26 de setembro de 2010 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo
Seus resultados surgem com lentidão e muitas vezes nem são percebidos pela população, mas, num país que parecia conformado com paralisações e cancelamentos de projetos de governo por razões eleitorais ou por incapacidade gerencial, o Projeto Tietê, de despoluição do principal rio que atravessa a região metropolitana de São Paulo, se transformou num modelo de política pública de longo prazo. Iniciado em 1992 pelo governo do Estado de São Paulo - depois de um amplo movimento popular liderado pela Rádio Eldorado e pelo Jornal da Tarde -, o programa entra agora na terceira das quatro etapas em que foi dividido.
Não há prazo para tornar o Tietê um rio limpo e utilizável para diferentes atividades, de lazer a transporte, como é hoje o Tâmisa, na Inglaterra, cujo programa de despoluição é considerado exemplar. A secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, diz apenas que, se até 2020, o Tietê estiver totalmente livre do esgoto sem tratamento que tem sido lançado em suas águas, "será um grande avanço".
De fato, será, pois, sem esgotos, as águas correntes se recuperarão. Desde já, porém, se pode afirmar que uma parte significativa desse avanço foi conquistada. O dado mais recente, mostrado na reportagem sobre o Tietê publicada no Estado de quarta-feira, é a redução da mancha de poluição do rio em aproximadamente 40 quilômetros nos últimos oito anos, período em que foi executada a segunda etapa do projeto.
É um avanço bem menor do que o registrado na primeira etapa, quando a mancha de poluição foi reduzida em 120 quilômetros. Mas, à medida que o projeto avança, seus ganhos tendem a ser menores.
No início, os resultados surgiram com mais rapidez. Na primeira fase foram construídas três estações de tratamento de esgotos (ETEs), com capacidade para tratar 7 metros cúbicos por segundo, e foi ampliada, de 7 mil para 9 mil metros cúbicos, a capacidade da ETE Barueri. Foi também ampliada a rede de coleta de esgotos.
Na segunda etapa, foi dada ênfase às obras de coleta e condução dos esgotos até as ETEs, para utilizar toda a capacidade de tratamento já disponível. De acordo com a Sabesp, nessa etapa o índice de coleta de esgotos na região metropolitana de São Paulo foi elevado de 80% para 84% dos domicílios e o índice de tratamento dos esgotos coletados, de 62% para 70%. Além disso, cerca de 400 milhões de litros de esgotos deixaram de ser lançados diariamente na Bacia do Alto Tietê.
Nos últimos 18 anos, foram investidos no projeto o equivalente a US$ 2,5 bilhões. A terceira etapa contará com US$ 600 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e mais US$ 200 milhões de recursos próprios da Sabesp. A meta é, até 2016, elevar o índice de coleta para 87% dos domicílios e o de tratamento, para 84%. Para isso será preciso construir 580 quilômetros de coletores-tronco e 1,25 mil quilômetros de rede coletora. As ETEs em operação terão sua capacidade aumentada em 41%, ou seja, poderão tratar mais 7,4 metros cúbicos por segundo.
Parte das obras da terceira etapa já está em plena execução, com recursos antecipados pelo BID em condições menos favoráveis do que o empréstimo convencional, mas considerados necessários para evitar a interrupção do projeto. Entre as obras em execução está o coletor-tronco de 15,5 quilômetros na margem esquerda do Córrego do Ipiranga, ao longo das Avenidas Ricardo Jafet e Abraão de Moraes e da Rodovia dos Imigrantes.
Embora não integrem o projeto de despoluição do Tietê, pois tiveram como objetivo conter as enchentes, as obras de aprofundamento da calha do rio, que contaram com financiamento do Japan Bank for International Cooperation, também beneficiaram o rio, ao aumentar significativamente sua vazão.
Se um dia for considerado limpo, o trecho metropolitano do Tietê poderá ser explorado economicamente, para o transporte de mercadorias e para o lazer, em passeios nos barcos, imaginam engenheiros especializados em recursos hídricos e ambientalistas. Talvez esse dia não esteja tão distante.