terça-feira, 28 de setembro de 2010

A despoluição do Tietê


26 de setembro de 2010 | 0h 00
     O Estado de S.Paulo
Seus resultados surgem com lentidão e muitas vezes nem são percebidos pela população, mas, num país que parecia conformado com paralisações e cancelamentos de projetos de governo por razões eleitorais ou por incapacidade gerencial, o Projeto Tietê, de despoluição do principal rio que atravessa a região metropolitana de São Paulo, se transformou num modelo de política pública de longo prazo. Iniciado em 1992 pelo governo do Estado de São Paulo - depois de um amplo movimento popular liderado pela Rádio Eldorado e pelo Jornal da Tarde -, o programa entra agora na terceira das quatro etapas em que foi dividido.
Não há prazo para tornar o Tietê um rio limpo e utilizável para diferentes atividades, de lazer a transporte, como é hoje o Tâmisa, na Inglaterra, cujo programa de despoluição é considerado exemplar. A secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, diz apenas que, se até 2020, o Tietê estiver totalmente livre do esgoto sem tratamento que tem sido lançado em suas águas, "será um grande avanço".
De fato, será, pois, sem esgotos, as águas correntes se recuperarão. Desde já, porém, se pode afirmar que uma parte significativa desse avanço foi conquistada. O dado mais recente, mostrado na reportagem sobre o Tietê publicada no Estado de quarta-feira, é a redução da mancha de poluição do rio em aproximadamente 40 quilômetros nos últimos oito anos, período em que foi executada a segunda etapa do projeto.
É um avanço bem menor do que o registrado na primeira etapa, quando a mancha de poluição foi reduzida em 120 quilômetros. Mas, à medida que o projeto avança, seus ganhos tendem a ser menores.
No início, os resultados surgiram com mais rapidez. Na primeira fase foram construídas três estações de tratamento de esgotos (ETEs), com capacidade para tratar 7 metros cúbicos por segundo, e foi ampliada, de 7 mil para 9 mil metros cúbicos, a capacidade da ETE Barueri. Foi também ampliada a rede de coleta de esgotos.
Na segunda etapa, foi dada ênfase às obras de coleta e condução dos esgotos até as ETEs, para utilizar toda a capacidade de tratamento já disponível. De acordo com a Sabesp, nessa etapa o índice de coleta de esgotos na região metropolitana de São Paulo foi elevado de 80% para 84% dos domicílios e o índice de tratamento dos esgotos coletados, de 62% para 70%. Além disso, cerca de 400 milhões de litros de esgotos deixaram de ser lançados diariamente na Bacia do Alto Tietê.
Nos últimos 18 anos, foram investidos no projeto o equivalente a US$ 2,5 bilhões. A terceira etapa contará com US$ 600 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e mais US$ 200 milhões de recursos próprios da Sabesp. A meta é, até 2016, elevar o índice de coleta para 87% dos domicílios e o de tratamento, para 84%. Para isso será preciso construir 580 quilômetros de coletores-tronco e 1,25 mil quilômetros de rede coletora. As ETEs em operação terão sua capacidade aumentada em 41%, ou seja, poderão tratar mais 7,4 metros cúbicos por segundo.
Parte das obras da terceira etapa já está em plena execução, com recursos antecipados pelo BID em condições menos favoráveis do que o empréstimo convencional, mas considerados necessários para evitar a interrupção do projeto. Entre as obras em execução está o coletor-tronco de 15,5 quilômetros na margem esquerda do Córrego do Ipiranga, ao longo das Avenidas Ricardo Jafet e Abraão de Moraes e da Rodovia dos Imigrantes.
Embora não integrem o projeto de despoluição do Tietê, pois tiveram como objetivo conter as enchentes, as obras de aprofundamento da calha do rio, que contaram com financiamento do Japan Bank for International Cooperation, também beneficiaram o rio, ao aumentar significativamente sua vazão.
Se um dia for considerado limpo, o trecho metropolitano do Tietê poderá ser explorado economicamente, para o transporte de mercadorias e para o lazer, em passeios nos barcos, imaginam engenheiros especializados em recursos hídricos e ambientalistas. Talvez esse dia não esteja tão distante. 


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Brasileiro toma R$ 3 bi por dia emprestados



  • 22 de setembro de 2010 | 
  • 10h35 | do JT
Categoria: Crédito
Gisele Tamamar
Os bancos emprestaram R$ 701,1 bilhões para os brasileiros até julho. Um valor 19,2% maior do que registrado no mesmo período do ano passado – quando o saldo foi de R$ 587,9 bilhões – e equivale a uma média de R$ 3,3 bilhões em crédito por dia. Na avaliação dos especialistas, a alta é impulsionada, principalmente, pelos financiamentos imobiliários, pela compra de automóveis e também pelo crédito consignado.
De acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, o aumento do crédito reflete o bom momento da economia e deve continuar em expansão nos próximos meses. “Do ponto de vista do consumidor, esse cenário é bom porque aumenta o poder de compra e possibilita o financiamento da casa própria e a compra do carro, por exemplo”, destaca.
Oliveira também lembra que enquanto os prazos para pagamentos estão maiores, as taxas de juros estão em queda, resultado de uma maior concorrência no sistema financeiro, redução da inadimplência, normalização do mercado externo e o bom cenário econômico nacional. Em agosto, a taxa média para pessoa física atingiu o menor índice desde 1995: 6,75% ao mês, conforme a Anefac.
O professor da FGV-Eaesp, José Pereira da Silva, destaca que o aumento do crédito possibilita a melhora do padrão de vida das pessoas, mas é importante se preocupar com as taxas de inadimplência. “As estatísticas do Banco Central mostram que a inadimplência está em queda, mas não me sinto seguro para afirmar que essa tendência vai continuar”, afirma.
Segundo o professor, a população de baixa renda tem carências de consumo e é constantemente bombardeada com anúncios para estimular a compra.
Uma família com renda mensal de R$ 1,5 mil compromete 70% do valor com três necessidades básicas: transporte, alimentação e moradia. “O que sobra é muito pouco. Por isso, é importante ter um bom controle para não se endividar com facilidade”, orienta.
A analista financeira, Andreza da Silva, 29 anos, precisou recorrer ao crédito para tornar viável a compra de um apartamento de R$ 110 mil. O financiamento corresponde a 80% do preço do imóvel, que será quitado em 16 anos com uma taxa de 10% ao ano.
Enquanto ela era inquilina, gastava R$ 650 por mês com aluguel. Com a compra do imóvel, a despesa saltou para R$ 1.350. O que possibilitou a “troca” foi o aumento salarial de 20% conquistado em 2009. “O aumento de salário foi primordial para que eu pudesse assumir um valor maior que o aluguel que eu pagava”, diz.

Eles moram sozinhos e são grandes consumidores



Carolina Dall’Olio
Eles são solteiros, divorciados ou viúvos. Priorizam o trabalho e, como resultado, têm mais chances de ascender profissionalmente. Os salários costumam ter como único destino seu sustento e bem-estar. Pelo comportamento, perfil de consumo e também pelo papel cada vez mais relevante que desempenham na economia, eles estão modificando rapidamente a cara da cidade.
Hoje, 7,194 milhões de brasileiros vivem sozinhos, 1,645 milhão deles no Estado de São Paulo. É como se, num edifício com 100 apartamentos, 12 fossem ocupados, cada um, por um único morador. Em menos de uma década, o grupo dos sozinhos cresceu mais de 50%. E só tende a aumentar. “Com mais renda e mais emprego, muitos jovens podem sair da casa dos pais ou então mudam de cidade em função do trabalho”, justifica Maria Lucia Vieira, coordenadora da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad/ IBGE). “O envelhecimento da população e profissionalização da mulher, postergando o casamento, também reforçam a tendência.”
As pessoas que vivem sós reúnem características que combinam muito bem com o desenvolvimento econômico de uma cidade. Independentemente da renda que têm, o que chama atenção em seu perfil é a maneira como gastam seu dinheiro. “Diferentemente dos casados, esse público tem menos compromissos financeiros, como escola dos filhos ou mesmo o sustento de outro cônjuge”, explica Renato Trindade, que coordenou uma pesquisa da Bridge Research sobre os solteiros paulistanos. “Portanto, têm um poder de consumo maior.”
Eles investem apenas em si. Por isso, quando a relações públicas Paloma Costoya, de 25 anos, mudou de emprego e passou a ganhar “bem mais”, ela logo soube para onde iria o dinheiro extra: para as prestações da casa própria (hoje ela paga aluguel) e para as muitas baladas do fim de semana. Paloma gasta cerca de R$ 500 por mês só para se divertir. “Eu sou solteira e trabalho tanto que, quando tenho um tempo livre, quero mais é aproveitar”, argumenta. Mesmo assim, ainda sobra dinheiro para custear sozinha todas as despesas do apartamento em que mora no Ipiranga e também para financiar a próxima casa em que pretende viver.
Consumidores como Paloma têm transformado o mercado imobiliário paulistano. Antes dominada por lançamentos com três ou quatro dormitórios, a cidade agora começa a assistir uma multiplicação dos imóveis menores, de um dormitório. De acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi-SP), foram entregues 1.632 unidades na capital no primeiro semestre de 2010, um crescimento de 371% em relação ao mesmo período do ano passado.
“O mercado imobiliário é o mais impactado por esse público, mas o setor de comércio e serviços também está se modificando em função deles”, afirma Luiz Goes, sócio da consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza. Nos últimos cinco anos, a indústria já reduziu a embalagem dos alimentos pela metade do tamanho original. A oferta de serviços para atender a esse público – desde novos restaurantes, bares e boates até pacotes de turismo especificamente direcionados a solteiros – também não para de crescer.
Paloma gasta seu sinheiro com diversão e prestação da casa própria (Foto: Paulo Pinto/AE)
Paloma gasta seu sinheiro com diversão e prestação da casa própria (Foto: Paulo Pinto/AE)