alcançou o pico em 2007 e declinou lentamente desde então porque a alta dos preços do petróleo afetou o comportamento dos consumidores. Ao mesmo tempo, a eficiência média dos combustíveis nas estradas americanas, em persistente declínio desde o fim dos anos 80, vem subindo consideravelmente a partir de 2005. A combinação desses dois fatores - menor número de milhas percorridas e maior eficiência dos veículos - provocou um declínio do consumo de gasolina e diesel de cerca de 5% desde 2007.
Ao mesmo tempo, no setor industrial o consumo total de energia caiu 10% desde 2006. Mas com a alta dos preços do petróleo e a queda dos preços do gás, a quantidade de óleo consumido na indústria caiu 22%, enquanto o gás natural cresceu cerca de 10%.
Aumento da produção. O aumento da produção de combustíveis líquidos nos EUA é responsável por 60% da queda das importações americanas de petróleo desde 2006, e quase 100% desde 2010. O crescimento mais rápido foi o da produção de petróleo bruto, principalmente nos últimos dois anos. Desde 2006, a produção americana de bruto cresceu 1,5 milhão de barris diários para 6,5 milhões de barris, com a explosão da oferta de petróleo não convencional (petróleo de xisto) que contribuiu para reverter um declínio que datava dos anos 70. Ao mesmo tempo, os biocombustíveis e os líquidos produzidos nos campos de gás natural, o conhecido gás natural liquefeito ou GNL, representaram em conjunto o equivalente a um aumento de cerca de 1,5 milhão de barris diários desde 2006. Os biocombustíveis beneficiaram-se com os generosos subsídios e também com uma legislação favorável, enquanto o aumento da produção de GNL é mais um subproduto da revolução do gás de xisto da América do Norte.
No prazo de cinco anos, a produção de óleo não convencional subiu de zero a 2 milhões de barris diários, e grande parte desse crescimento ocorreu nos últimos dois anos. A produção é mais intensa no Texas e em Dakota do Norte, e vários Estados da região das Montanhas Rochosas prestam também uma pequena, mas crescente contribuição. A formação Bakken, no Dakota do Norte, parte da Bacia de Williston, é a área que atrai maior atenção e com uma maior atividade. Em 2012, o xisto de Bakken representou 42% da produção de óleo não convencional .
Futuro possível. Com quase 8 milhões de barris diários, os EUA são ainda o país que mais importa petróleo, à frente da China (com 6 milhões de barris diários, e do Japão, com 4,5 milhões). Entretanto, a Agência Internacional de Energia, BP, ExxonMobil e outras organizações previram que os EUA, e certamente a América do Norte, se tornarão autossuficientes em petróleo nos próximos 15 a 20 anos. Essas previsões representam uma continuação de tendências recentes: o declínio do consumo de petróleo nos EUA, e o forte crescimento da produção americana e canadense de combustíveis líquidos. É possível que também sejam uma decorrência da persistência dos altos preços do óleo e do baixo preço do gás natural.
Do lado da demanda, anos últimos anos, a dinâmica do mercado baseia-se na reação dos consumidores a uma alta dos preços do produto que dura dez anos, enquanto a indústria passou do petróleo para o gás natural, e as famílias compram carros mais econômicos em matéria de combustível e se acostumaram a usá-los menos. Do lado da produção, a alta dos preços estimulou a descoberta de novas fontes de oferta. Entretanto, em contraposição a outras formas de produção de cru, no caso do óleo não convencional não há grande investimento de capital, porque é aproveitada a mesma infraestrutura para a extração do gás de xisto. Portanto, a oferta responde significativamente ao preço: se os preços caem, haverá uma redução da perfuração e uma queda da produção.
Um freio fundamental da produção de óleo não convencional é a proibição da exportação de petróleo dos EUA, que vigora desde a 2.ª Guerra Mundial. Ela cria um risco de excesso de oferta, em que os preços do cru americano se estabelecem abaixo dos preços mundiais.
A intensidade das perfurações para a produção de óleo não convencional aumenta os riscos para o meio ambiente. A produção de cada poço chega ao pico rapidamente e em seguida declina rapidamente e, portanto, é necessário um grande número de poços para manter a produção de um campo. Em 2012, foram perfurados mais de 10 mil poços na formação de Bakken, em comparação com 9 mil em todo o Canadá e 6 mil na Rússia. Resta saber por quanto tempo esse sistema de perfuração durará até gerar uma profunda oposição de grupos ambientalistas locais e nacionais. O aumento contínuo da oferta de óleo não convencional nos próximos 20 anos não é impossível, mas não deve ser considerado garantido.
As importações de petróleo dos EUA logo declinarão mais de 50% em comparação ao seu pico de 2006 e, se o consenso estiver correto, cairão ainda mais. Nos próximos anos, um dos efeitos dessa mudança será verificar até que ponto a necessidade de importar petróleo é um fator no qual se baseia a estratégia dos EUA no Oriente Médio. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

Alexandre Garcia: “Atraso no trânsito desgasta a força de trabalho”

Com financiamento fácil, muita gente ainda troca o ônibus pelo carro. As soluções existem; outros países já fizeram. O IDH não mede a poluição, o tempo perdido, nem o cansaço, o sono, o esgotamento.

O trânsito caótico põe em discussão a qualidade do transporte. Falta investimento num setor essencial para a população.
O que vemos hoje já é consequência da falta de investimento no passado. As populações cresceram nas cidades e os governos não se prepararam para os dois momentos do dia: hora de ir para o trabalho e hora de voltar para casa.
Brasília, a cidade planejada, é o retrato do que não deveria ser feito. Quem construiu a cidade estimulou a indústria automobilística. A cidade foi desenhada para carro, não para gente. Faltam calçadas até hoje. E criaram-se cidades satélites: de manhã e no fim do dia há um fluxo superlotado de locomoção para o chamado plano piloto. Seria bem mais sensato criar empregos perto do lugar onde as pessoas moram. E aí o tempo perdido por dia - muita gente que perde mais de duas horas por dia sonha com esses 43 minutos da média estatística. Tem gente que demora uma hora para entrar num ônibus em Salvador.
A produção de automóvel tem estímulo até hoje, com a redução do IPI. Com financiamento fácil, muita gente ainda troca o ônibus pelo carro. E o excesso de carros retarda os ônibus, que levam 50 pessoas. Muitas vezes 50 carros levam 50 pessoas. E 50 carros rodando ocupam lugar de 20 ônibus no mínimo. O metrô chegou atrasado e os trens também. Em Salvador, nem chegou o metrô. E chegamos a um nó, um limite. As soluções existem; outros países já fizeram. O IDH não mede a poluição, o tempo perdido, nem o cansaço, o sono, o esgotamento. Mas deveria, porque o atraso no trânsito desgasta a força de trabalho.

Maioria dos prefeitos diz que assumiu cidades sucateadas Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/maioria-dos-prefeitos-diz-que-assumiu-cidades-sucateadas.


CÁSSIO BRUNO (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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RIO — Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) aponta que quase a metade (46%) de 4.023 dos 5.568 prefeitos brasileiros que responderam a um questionário produzido pela entidade informou ter encontrado uma situação ruim ou péssima nas cidades. Nos últimos dois meses, a CNM apresentou 11 perguntas sobre o retrato das prefeituras.
De acordo com a CNM, 2.450 (62%) de 3.934 prefeitos reclamaram da falta ou do sucateamento dos equipamentos públicos. A área da Saúde, por sua vez, aparece em primeiro lugar entre os maiores obstáculos, segundo 2.105 (47%) dos chefes de Executivo. Já questões relacionadas à infraestrutura vêm em seguida: 1.167 (26%). Para 433 deles (10%), a Educação está na terceira colocação entre as principais dificuldades .
A pesquisa abordou ainda o endividamento dos municípios. Dos 3.897 prefeitos que responderam a esta questão, 2.339 (60%) contaram ter dívidas com fornecedores de, em média, 5,7 meses. A CNM perguntou também se recursos correntes, como Fundo de Participação dos Municípios e ICMS, seriam suficientes para “pôr a casa em ordem” nesses primeiros meses de gestão. Das 3.810 respostas, 2.378 (62%) afirmaram que não.
Em 857 cidades (22%) do total de 3.912, os prefeitos admitiram atrasos na folha de pagamento de pessoal em cerca de 1,73 meses. Os gestores de 597 (15%) de 3.958 cidades contaram que, por enquanto, não pagaram o 13º salário dos funcionários referentes ao ano passado.
— Não adianta fazer apenas reuniões com os prefeitos. Não adianta dar remédio para baixar a febre, se a pneumonia já tomou conta dos dois pulmões. Essa pesquisa mostra a gravidade em que os prefeitos do Brasil iniciarão a gestão este ano — disse o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Para Mônica Pinhanez, professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV), os números da pesquisa retratam a falta de capacitação:
— Muitos prefeitos não sabem administrar. Às vezes, nem é questão de má fé. Falta treinamento, conhecimento com questões orçamentárias. Tem município que faz fronteira com outros país ou com os próprios estados que não têm computador. A Lei de Responsabilidade Fiscal é firme. Agora, o gestor precisa aprender a gerir neste limite.
De 4.007 prefeitos que responderam, ainda que parcialmente o questionário, 2.066 (52%) são de oposição e iniciaram o primeiro mandato este ano. Deste total, 1.515 disseram ter recebido uma “herança maldita” dos antecessores. Outros 1.941 (48%) foram reeleitos ou eleitos por políticos aliados que já estavam no poder. Destes, apenas 346 admitiram iniciar o segundo mandado em situação ruim ou péssima.


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