Companhias instaladas no País planejam investir R$ 21 bilhões entre 2012 e 2015, R$ 12 bilhões a menos que o previsto para 2011-2014
03 de junho de 2012 | 3h 06
RAQUEL LANDIM, RENÉE PEREIRA - O Estado de S.Paulo
Os investimentos do setor siderúrgico foram os mais prejudicados pela crise. Com uma capacidade produtiva excedente de 526 milhões de toneladas de aço espalhada pelo mundo, as siderúrgicas estão com as margens de lucro pressionadas e não têm incentivo para investir.
Levantamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aponta que as siderúrgicas instaladas no Brasil planejam investir R$ 21 bilhões entre 2012 e 2015, R$ 12 bilhões a menos que o calculado pelo banco no ano passado para o período 2011-2014 e inferior até aos R$ 28 bilhões investidos no ciclo 2006-2009.
Segundo Fernando Puga, chefe do departamento de análise econômica do BNDES, o banco está reavaliando os dados e a estimativa de investimentos das siderúrgicas que pode ser reduzida em breve. Ele explica que a maior dificuldade é que os projetos são voltados para o mercado externo, porque a produção local supera a demanda doméstica.
Um exemplo dos problemas do setor é a venda da participação da alemã Thyssen na CSA. Segundo fontes do mercado, o ativo é bom e está barato, mas vai ser difícil encontrar comprador. A Arcelor Mittal anunciou o adiamento de um investimento de US$ 1,2 bilhão na Usina de João Monlevade, em Minas Gerais, por falta de demanda no mercado externo.
"Hoje temos excedente de aço significativo até na China", diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil. Os custos de produção no Brasil também atrapalham. É necessário investir US$ 1,8 mil para cada nova tonelada de aço feita no País, ante US$ 1 mil na Índia e US$ 550 na China.
Atraso. No setor de papel e celulose, o BNDES prevê redução de R$ 2 bilhões nos investimentos, para R$ 26 bilhões, por causa dos atrasos nos projetos. A Suzano adiou investimentos de cerca de R$ 500 milhões para os próximos anos. A Fibria revisou os planos de investimentos em R$ 400 milhões, para R$ 1 bilhão.
Dois projetos da Suzano estão com o cronograma atrasado. O primeiro é a produção de pellets de madeira (insumo utilizado na produção de biomassa para a geração de energia) para abastecer o mercado europeu. O negócio depende de um sócio estratégico, que até agora não apareceu. O segundo é a fábrica de celulose do Piauí, cuja conclusão foi adiada de 2014 para 2016, dependendo da sinalização do mercado.
Na Fibria, um dos projetos afetados foi Três Lagoas 2, que está sem previsão para ser retomado. A empresa também colocou alguns ativos à venda para aliviar o nível de endividamento e melhorar a geração de caixa, combalida por causa dos preços internacionais. "As empresas tiveram de colocar um pouco o pé no freio para reduzir suas dívidas. O setor está muito alavancado e sofreu com a queda do preço da celulose e com a apreciação do câmbio", explica Felipe Reis, analista do Santander.
No setor químico, o BNDES estima uma queda de R$ 15 bilhões nos investimentos, para R$ 25 bilhões. O maior impacto pode vir do projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que está sendo reavaliado junto com o plano de investimentos da Petrobrás. Se a estatal optar por refinar petróleo leve em vez de pesado, a necessidade de investimento deve diminuir.
De acordo com Fernando Figueiredo, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), ainda não há notícias de adiamento de projetos, mas os investimentos crescem abaixo do potencial por causa do alto custo da matéria-prima e da energia.
Pessimismo. No setor eletroeletrônico, o clima é de pessimismo. Sondagem feita pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) apontou que 55% das empresas acreditam que suas vendas no segundo semestre vão ser inferiores ou iguais às realizadas na primeira metade do ano.
O BNDES prevê uma queda de R$ 4 bilhões nos investimentos do setor eletroeletrônico, para R$ 25 bilhões entre 2012 e 2015.
Segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee, os fabricantes de celulares amargam capacidade ociosa e não têm estímulo para investir, porque as exportações estão praticamente paralisadas, por causa das barreiras protecionistas na Argentina, na Venezuela e no Equador.
Entre os fabricantes de equipamentos, a perspectiva é um pouco mais otimista por causa da nova lei editada pelo governo Dilma, que dá preferência para as empresas nacionais nas licitações públicas, principalmente nas compras da Telebrás.