segunda-feira, 27 de junho de 2011

R$ 3 bi depois, por que o Rio Tietê continua tão sujo?

com arte em http://www.estadao.com.br/fotos/metropole(5).

Mesmo com investimentos, 33 bairros ainda despejam parte de seu esgoto no rio, entre eles Morumbi, Vila Mariana e Ipiranga

27 de junho de 2011 | 0h 00

Rodrigo Brancatelli - O Estado de S.Paulo













Na semana passada, mais de 300 pessoas confirmaram presença pelo Facebook no "Mergulho no Tietê", um evento criado virtualmente pelos internautas para servir de "ultimato para a despoluição do Rio Tietê e seus afluentes". O protesto está marcado para às 15 horas de quinta-feira, dia 12 de novembro... de 2021. Parece longe, muito longe, mas na realidade essa espera de dez anos não é lá muito tempo perto das décadas de promessas e investimentos desperdiçados na limpeza do Tietê.
Afinal, algum paulistano minimamente realista acredita que o rio mais importante de São Paulo estará pronto para receber banhistas em um futuro próximo? Tendo em vista que já foram gastos R$ 3 bi no tratamento do Tietê, a resposta não parece ser muito otimista.
O rio que teve grande importância na história de São Paulo, permitindo a interiorização da colonização, é desde 1970 uma lenta massa de água fétida. Para se ter ideia, 33 bairros ainda despejam parte de seu esgoto no rio, entre eles Morumbi, Vila Mariana e Ipiranga. Na Região Metropolitana, 16 cidades apresentam o mesmo problema, enquanto na Bacia do Tietê quase 250 prefeituras pouco investiram na proteção do Tietê. É mais sujeira de esgoto do que água do rio, simples assim.
Para entender a dimensão de tantos entraves, o Estado conversou com especialistas para apontar os gargalos e as boas ideias que já foram adotadas por outras metrópoles. "O Tâmisa, em Londres, demorou décadas para ser limpo, mas hoje ele tem vida", diz o engenheiro alemão Ralf Steeg, articulador do programa de limpeza do Rio Spree, em Berlim. "É possível revitalizar os rios urbanos, desde que haja vontade política. É uma questão de melhorar a qualidade de vida da cidade."  




Água no etanol


27 de junho de 2011 | 0h 00
José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
Má notícia para a presidente Dilma Rousseff: o canavial está feio no interior de São Paulo. Choveu muito no começo do ano e faltou luz para as plantas se desenvolverem. A cana cresceu pouco, vai perder produtividade. Entre si, usineiros falam em quebra de 10% da safra. Menos cana significa menos etanol e/ou menos açúcar. Ao mesmo tempo, cresce a frota de carros flex e a demanda por álcool combustível no Brasil. A combinação é inflamável.
O cenário para 2012 está sendo pintado com renovada pressão inflacionária, fermentada pelo preço dos combustíveis. No próximo ano há eleições municipais, essenciais para os partidos formarem seu cacife para o pleito presidencial (e de governadores mais Congresso) em 2014. Ano de eleição com inflação complica qualquer governante. Conter gastos e agradar o eleitor é como assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.
O plano do governo para o setor, segundo reportagem do jornal O Globo, é usar a divisão de biocombustíveis da Petrobrás para aumentar a oferta de etanol, especialmente durante a entressafra (dezembro a março). Quer que a estatal petrolífera pule de 5% para 12% da produção de álcool combustível no País. Montar apresentação em PowerPoint é fácil, plantar dezenas de milhares de hectares de cana do jeito certo, nem tanto.
Basta recordar o caso da Brenco. Formada com capital de US$ 1 bilhão e comandada por um ex-presidente da Petrobrás, a empresa fez planos para construir uma dezena de usinas novas em regiões de terra mais barata, onde não havia experiência prévia com plantação de cana. Os dólares foram enterrados, mas nenhum saco de açúcar ou litro de álcool surgiu deles. Foi um dos maiores fiascos da história do agronegócio.
"Tomamos uma posição porque este ano houve elevação grande do preço do etanol. Não houve escassez do produto. Mas, se não agirmos agora, pode haver crise semelhante com o preço do álcool no próximo ano", disse o ministro Edison Lobão ao Globo. A frase revela que seu autor entende tanto de agricultura quanto de física quântica.
A safra de 2011 está parcialmente colhida. A de 2012 já está em grande parte plantada. Nada que o governo decidir agora terá efeito relevante sobre elas. Se Lobão e companhia quiserem evitar que a falta de etanol provoque alta dos preços dos combustíveis em 2012, precisarão importar gasolina ou álcool dos EUA. E torcer para que a crise econômica norte-americana continue, ou os EUA podem não ter excedente para exportar. Ou seja, o que é bom para Barack Obama pode não ser bom para Dilma, e vice-versa.
O presidente norte-americano disputa sua reeleição no próximo ano e depende de a economia do seu país se recuperar para ele ganhar de volta a popularidade perdida. Até agora Obama não tem tido sucesso em seus estímulos econômicos. O carro continua parado, mas isso não quer dizer que o motor não acabe pegando no tranco após um dos muitos empurrões do governo.
Estado de alerta. A mais recente pesquisa Datafolha sobre o governo Dilma e a visão dos brasileiros sobre a economia acendeu uma luz amarela. A popularidade da presidente não caiu, mas as pessoas estão ficando pessimistas, acham que os preços vão continuar a subir e têm mais medo de perderem o emprego. Expectativas desse tipo são autorrealizáveis (consumidores desconfiados consomem menos). Some-se escassez de algo que tem impacto profundo na economia, como combustíveis, e o que era ruim pode ficar pior.
Como a história recente de EUA e Brasil confirmam, o bolso é a parte mais sensível do eleitor. A oposição tem mais chances de ganhar quando a economia não vai bem.
No caso de Dilma, inflação com baixo crescimento pode implicar não apenas dificuldades para os candidatos petistas a prefeito. Significa mais problemas com o PMDB. Os aliados estão atentos a qualquer sinal de fraqueza da presidente para aumentar o preço da sua fatura. Comportam-se como vírus oportunista à espreita do enfraquecimento do sistema imunológico do hospedeiro.
Mas pode ser que os investimentos de empresas como ETH e Petrobrás em regiões menos castigadas por São Pedro frutifiquem dentro do cronograma previsto e acima do volume esperado, pode ser que o ministro Lobão se mostre um novo Einstein e pode ser que o mercado seja inundado de etanol barato. Afinal, quase toda semana um sortudo ganha na Mega Sena. 


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quem segue quem


20 de junho de 2011 | 0h 00
José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
Pesquisadores do comportamento há muito identificaram a tendência humana de pinçar evidências que sustentam seus pontos de vista e ignorar o resto. O chamado "viés de confirmação" permite às pessoas manter suas crenças caninamente mesmo diante de sólidas provas em contrário.
Vai além do comportamento individual. Mais do que "defeito" ou "qualidade", é uma arma evolutiva, refinada por gerações e gerações. Associado a outras obras da seleção natural, como o raciocínio e o poder de argumentação, o "viés de confirmação" torna-se poderoso sistema de convencimento de uma pessoa ou de um grupo sobre os demais. Esse é o reino da política partidária.
No processo de sobrepujar o partido adversário, o grupo no poder (ou em busca dele) realimenta suas convicções ouvindo-se a si mesmo e alienando as opiniões oposicionistas. É a fermentação do dissenso. Quem já gastou horas ouvindo discursos no plenário da Câmara e do Senado sabe que a teoria se aplica à prática política no Brasil. Mas como medir isso?
Com ajuda do jornalista Daniel Lima, do estadão.com.br, identificamos quem os ministros do governo federal seguem em suas contas no Twitter. Trata-se de uma rede social digital em que cada usuário é seguido por qualquer um entre milhões de participantes, mas escolhe quem vai seguir. O tuiteiro não filtra quem lê suas mensagens, mas seleciona as de quem ele lê.
O objetivo é usar o Twitter para revelar conexões políticas e buscar um padrão de comportamento coletivo. O primeiro passo foi somar os pontos em comum: quais são as contas do Twitter que mais ministros tuiteiros acompanham. O segundo, constatar quem eles não seguem.
Para filtrar as 4.589 ligações, selecionamos as contas seguidas por pelo menos cinco ministros tuiteiros. Sobraram apenas 29. Elas exemplificam um padrão que se repete para as demais: 62% são contas de outros membros do governo ou de petistas. Os 38% restantes são jornalistas. Perfis da oposição são exceções que confirmam a regra.
Dos 16 ministros estudados, 13 seguem @DilmaBR, a representação de sua chefe. Não é de espantar que seja o ponto mais em comum entre eles. Surpresa é que os outros três - Guido Mantega (Fazenda, do PT), José Leônidas (Portos, do PSB) e Mario Negromonte (Cidades, do PP) - não acompanhem a conta criada para Dilma Rousseff durante a campanha presidencial. Talvez porque tenha caído em desuso desde a posse.
Em segundo lugar, com 9 seguidores cada um entre os ministros tuiteiros, estão dois petistas, @Mercadante (ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia) e @zedutra13 (José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e da Petrobrás), e dois jornalistas, @BlogdoNoblat (Ricado Noblat) e @luisnassif (Luis Nassif).
Com 8 seguidores aparecem @blogdilmabr e @padilhando, o perfil do ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT). Cinco perfis somam 7 ministros seguidores: @blogdapetrobras, @helenachagas (ministra da Comunicação Social), @MarceloBranco (responsável pela campanha de Dilma Rousseff nas redes sociais em 2010), @Paulo_Bernardo (ministro das Comunicações) e @ptnacional.
Excluídos os perfis de jornalistas (veja a lista completa no blog voxpublica.com.br), surgem com 6 seguidores: @ptbrasil, @ricardoberzoini (deputado federal, PT-SP) e @vaccarezza (Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, PT-SP).
E com 5 os petistas @DrRosinha (deputado federal), @LindberghFarias (senador), @tarsogenro (governador gaúcho) e @pauloteixeira13 (líder do PT na Câmara dos Deputados), além de @dilmanarede.
Com 727 mil seguidores no Twitter, @joseserra_ é acompanhado por apenas dois ministros: o peemedebista Edison Lobão e Helena Chagas, que era jornalista antes de virar ministra e, como tal, adquiriu o hábito de seguir políticos de vários partidos.
Se o Twitter for uma amostra do comportamento dos políticos, a tendência é ouvirem muita gente que tem a mesma opinião que eles, e captarem uma parcela do ponto de vista dos adversários através do filtro da imprensa.
Nesse cenário de mais do mesmo, é surpreendente o elogio público de Dilma a Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Menos por reconhecer a importância histórica do antecessor, e mais por esboçar um diálogo que implica não ignorar argumentos que contrariem suas convicções. Se non è vero è ben trovato.