domingo, 30 de dezembro de 2012

Recuperando a História, por Suely Caldas


Mais um ano se foi. O 2.º do governo Dilma, o 10.º de gestão petista e o 18.º de estabilidade econômica e inflação sob controle. Mesmo resumidamente, recuperar a história é bom, traz luz às novas gerações. Então, vamos lá.
Hiperinflação liquidada com o Plano Real e um programa de governo para modernizar a economia deram, há 18 anos, o imprescindível impulso para desenhar o Brasil atual. Em oito anos de governo faltaram tempo e apoio do Congresso para FHC realizar tudo o que planejou: a reforma do Estado avançou, a educação progrediu, a infraestrutura deu passos, mas faltaram as reformas política, tributária, previdenciária e trabalhista. O sistema de saúde andou pouco e o combate à pobreza só engatinhou com a criação de programas sociais, entre eles o Bolsa-Escola e o Vale-Gás, que deram origem ao Bolsa-Família.
Ao chegar ao governo, em 2003, Lula enfrentou desconfiança de empresários, banqueiros, agentes do mercado financeiro e quem mais faz girar a roda da economia. Ele seria capaz de dar continuidade aos avanços de FHC e completar as reformas? Ou daria curso às incendiárias e inexequíveis propostas do PT, como o calote na dívida pública? O pragmatismo de Lula e a habilidade política de seu ministro da Fazenda, Antônio Palocci, funcionaram e a confiança foi recuperada. Claro, Lula assimilou e adotou integralmente (sem tirar nem pôr) o modelo econômico do antecessor e prometeu completar as reformas. Para evitar a óbvia identificação com FHC, passou a adotar o bordão "nunca antes na história deste país".
Mas logo começaram a surgir os escândalos de corrupção, e com eles morriam os planos de reforma e aprofundamento do programa econômico. Primeiro foi o caso Waldomiro Diniz - assessor estratégico do então ministro José Dirceu que aparecia em fita recebendo propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira -, em fevereiro de 2004. Um ano depois, o mensalão. Depois, outros e mais outros a alimentar a convicção de que "nunca antes na história deste país" houve tanta corrupção no governo.
Os escândalos atrapalharam, as reformas foram abandonadas, mas Lula conseguiu trazer para a economia os efeitos do boom de crescimento econômico do mundo, ajudado pela ação firme e autônoma do Banco Central (BC). Os avanços no combate à pobreza foram a principal marca de sucesso do governo Lula. Pouco melhorou a qualidade na educação, a saúde foi um desastre, a economia seguia no feijão com arroz, mas ele conseguiu manter a inflação contida e com média de 5,78% nos oito anos e PIB com crescimento médio de 4%.
Errou quem imaginou que Lula escolhera um poste para esquentar a cadeira de presidente até sua volta em 2014. Dilma Rousseff começou a se diferenciar do padrinho já no discurso de posse, ao avisar que não iria tolerar a corrupção e o malfeito. No primeiro ano de governo, demitiu seis ministros acusados de corrupção, todos herdados de Lula. Na política, pouco cedeu ao troca-troca com partidos aliados e, na economia, vai-se diferenciando de Lula e FHC, introduzindo mudanças e construindo um modelo muito próximo ao que vigorou no governo militar de Geisel.
Intervenções miúdas do Estado na economia privada; endividamento do governo; proteção à indústria (sobretudo a automobilística), favorecida por tarifas de importação altas, desvalorização cambial e juros subsidiados; e uso de bancos públicos e empresas estatais (caso da Petrobrás) para controlar a inflação e estimular o consumo são identidades dos modelos Geisel e Dilma.
Tal modelo não foi capaz de estimular o investimento - nem em produção nem em infraestrutura. E, pior, tem atraído desconfiança e insegurança nos investidores em relação ao futuro, reconhecidas pelo BC em seu último Relatório de Inflação. Até os melhores feitos de Dilma - a redução da taxa de juros Selic e taxa de desemprego baixa - ficam perdidos em meio ao desânimo geral. E a disposição de fazer o País crescer a qualquer custo tem contrastado com resultados medíocres do PIB: média de 1,85% nos primeiros dois anos.
Um feliz 2013!

O fim e o começo - MARTHA MEDEIROS

Como era de se esperar, não teve fim de mundo. Mas 2012 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que senti: que este foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis. 

Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha enfrentado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2012 não passou em branco para quase ninguém. Pelo menos não para mim, nem para pessoas próximas. 

Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular. 

Qual o mundo que você precisa exterminar da sua vida? 

Sugestão: o mundo do bullying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato na internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito. 

O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto a seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em sua torre de marfim. 

O mundo obcecado do amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo. 

O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, à conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vá lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trelelé o dia inteiro, socorro. 

O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega. 

2012 prenunciou um cataclismo, só que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes e que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito? 

Então que venha um 2013 do outro mundo para todos nós.

Os limites do crescimento, por Celso Ming


Em praticamente todos os países, a política econômica está voltada prioritariamente para a criação de empregos que, por sua vez, está condicionada à geração de riquezas. Mas até quando se pode contar com o crescimento econômico?
Nas últimas semanas, a pergunta vem sendo objeto de debates na imprensa mundial com base em trabalho publicado em agosto pelo economista Robert J. Gordon, professor de Macroeconomia da Northwestern University, Cambridge, Estados Unidos.
A avaliação de Gordon é de que a contagem regressiva para um período de crescimento zero já começou. Ele parte do princípio de que o avanço econômico global desde o século 17 está associado a revoluções industriais. A primeira delas cobriu o período que vai de 1750 a 1830 e se seguiu à invenção da máquina a vapor. A segunda, entre 1870 e 1970, foi consequência da utilização intensiva da energia elétrica e do petróleo e foi marcada pela produção em série. A terceira, que teve início nos anos 60, baseia-se no avanço da informática e da Tecnologia da Informação.
Gordon entende que os ganhos de produtividade baseados na Tecnologia da Informação vão se esgotar rapidamente e que, logo depois, virá o anoitecer.
Embora entre os pressupostos da política econômica estejam os de que o crescimento econômico durará para sempre, as teorias sobre seu colapso vem lá de trás. Começaram no século 18, com o economista inglês Thomas Malthus, que chegou à conclusão de que a população mundial crescia muito mais depressa do que a produção de alimentos. Se não houvesse drástico controle da natalidade, estariam próximos os dias da grande fome e da estagnação econômica.
Nos anos 70, o Clube de Roma publicou um livro intitulado Os limites do crescimento, que provocou um vendaval. Partiu do princípio de que os recursos naturais estavam em fase de esgotamento e que, mais dia menos dia, o crescimento estancaria.
Mais ou menos no mesmo sentido, ficou famosa uma frase do biólogo americano Edward Osborne Wilson: “Precisaríamos de mais quatro planetas Terra se for para sustentar toda a população do mundo aos padrões de consumo dos Estados Unidos”.
Uma a uma, essas predições vêm sendo desmentidas – ou adiadas. A revolução verde que multiplicou a produção dos alimentos, grandes descobertas de petróleo e de matérias-primas, a reciclagem dos materiais e certo controle do desperdício foram fatores que afastaram a ideia do fim do crescimento.
É provável que a era iniciada com a Tecnologia da Informação tenha mais fôlego e mais o que dar do que imagina Gordon. Também não se pode descartar de antemão que novas descobertas (como a produção de energia elétrica a partir da fusão nuclear, há anos perseguida por importantes centros de pesquisa) inaugurem nova era de intenso crescimento.
No entanto, como aponta o Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, pouco ou quase nada sabem os especialistas e os centros de projeção sobre o crescimento a longo prazo. Provavelmente, em consequência dos seguidos desmentidos das teorias malthusianas e de variações sobre elas, a ideia dos limites do crescimento desperta pouco interesse. Mas a crise global e o alastramento do desemprego podem levar mais gente a procurar mais luz e mais respostas para a questão.